─ Bruna? – Eu ouvia uma voz me chamando longe. – Bruna, querida, acorde.
Aos poucos, minha cabeça foi voltando para o lugar, eu me sentia tonta. Era como se eu tivesse de ressaca, mas eu tinha quase certeza de não ter bebido nada. Não conseguia reconhecer o lugar onde estava. Nem a pessoa que falava comigo.
Forcei a vista. A visão foi focando. Até que reconheci Doutora Fabíola. Mas o que ela estava fazendo na minha casa? Olhei ao redor. Não. Eu não estava em casa. Será que eu tinha tido um surto psicótico? Eu estava internada? Foi então que me dei conta. Era pior. Carlos Eduardo fora sequestrado. Comecei a me tremer.
─ Bruna. Calma. – Doutora Fabíola me segurou. – Você está dormindo a vinte e quatro horas. Você vai precisar se acalmar e comer alguma coisa, ok? – Eu não tinha a menor intenção de fazer nada disso. – Se você não fizer isso, Bruna. Não terei escolha. Vou precisar te internar.
Fiz que não com a cabeça. Se eu ficasse internada, não teria notícias tão cedo. Eu precisava de notícias.
─ Que bom! – Ela fez um carinho no meu rosto. Minha reação era a resposta que ela esperava de que eu estava entendendo. – Seus anfitriões já estavam preocupados com você, querida. – Só então vi que Seu Vitório e o irmão de Kadu estavam na porta do quarto. – Mas eu expliquei que essa era uma reação natural ao remédio que lhe dei.
─ Já encontraram? – Perguntei.
─ Ainda não, Bruna. Mas a polícia está agindo. – O pai de Kadu respondeu carinhosamente.
─ Agora escute aqui, mocinha. – Doutora Fabíola retomou a minha atenção. – Você vai se levantar. Tomar um banho. E vai comer, ouviu? – Fiz que sim com a cabeça. – Você entrou em estado de choque. E está bem fragilizada. Então, apesar do que aconteceu com o Kadu, - a simples menção ao nome dele me deu vontade de chorar, meus olhos se encheram de lágrimas – nós vamos cuidar de você.
─ Isso, Bruna. – Carlos Henrique veio sentar na beirada da cama. Eles eram tão parecidos que doía. – Você ajudou bastante. Já estamos no rastro dos bandidos... – Notei que ele ficou sem jeito em dizer essa palavra. Ele sabia que minha mãe estava envolvida.
─ Eu vou passar para você uma medicação mais leve, ok? Você não vai se sentir tão sonolenta. Nem tão desesperada. – Ela explicava com calma. – Mas não podemos relaxar do tratamento. Ou a doença vai voltar pior ainda. – Eu podia sentir isso pelo meu corpo inteiro como uma verdade absoluta. – Portanto, quero que você mantenha a sua rotina normal. O máximo possível. Trate de comer, ir à escola e se exercitar. – Nesse momento, eu achava isso impossível de ser feito. Minha vontade era sentar no sofá de casa e chorar, chorar, chorar, até que alguém tivesse alguma notícia. – Isso vai ajudar a organizar sua mente.
─ Certo, doutora. – Eu disse meio que no automático.
─ Vou repetir, Bruna. Você está à beira da histeria. Além do outro quadro. – Teve a gentileza de não mencionar minha bulimia nervosa na frente da família de Kadu. – Portanto, estarei de olho. Ou você faz o que estou pedindo, ou nós chegaremos ao extremo da internação.
─ Pode deixar, doutora. Nós vamos tomar conta dela. – Seu Vitório sorriu para mim.
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Por Onde Andei
Ficção AdolescenteNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...