Bruna - Muito bem

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─ Muito bem. – Para o meu desespero, ele limpou o resto do meu batom na sua boca com um lenço. – Agora você vai me dizer o que foi isso?

Nem nos meus piores pesadelos o imaginei tão frio. Ele não estava tímido, ele estava zangado. Muito pior do que a cena com a Soraya. Eu não sabia o que fazer.

─ Se você pretende colocar isso na coreografia, esqueça! Não vou beijar ninguém em rede nacional. Eu me preservo. Além disso, você tem namorado.

Eu poderia ter aproveitado a deixa e inventado mil histórias. Mas acontece que eu estava bem cansada desse sentimento. E não sou mulher de deixar escapar o que eu quero por medo ou por vergonha. Aproveitei que ele estava com cabeça baixa e o puxei para mais um beijo.

Dessa vez, não o soltei enquanto ele não retribuiu. Não costumo perder sem tentar. Ele estremeceu. Só então cedi. Ele ficou olhando para mim com a maior cara de pastel.

─ Bruna...

─ Você quer saber o que é isso? – Eu estava exaltada. Nervosa. Com medo. – Eu digo. Isso sou eu tentando te mostrar que gosto de você...

─ Bruna...

─ Bruna. Bruna. Bruna. Esse é o meu nome. E eu já sei. Fala outra coisa, garoto.

─ Eu... – Ele ficou vermelho de novo. – Desculpa, eu...

─ Desculpa? – Não. Eu não queria desculpas. Não de novo. Não agora. – Desculpas não. Guarde suas desculpas para outra ocasião. Eu quero um beijo, uns amassos, um "amo você também", quem sabe?

─ Amor... – Ele parecia atordoado. Passou a mão pelos cabelos. – Bruna, você está confundindo as coisas...

─ Não, Kadu. – Eu não queria ouvir uma conversa sobre dança de salão e proximidade física. Eu não estava confundindo nada. – Eu te amo. – Queria controlar meus sentimentos. Queria fingir como eu sempre fiz. Mas eu não conseguia e as lágrimas começaram a fugir.

─ Bruna... – Ele se aproximou devagar e com carinho enxugou as lágrimas. – Como é que você pode gostar tanto de mim assim? Você nem me conhece direito.

Não o conheço? Ele podia ter logo enfiado uma faca no meu coração. Eu sei tudo sobre ele...

Bem, talvez eu não saiba o que ele come de manhã. Nem entendo aqueles desenhos japoneses de que ele fala com Mariana vez em quando. Mas eu sei o perfume que ele usa. Sei que quando está nervoso, ele para um instante e respira fundo. E sei que ele dorme todo enroladinho, que nem criança. Sei mais, sei que só vou ser feliz com ele. E que tem uma possibilidade bem grande de que se ele me der uma chance, eu consiga fazê-lo feliz.

─ Bruníssima, você está somente entusiasmada com a mídia. Com essa revista idiota. – Ele segurava meus ombros. – Eu continuo o mesmo. Não sou melhor por causa dessas fotos.

Ele vem falar isso para mim? Entusiasmada? Eu sei muito bem o que é imagem. Praticamente nasci nesse meio. Fiz aula de etiqueta. Sessões com fonoaudiólogo. Metade da minha semana é dedicada a cuidar do corpo e dos cabelos. Eu sei o que é uma imagem. Eu tenho uma.

Jamais me apaixonaria pelo que aparece na televisão. Mas Carlos Eduardo estava muito mais interessado em acreditar que eu era uma daquelas garotinhas com uma revista na mão pedindo um autógrafo. Idiota.

Não pude fazer nada. Ou eu desistia ou me humilharia mais. E ainda corria o risco de ele me recusar. Eu não aguentaria isso.

─ Tudo bem, Carlos Eduardo. – Consenti humilhada. – Você me perdoa pela intromissão? – Forcei a educação. E sorri. Quanto não me custou esse sorriso.

─ Perdoar pelo que, Brunolina? – Ele brincou. Estávamos ambos constrangidos.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora