Dançar com a Milena foi diferente. Eu nem sei dizer. Ela dança bem, bastante bem. Lembro que chegou a fazer aulas com a Professora Eleonora, mas nunca levou muito a sério. Acho que sempre preferiu o balé.
Gostei demais da experiência, mas... Deixa pra lá!
Ela tem porte de bailarina. Tem elegância. Foi muita gentileza fazer isso por mim. E eu gostei de tê-la em meus braços. Sentir o cheiro do seu cabelo e a maciez da sua pele. Isso foi maravilhoso.
Entretanto, aconteceu uma coisa esquisita. Eu senti falta da Bruna. A cada movimento que Milena fazia, eu só pensava na forma que Bruna o executaria. E a verdade é que ela faria com muito mais paixão. Bruna tem uma determinação contagiante. Apaixonante. Avassaladora. Isso me arrebata. Isso me faz melhor.
Engraçado pensar, depois de tanto tempo sonhando em dançar com Milena dessa forma, que eu sou melhor dançarino com uma pessoa que não tem absolutamente nada a ver comigo.
Aliás, acho que o "não a ver comigo" está em moda. Depois da dança, assinei revistas e bati fotos. Juro que a minha vontade era me enfiar terra adentro. Eu não combino nem um pouco com esse estilo galã. Não sei como a Bruna aguenta tanta exposição o tempo inteiro.
Senti mais falta ainda dela nesse momento. Com certeza, ela me daria apoio e seguraria a minha mão com força como faz antes das apresentações para me passar sua confiança.
Essas meninas malucas passaram a mão na minha bunda, me beliscaram, me convidaram para sair, me perguntaram um milhão de vezes se eu tenho namorada. Não posso definir em poucas palavras o quanto tudo isso me deixou constrangido.
Foi com um grande alívio que peguei o carro para ir para o escritório. Trabalhar, hoje, provavelmente, seria a melhor parte do meu dia. Claro que eu estava errado. Assim que cheguei, minha mãe me esperava na porta.
─ O que foi que eu fiz?
─ Não precisa dessa acidez toda, meu querido. – Minha mãe beijou minha testa. – Estou apenas feliz com a repercussão da entrevista. Todos os nossos parentes já ligaram para dar os parabéns. Você está lindo!
Ela me mostrava as fotos, como se eu ainda não as tivesse visto. Eu com figurino da primeira apresentação. De costas. Mão nos quadris. Calça jeans. Camiseta. O tigre escapando pelo ombro. Sapato bicolor. Chapéu. Encarava a câmera. O fotógrafo era bom, tenho que admitir. Nem parecia eu, nada daquela foto mostrava a minha timidez de sempre.
Assim fica fácil produzir um príncipe encantado e deixar mulheres histéricas. Uma foto mentirosa e a fortuna da minha família em letras garrafais. Eu não acredito em nada disso.
─ Mãe, tira esse negócio da minha frente. Não aguento mais tanta badalação por conta de umas fotos.
─ Por que, Carlos Eduardo? Você deveria estar achando ótimo. A Atmosfera vai dobrar de faturamento por causa dessa revista.
─ Não sei como.
─ Meu querido, você é tão jovem. – Ela riu. – Aprenda a enfrentar a vida com todas as armas que tem. Se ela te deu um limão, você toma uma dose de Tequila, entendeu?
─ Não...
─ Sei que você é tímido. – Ela acariciou meu rosto com carinho. – É assim desde bebê. – Eu beijei a mão dela. – Era também a criancinha mais doce de todas. Um menino amável e educado. Tenho tanto orgulho de você. Tanto.
─ Mãe... – Eu já estava vermelho.
─ Pois bem, querido, já que você resolveu dançar para ajudar seus amigos na academia, não vejo mal nos aproveitarmos da situação. Uma mão lava a outra. Principalmente por causa do tempo que você perde. Tempo é dinheiro.
─ Não acho que a divulgação nessa revista será assim tão eficiente... – Cortei o discurso de mamãe que eu já conhecia decorado. – Acho que é mais transtorno do que retorno.
─ Querido, todas as quintas e sextas deste mês e do próximo estão fechados com aniversários de adolescentes. Todas exigem a sua presença. – Fiquei tão embasbacado com a notícia que engasguei. As palavras não saíam. Essas meninas queriam dançar comigo? Comigo? Elas pagariam para dançar comigo. Eu, o cara mais normal do mundo? Como foi que se interessaram tão rápido por mim? – Você é um príncipe, é o que a revista diz. E nada, meu amor, vende mais do que um sonho.
─ E desde quando eu sou o sonho de alguém, mamãe? Eu nem tenho namorada.
─ Para começo de conversa, - ela puxou minha orelha se fingindo de zangada – você e o seu irmão foram os meus sonhos mais bonitos que eu consegui realizar.
─ Ah, mãe! A senhora sabe do que estou falando...
─ Kadu, você não precisa ser o sonho de ninguém para vender revistas. Para vender qualquer coisa, na verdade. Você só precisa parecer ser...
Ela estava certa. Nosso negócio é o entretenimento. Gosto é algo que não nos compete. Nós trabalhamos com o que está na moda. Com o que vende. Eu sou o produto da estação.
Ainda tenho muito a aprender sobre administração. E sobre a vida também. Muito mesmo.
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Por Onde Andei
Novela JuvenilNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...