Entendo completamente que ele tenha se chateado comigo, mas nada justifica esse comportamento ofensivo. Nem ele, nem ninguém, tem o direito de me tratar como uma qualquer. Ainda que eu fosse uma qualquer. E, para bater a real, até elas merecem respeito.
Depois daquilo, simplesmente me virei e o deixei falando sozinho. Tirei o figurino, lavei o rosto e peguei meu carro. Não vi se o dele estava estacionado ou se já tinha ido. Eu estava me lixando para Carlos Eduardo.
Fui ao shopping. Dei umas voltas. Assisti a um filme. Nada como o cinema para desanuviar as ideias. Voltei para casa outra. Muito mais senhora de mim.
Carlos Eduardo estava me esperando sentado na porta do meu apartamento.
─ Bruna, você me desculpa? – Levantou apressado quando me viu sair do elevador. – Eu fui um idiota.
─ Foi mais do que isso, você foi um insensível grosseiro!
─ Fui. – Baixou a cabeça envergonhado. – Não sei de onde aquilo veio. Você me perdoa?
─ Ah! Mas eu sei exatamente de onde isso veio. – Eu o encarava de igual para igual. Mão na cintura. Pezinho batendo de nervoso no chão. Mas, de cima de um salto alto. – Vem da terra dos garotos machistas! Um lugar onde uma garota que curta dar uns beijos e amassos é chamada de vagabunda! Sexo, então, é uma passagem direta para o inferno!
─ Você tem toda razão! – Ele me encarava com os olhos muito abertos de espanto. Demorou a responder. – Admito que fui idiota a esse ponto. Como você mesma disse, eu também estava lá e não estava achando nem um pouco ruim para ficar te julgando...
Eu não fazia ideia de que ele concordaria comigo. Estava preparada para uma batalha cheia de insultos e ele me desarmou. Respirei fundo e abri a porta. Ele entrou atrás de mim.
─ Olha, Kadu, você está sendo um fofo me ajudando com esse negócio de namoro... – Continuei a falar enquanto entrava no meu quarto e jogava minha bolsa na cama. Ele ainda estava na sala. – Eu sei que é chato para caramba. Foto. Pose. Paparazzi. Acho até que já extrapolei minha cota com você. – Soltei meu cabelo. Tirei o salto alto e voltei para sala. – Por isso mesmo, acho que está na hora de acabarmos com essa brincadeira antes que alguém se machuque de verdade.
─ Bruna, será que você não percebe? – Ele veio sentar do meu lado. Segurou meu ombro. – O motivo de estarmos discutindo hoje é porque ontem foi real demais. Quando você pediu para parar, eu me dei conta de que eu não tinha a menor intenção de fazer isso. Por isso, fiquei tão chateado. Porque os beijos não foram de verdade, porque o que nós estávamos sentindo não passava de uma brincadeira.
─ ... – Depois dessa, não soube nem o que fazer. Fiquei calada.
─ Estar com você essa tarde e continuar a fingir, foi difícil demais. – Tirou os óculos de grau. Pude encarar os olhos azuis dele sem nenhuma defesa. – Realmente, eu não quero mais continuar com essa brincadeira.
─ Certo. – Não aguentei e baixei o olhar.
─ Mas também não tenho ideia de como eu vou conseguir me afastar de você... – Ele levantou meu rosto delicadamente com a mão.
─ Você está brincando com fogo, Kadu. – Arranjei força para uma última defesa. – Eu não sou fácil de lidar. – Avisei.
─ Do jeito que eu estou aqui, Bruna, não tem mais volta, eu vou me queimar. – Conduziu meu rosto para um beijo. E eu o beijei.
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Por Onde Andei
Ficção AdolescenteNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...