Carlos Henrique - Nós avisamos à polícia

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─ Nós avisamos à polícia que não queremos intervenção. A vida do meu irmão vale demais para ser negociada. Nós vamos simplesmente pagar o preço que for pedido. – Coube a mim dar a entrevista ao jornal local sobre o sequestro do Kadu.

Fui instruído em cada palavra. Esperávamos que os sequestradores estivessem ouvindo. Delegado Talleires estimava que só ligariam depois de uma semana, se estivessem se sentindo seguros. E, para isso, nossa família, que não é dada a exibições públicas, precisaria mostrar a cara em sinal de desespero.

A essa altura, já sabíamos que Bruna estava certa. A polícia puxava o fio da vida pregressa de Nico da Jurema com delicadeza para descobrir o local do cativeiro. Tínhamos esperança de encontrar Kadu até o fim de semana.

Era preciso manter as aparências. Então, eu estava atuando.

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Bruna - Mais insólito do que a escola

Mais insólito do que a escola foi a dança. Eu estava na final da Dança das Celebridades. Supostamente, eu me apresentaria no domingo. Eu tinha impressão que se continuasse desse jeito estaria morta até lá. Pelo menos, eu ia preferir estar.

Seu Vitório veio me deixar. Contou histórias no carro sobre como seus filhos eram travessos quando eram meninos, roubando moedas do caixa ou correndo por aí com garrafas de cerveja. Tentei sorrir.

Na aula, Serginho me levava para lá e para cá no som do bolero. A música me ajudava a pensar. O esforço para controlar os movimentos do corpo direcionava o pensamento. Eu estava assimilando a coreografia. Mas fingir, atuar, mostrar diferentes expressões faciais era pedir muito.

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Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora