Carlos Eduardo - Vasculho as redes sociais procurando por ela

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Vasculho as redes sociais procurando por ela. Tenho mil coisas para fazer, papéis para assinar, estoque para conferir, meu pai não sai do meu pé, daqui a pouco tenho que ir à emissora provar os figurinos com a Bruna, mas eu não consigo. Preciso dar uma boa olhada nela. Essas férias estão me matando. Não ver o rosto de Milena todos os dias é uma tortura ainda maior do que vê-la nos braços do namorado.

Encontro o seu perfil. Nós somos amigos virtuais. Ela nunca me manda mensagens. Já achei muito ter aceitado a solicitação de amizade. Vejo suas fotos na piscina com o irmão. O coração dispara. Ela no shopping com as amigas. Um sorriso lindo. Que garota mais incrível! Não consigo parar de pensar nela.

Será que um dia vou ter uma chance com essa menina? Será que um dia vou pelo menos me declarar? Será que vou colocar para fora esse negócio aqui dentro que me incomoda mais do que dor de dente?

Fico olhando para o retrato na tela do computador e pensando no sonho impossível de passear com Milena pela orla, tomar água de coco, assistir a uma peça de teatro ou aos filmes de Coppola.

─ Guri, tu ainda não desistiu dessa garota?

Carlos Henrique entrou no meu escritório sem a menor cerimônia. Meu irmão mais velho veio nos visitar essa semana. Como ele sabe que me irrita essa coisa que gaúcho tem de só falar gauchês, carrega no sotaque. Na verdade, nossa família é de Brasília, mas ele n teve essa mania de pegar o sotaque da região em que estamos. Gostou tanto de Porto Alegre e do jeito típico do povo que, quando nos mudamos, resolveu ficar administrando as casas de lá.

─ Eu gosto dela, Caê.

─ Isso todo mundo parece notar. Menos ela.

─ E o que é que você tem com isso?

─ Nada. – Ele sorriu para mim com aqueles dentes brancos enormes. – Já estou acostumado com o choro sentido do meu irmãozinho bebezinho... – Puxou minha bochechas como se eu fosse criança. Ele adorava tirar uma com a minha cara. Aliás, lá em casa, eu era a diversão. Todos pareciam muito à vontade na hora de opinar sobre a minha vida.

─ Ela tem namorado. – Justifiquei sem precisar.

─ E você vai abrir os panos por causa disso? Aguenta o repuxo, guri!

─ Que tal se a gente falasse o mesmo idioma?

─ Você sabe muito bem o que eu estou dizendo. – ele se sentou no sofá a minha frente todo esparramado.

Não sei como dois irmãos conseguem ser tão diferentes. Não fisicamente. Somos até parecidos, mas ele é bem mais forte do que eu. E corta o cabelo na máquina zero. Eu, se raspar o cabelo desse jeito vou ficar parecido com alguém que fugiu do hospital. Mas os olhos azuis da mamãe são os mesmos, assim como as mãos do papai.

Em todo o resto, somos diferentes. Ele é dinâmico. Parece que já nasceu dono do seu próprio negócio. Dentro da Atmosfera de POA, ele é um rei. São as casas que mais dão lucro. Caê tem ideias fantásticas para festas temáticas. Parece que ele sente o que os jovens querem. Não há um dia que a casa não lote.

Acho que ele ficou com o melhor tanto da mamãe quanto do papai. Porque não é somente na interação que ele faz acontecer. Pergunte qualquer coisa sobre administração ao meu irmão que ele responde, do estoque de papel higiênico às multas cobradas por descumprir leis ambientais. Ele poderia dar palestras sobre o assunto no auge dos seus 25 anos.

─ Kadu, você não vai nem tentar? – Ele me encarava com aqueles olhos muito azuis. – O que é que pode acontecer? – Eu levar um fora federal? Milena nunca mais querer olhar na minha cara. Ele adivinhou meus pensamentos – Quem sabe se você levar um fora não é melhor? Você fica jururu por uns tempos, mas depois supera.

─ Já lhe ocorreu que eu não queira superar.

─ Guri, tu sempre foste um teimoso.

─ Olha quem fala...

─ Não disse que eu também não sou. É de família.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora