Epílogo - Bruna

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Em janeiro, conseguimos um tempinho na agenda para namorar. Estava de folga das gravações de um filme, as aulas do mestrado de Kadu só começariam em fevereiro e o Zeca curtiria suas primeiras férias com os vovós em Porto Alegre.

Saímos para o cinema, depois jantar e... A noite me parecia uma criança. Sete anos, dois apartamentos e um filho depois, ainda apreciávamos o contato físico mais do que a média regular das pessoas. Graças a Deus! Nossa cama não esfriara nunca.

Eu estava ansiosa para mostrar os movimentos de Pole Dance que andara aprendendo para minha nova personagem, mas Kadu me surpreendeu com violinos, champanhe e um diamante do tamanho do dente de leite recém-caído do Zequinha.

─ Brunésima, Brunetilde, Bruneca, Bruníssima, Bruna "Amor da minha vida" Drummond, você me dá a honra de ser a minha esposa? – Kadu não era mais nenhum menino, mesmo assim, gostava de se divertir às minhas custas. Então, demorei a perceber que ele estava falando sério. Ele se ajoelhou na minha frente em um restaurante lotado. As pessoas aplaudiram.

─ Claro... Claro que sim. – Gaguejei. Na hora, nem sabia ao certo o que aquilo significava, uma vez que, para mim, nós já éramos bem mais do que marido e mulher, nós éramos uma família.

Seis meses depois, eu me dei conta onde havíamos nos metido. Uma festa de casamento. E todo o desespero, horror e ranger de dentes que ela acarreta. Até cogitamos uma coisinha simples na praia. Dona Débora vetou. Disse que já que só iria casar um filho em vida, e isso foi sim uma indireta para Carlos Henrique que estava na sala e continuava solteiro, que fosse do jeito certo.

O jeito certo envolvia quatrocentas pessoas, um sommelier, guardanapos de renda valenciana e um quarteto de cordas. Não me opus. Aprendi a confiar a minha vida àquela mulher. E ela era um fenômeno de cuidado, carinho e dedicação. Queria ser com Zeca boa parte do que ela conseguia ser com seus meninos.

O fato é que os trompetes soaram às sete da noite de uma terça-feira (casar em dia de semana é mais chique, segundo Dona Débora, os convidados demonstram a importância dos noivos com a presença, mesmo sabendo que o dia seguinte é de trabalho), na igreja mais badalada da cidade, com o padre mais requisitado do momento. Tudo isso à minha espera.

Não foi o meu vestido ricamente ornamentado em bordados feitos à mão, nem a decoração chiquérrima que meu gosto de suburbana fã de coxinha jamais seria capaz de escolher, nem a presença ilustre de famosos e pessoas importantes como o governador que me emocionaram. Não. O casamento nunca foi para mim um sonho. Um objetivo de vida. Por mim, poderia ser um papel assinado no cartório que estava de bom tamanho. O importante era o noivo. Aquele noivo ali me esperando com um sorriso incrível no final da nave. O homem que eu conheci menino. E que me fez mulher. Carlos Eduardo me recebeu com um beijo.

─ Você está linda! – Disse emocionado. E eu tremi. Tremi por ainda sentir o ar faltar na presença dele.

Meu Kadu era lindo. Não tinha mais dezenove anos. Estava mais largo. Mais forte. Mais homem. Mais meu. Mas ainda conservava os olhos azuis cristalinos de menino sincero e querido. Os olhos que Deus permitiu que fossem também os do nosso filho, como uma lembrança eterna do meu compromisso de fazer aquela criança feliz em todos os sentidos.

─ Bruna Gabrielly de Oliveira Drummond, você aceita Carlos Eduardo Meireles Dávila como seu legítimo esposo? – O padre me perguntou.

─ Faz parte. – Respondi. O padre ficou sem entender nada, mas Kadu sorriu e disse no meu ouvido.

─ Faz parte.

Logo depois respondi que aceitava e a cerimônia continuou. Tradicionalíssima. Então, chegou a hora das alianças. Zeca veio pela nave da igreja, todo de terninho, carregando uma caixinha com os anéis símbolo da nossa fidelidade. Olhei para o meu filho, maior de todos os presentes. Olhei para aquelas pessoas reunidas ali, os pais amorosos de Kadu que me acolheram, minha madrinha, meus colegas de profissão, familiares e funcionários, tanta gente que nos queria bem. Finalmente, olhei para o homem que agora era meu marido. Lembrei cada noite de exaustão em que ele embalou Zeca. Dos beijos de bom-dia. Do sexo. Das lavagens de louça. Das brigas. Das pazes. E agradeci a Deus.

Eu não entendia porque as coisas davam sempre tão errado na minha vida, mas compreendi ali, no meio de tanta gente, que foi a maneira que Deus encontrou de deixar tudo perfeito.

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⏰ Última atualização: Jan 24, 2018 ⏰

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