Carlos Eduardo - Depois de uma tarde de pesquisa

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Depois de uma tarde de pesquisa, descobri muitas coisas sobre o funk. Seu surgimento nos Estados Unidos, a influência do hip hop, a batida das baterias de escola de samba brasileiras. O funk era um grande caldeirão de culturas e não apenas um estilo de música vulgar.

Estava ansioso para encontrar com Bruna. Ainda não sabia onde ela pretendia me levar para ouvir funk em plena segunda-feira. Mas como estávamos no período de férias, eu suspeitava que se fôssemos aos lugares certos, não seria difícil encontrar um batidão.

─ Muito bem, mimadinho. – Quase perdi meu fôlego. Bruna, com um shortinho minúsculo, um salto enorme e uma maquiagem deslumbrante, aparecia loira do meu lado. – Passa para o banco do passageiro. – Foi logo entrando no meu carro. – Vamos, Kadu. Não quero que ninguém nos veja.

─ Você sabe dirigir, Brunoca? – As pernas dela pareciam não acabar mais. Eu me peguei olhando mais do que deveria.

─ Não. Vou aprender agora. – Ela me deu língua.

Bruna mal esperou que eu colocasse o cinto de segurança para passar a primeira. Demorou um pouco para ela se acostumar com o meu carro. Ela, provavelmente só andava naquele esportivo dela. Que deveria ser automático. Lá em casa, nós nunca comprávamos carros de luxo, minha mãe me ensinou desde cedo que esse tipo de comportamento atrai olhares perigosos, como ladrões e sequestradores. Todos os nossos carros eram populares.

─ E o disfarce? Para que serve?

─ Você quer estar do lado de uma artista de televisão no meio de uma comunidade?

─ Você nunca vai me responder uma pergunta de maneira adequada?

─ Você nunca vai me perguntar algo que não seja óbvio?

Ela dirigiu por mais de meia hora. Não faço ideia de onde nós estávamos. Era uma periferia. Estacionou o carro numa via de pouco movimento.

─ Daqui nós vamos a pé. – Desceu e jogou a chave nas minhas mãos.

─ Bruna, não é perigoso?

─ Kadu, - ela veio puxar minha mão – você acha que eu nunca fiz isso antes?

─ Acho que você é maluca.

─ Vamos, riquinho. É só um laboratório. Já fiz isso várias vezes para compor personagens. É só agir naturalmente. Não faça cara de panaca que vai dar tudo certo. – Ela riu, segurou meu braço e começamos a subir.

Nós subimos por mais quinze minutos por vielas escuras, ninguém nos dava duas olhadas. Ela dava risadas e me abraçava, nós parecíamos namorados indo para a festa. Confesso que estava nervoso, mas também gostava do contato com Bruna. Eu nunca tinha reparado bem em como o corpo de Bruna era escultural. Aquele short mexia mais comigo do que eu imaginava. E o pior é que eu ainda não tinha visto nada.

Ao entrar na festa, Bruna simplesmente enlouqueceu ao som da batida. Deu um gritinho e foi para a pista. Rebolou até o chão. Jogou os braços para cima. Aquele era o seu habitat natural. Não dava para negar. Ela estava muito feliz.

Eu reparava nas pessoas. O modo como os caras dançavam. Era diferente. Era confiante. Eles pegavam as meninas pela cintura e iam com elas até lá embaixo num gingado sensual. Elas gostavam. Havia desejo no ar. Nem tudo era vulgar como achei que fosse. Eles também executavam passos acrobáticos. Muitas referências de Hip Hop, de break.

─ Tá gostando, playboy? – Bruna chegou perto de mim se rebolando. – Olha, vou ter de grudar em você, tá? Se não aparece algum engraçadinho. E você já viu que o negócio aqui não é brincadeira, não é?

─ Fato. Acho que aquela menina ali acabou de engravidar. – Levantei a vista e encarei um casal grudado. Ela riu.

─ Que foi, bonitinho? Está com medo de mim? – Ela me provocava. Estava me puxando para a pista. Travei.

─ Não sei dançar assim...

─ Improvisa. – Jogou o cabelo na minha cara num passo sensual. A temperatura subiu pelo menos cinco graus. – Vamos, garoto. Menos técnica e mais movimento. – Colocou a minha mão em torno da sua cintura e desceu comigo até embaixo como os outros casais estavam fazendo.

Respirei fundo.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora