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↬𝐀𝐍𝐍𝐄 | ♛
Abro os meus braços em uma posição ligeiramente nada confortável, deixando eles esticados para permitir acesso a parte lateral do meu corpo.

Tentava não pensar na primeira ultrassom enquanto milhões de mãos de costureiros tiravam medidas ou qualquer coisa do tipo, e o desconforto de ter que ficar naquela posição de fato era nada bem-vindo, mas mesmo assim não fazia aquelas lembranças passaram.

Essa ultrassom não tem nada demais, para falar a verdade, a maioria das mulheres não tem nenhum desconforto com ela, mas eu tive. Me explicaram que era por ter dois fetos que fazia ficar mais isso ou mais aquilo, por eu ser muito nova posso ter me assustado e ter sido algo puramente psicológico, e ainda rolou um "é porque você teve a sua primeira vez a pouco". Ok, não vem ao caso, mas não foi a coisa mais legal ter um negócio entrando no meu canal vaginal.

Roy teve que segurar a minha mão o tempo todo, porque eu realmente não estava me sentindo nem um pouco confortável com a situação, acho que era nervosismo, e nem pude abrir os meus olhos para ver Rilla e Walter pela primeira vez, só abri quando escutei o coraçãozinho deles batendo, o eco da perfeição da humanidade para cada mãe. Foi a primeira vez que eu senti que estava realmente carregando não só uma, mas duas vidas em mim.

Imaginem a surpresa (ou desespero) de uma garota de dezoito anos, recém coroada, vivendo um pesadelo ao lado de um homem perfeito, mas que não conseguia amar, longe do pai verdadeiro de seu suposto único filho, descobrir que na verdade estava carregando gêmeos. Pois é, não dá nem para descrever o quão surreal aquele sentimento foi, porque ele era totalmente ambíguo.

De certa forma, tomei certo trauma depois daquela ultrassom. Sabia que dessa vez, levando em consideração que tenho tudo o que não tinha da última, deve ser mais tranquilo, mas isso não conseguiu sair da minha cabeça. Naquela época eu estava muito assustada, extremamente assustada com a maternidade. Apenas dezoito anos. Eu não tinha ideia do que eu deveria saber, muito ao menos como agir ou reagir, enquanto Roy já tinha dado um jeito de aprender praticamente tudo. Acho que foram essas que me fizeram abominar aquela primeira ultrassom, junto com o desconforto.

Odeio a ansiedade por causa disso. Eu estou ansiosa, com o meu coração palpitando só de imaginar que isso irá acontecer daqui algumas horas. Parecia que meu coração secretava ansiedade, fazia tudo ao meu redor parecer mais devagar ou mais rápido, mas definitivamente me deixar mais ansiosa. Eu temia que dessa vez acontecesse a mesma coisa, mas tentava respirar fundo falando que tudo iria ficar bem, que iria ser diferente, que Gilbert estaria lá.

Gilbert.

Eu definitivamente fui muito tola em achar que ele ao menos fosse respirar fundo e dançar conforme a música, porque ele simplesmente não é assim, e está certo em não ser. Eu sou a errada na história, eu sempre vou ser. Independente do que Radinho diga para mim, essa vai ser sempre a verdade, verdade que Gilbert volta a me mostrar em cada olhar ou fala de desprezo. Era isso. Ele me desprezava, me desprezava com razão. Estava no direito dele, sempre vai estar.

O ver dessa forma é o pior castigo. Ele me desprezava. Se ele, Gilbert Blythe, a melhor pessoa do mundo, diga-se de passagem, me desprezava, por que eu também não faria o mesmo? Vai ver esse é o meu problema. Eu danço conforme a música.

Era horrível, porque eu justamente tentei fazer ele viver a paternidade que ele não pôde viver na gravidez de Rilla e Walter, e eu achei que talvez, lá no fundo, ele pudesse esquecer todo o resto de mim e se focar apenas no meu útero, na minha barriga, no nosso filho, mas não. Eu consegui tirar até isso dele, e era desgastante continuar tentando o devolver algo que comecei a pensar que ele nem quer mais.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora