Road Trip III - Shirbert e Anne with an E

161- Treinando o Papai

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   Gilbert ainda sentia o peso de Rilla sobre si.

   Ainda escutava as tentativas falhas de respirar, enquanto ele ajeitava-a no seu colo apenas para não caírem, sentindo os braços dela envolvendo seu pescoço como se pudesse roubar um pouco do oxigênio dele para si.

   Gilbert queria tanto que pudesse.

   Adentrou aquele hospital em passos tão apressados que não soube nem o que fazer, quando lembrou-se que era um Imperador, atualmente estampado em todos os jornais do mundo.

   Mas, como recordou que ainda era o Imperador e sua filha ainda era a princesa, achou que bastava para atenderem sua menina logo, o deixarem acompanhar, quando a puseram rapidamente na maca, com os enfermeiros se reunindo a sua volta, fazendo procedimentos com tanta pressa, que Gilbert quis se aproximar, ver o que estavam fazendo com sua Merida, segui-los quando simplesmente a levaram pelo hospital adentro e deixaram ele ali.

   Não adiantou muito. O homem aprendeu mais uma vez que as pessoas ainda tentavam fazer pais ficarem calmos, tomarem uma água, simplesmente se sentarem e esperarem, sejam eles Imperadores ou não.

   Se ao menos soubessem o quanto ele já havia esperado naquela vida.

   Nunca mais deixaria Rilla chegar perto de qualquer alimento, sem antes checar se havia qualquer mínimo resquício de peixe; se prometeu. Carregaria injeções em seus bolsos, tanto para ela, tanto para Walter, assim como levaria seus caçulas para testarem alérgia novamente e, se necessário, carregaria mais injeções em seus bolsos, por eles.

   Não precisava de mais um filho seu com choque anafilatico, com sua garganta fechando e a pele se tornando vermelha, chorando de desespero. Definitivamente não precisva correr o risco de perder mais um.

   Gilbert achava que estava quase tendo um desses também, trancado em uma cabine do banheiro, como tantas vezes havia feito nos últimos dias, tantas vezes que não gostava nem de lembrar delas. Todos os sintomas checavam. O choro desesperado, a pele avermelhada, a garganta parecendo se fechar. Mas ninguém viria o ajudar. Ninguém o colocaria em uma maca e o ajudaria a respirar. Ninguém simplesmente o ajudaria a respirar. E, a única pessoa que talvez conseguisse, já não estava mais ao seu alcance.

   Não sabia o que era pior; estar sozinho sob o controle de suas crianças, ou se dar conta de que estava e tudo já havia dado errado.

   A impotência de saber que não havia se passado nem uma semana, transpassava no arquejar de seu corpo a cada soluço que tentava conter com sua mão. Como sobreviveria uma vida inteira, se não conseguiu sobreviver nem uma semana?

   O medo o paralisou. O sentimento de desespero havia abalado qualquer um de seus sentidos. Seria mais fácil se só sua vida estivesse sob sua responsabilidade. Não se importaria tanto se fosse apenas ela. Mas tinha seus filhos, uma delas em uma maca, um deles digerindo sozinho uma verdade difícil demais, o outro sendo um pequeno levado que reconhecia sua saudade pela mamãe, mas não se lembraria de praticamente nenhum momento com ela, e as outras duas que só ouviriam sobre quem um dia chamaram de "mamãe" e involuntariamente amaram.

   Havia uma vida inteira pela frente. A vida deles inteira pela frente. Deveria ser grato por ter cinco das sete pessoas mais importantes para si nessa vida. Mas a vida parecia estar sendo tão ingrata com ele, que Gilbert não queria mais se arriscar nela.

   Mas saiu daquela cabine, jogou água gelada em seu rosto e olhou-se no espelho, respirando fundo e soltando o ar pelo seu trêmulo lábio inferior, tentando mascarar todo o tsunami de sentimentos que havia o afogado, antes de voltar para a recepção do hospital, vazia à essa hora.