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↬𝐀𝐍𝐍𝐄 | ♛
Em dez anos, quase onze, eu nunca deixei Rilla e Walter sozinhos. Eu nunca tive essa coragem. Não importava, sempre tinha alguém no palácio para tomar conta deles. Poderia ser Diana, Ruby, Moody, Jerry, Cole e até mesmo tio Matthew e tia Marília... mas sempre tinha alguém confiável, alguém que se importava com a proteção deles tanto quanto eu me importo.

Eu sempre levava eles nas viagens, inclusive, diminui a quantidade delas quando eles entraram na escola, porque era muito complicado ter que ou ficar levando professoras e os por para ter aula no hotel, ou muito complicado ficar assistindo aula pela internet.

Era sempre medo, muito medo, que me motivava a essas hiper proteções de vez em quando, e deixar eles sozinhos ainda me incomodava. O que eu posso fazer? Sou apenas uma mãe e uma mãe em posição extremamente perigosa.

Entretanto, a praticamente três horas atrás, deixei eles sozinhos, e pedi para me ligarem se precisassem de ajuda. Nunca imaginei que eu que precisaria considerar pedir ajuda para eles.

Imagina duas pessoas sujas. Mas extremamente sujas mesmo. Com comida grudada por todo o seu corpo. Que a cada mínima mexida caía pedaço no chão. Pronto, você descobriu a Imperatriz do Império Franco-Escocês e o Rei da Alemanha. Incrível, não é?

Entretanto, deixa eu piorar só uma pouco a estória. Estávamos sentados no chão da sala. Sentamos sem nem perceber, mas claramente também sujamos terrivelmente esse local, local que estava nos escondendo. Havíamos trancado a porta, e agora ou nós ríamos ou ficávamos a beira das lágrimas, porque não tínhamos idéia de como iríamos sair daqui.

Mas, só para finalizar, também estávamos com a barriga muito mais do que cheia, principalmente Gilbert. Só a visão da comida já nos trazia uma careta, porque não aguentávamos nem comer, cheirar ou ver ela. Porém, aqui estávamos nós. Cheios de comida nos nossos corpos.

- A culpa é sua. - murmurei com uma cara de desgosto ao passar minha mão pelo meu rosto e tirar uma crosta de bolo misturado com calda e cobertura. -

- A culpa é minha? - questionou indignado ao meu lado. - A culpa é sua!

- Foi você que começou. - rebati. -

- Foi você que foi irritante primeiro.

- Primeiramente, foi você que não me ajudou. - apontei gesticulando com a mão como se fosse óbvio. -

Sim, voou um pedaço de bolo quando eu mexi as mãos.

- Foi você que não me deixou comer o quanto que eu queria. - falou, agora ele achando que era óbvio. -

No caso, ele comeu mais do que queria inclusive.

- Você é muito orgulhoso para admitir. - cruzando os braços, conclui incrédula como se fosse causa perdida. -

Sim, a sensação dos braços sujos cruzados não foi boa.

- Você é muito teimosa para admitir. - retorquiu imitando a minha intonação. -

Realizamos juntos um resmungo de irritação, revirando os olhos e bufando. Ao fim, apenas levamos o olhar um ao di outro ao mesmo tempo e tomamos fôlego.

Um sorriso fluiu que nem uma corrente elétrica pelos meus lábios que levemente se elevaram cansados. Era impossível não fazer isso quando se tinha Gilbert Blythe coberto por uma mistura de calda de chocolate, bolos e cobertura variados, além de docinhos esmagados em seus cabelos, mas acho que ele teve que concordar comigo, porque também vi um sorriso crescendo muito timidamente pelos seus lábios, quase imperceptível.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora