101- Compadre

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Maldito seja o clima bom que firmou-se na Alemanha!

O céu estava levemente coberto por nuvens, como se nunca houvesse caído uma tempestade sequer dele, a neve havia sumido como se tivesse sido apenas uma ilusão e o frio foi-se com uma promessa de posterior, mas demorada, volta, e Gilbert resmungou observando isso da varanda de seu quarto.

Na realidade, não era isso que observava. Estava apoiado no parapeito, como se seu medo de altura jamais tivesse existido, vigiando de cima as crianças que brincavam no jardim, ou melhor, usavam arco e flechas no jardim, porque professora Bertha Marília finalmente estava tendo o momento de sua vida.

Gilbert virou-se de volta para o quarto, inquieto igual estava no decorrer das últimas horas, agarrando um livro no justo objetivo de sair daquela prisão mental que criou para si, saindo pelos corredores e tentando ser educado ao minimamente acenar para os incontáveis funcionários que passavam o reverenciando.

   Seus pés o guiaram até o jardim, descendo as escadas e tendo todos os seus sentidos arrebatados pelo clima de diversão que preenchia o local, desde as risadas incontroláveis de Rilla até os pedidos por cuidado de Déli que sorria para não rir também, perante as flechas que Noah jurava tentar por no alvo, mas sempre caiam diretamente no chão, com se estivessem desanimadas ou cansadas demais para chegarem lá.

Gilbert sentou-se à mesa redonda um pouco afastada, onde havia uma imensidade de doces atribuídos à sua esposa, donde ele roubou um bombom, recostando-se folgadamente na cadeira e abrindo seu livro, mesmo que seu olhar continuasse protetivo acima de suas páginas, prestando atenção em tudo que acontecia à sua frente.

   Participando da rodinha de Déli, Rilla, Walter e Noah, Anne sentava-se de pernas cruzadas na grama, com Nan e Di em seu colo e Jem correndo por aí, como sempre amou fazer. Seu marido observou que a mulher camuflava-se entre as crianças, como se ela própria, com suas amplas risadas, fosse uma delas. Passaria facilmente por uma delas e conseguiu fazer Gilbert sorrir ao vê-la em seu habitat natural.

Via numerosos indivíduos se queixando da honestidade da futura geração, ou de sua energia jamais efêmera, mas ela considerava ser mais fácil estar com a inocência infantil do que com a malícia madura.  E Blythe observava isso com júbilos olhos, tentando utilizar a imagem de sua amada Anne, como um espécie de suavização para seu estado de espírito.

— Mas eu não posso brincar com vocês, poxa? — levantando quase obrigada, Anne perguntou em forma de reclamação risonha. —

— Não, mamãe. Vai ficar com o paispalho. — Rilla mandou a empurrando impaciente. —

— Tenho certeza que Noah adoraria que eu ficasse brincando com vocês. — ela riu, trocando um olhar cúmplice com o garoto que devolveu a risada e concordou. — Viu só?

— Sua presença evita que Rilla acabe atirando em mim, majestade.

Com Déli alegando que encarregava-se de cuidar disso, Walter dando um "tchau, mãe", impaciente igual a sua irmã que a olhou incrédula e reclamou com um "mãe!", Anne rendeu-se em concordância, deixando que Jem ficasse brincando com eles também, mas levando Nan e Di consigo, sentando-se na cadeira ao lado do seu marido e rindo em negação.

   — O livro tá ao contrário. — avisou ajeitando o objeto da forma certa. —

Gilbert só então deu-se conta disso, rapidamente adequando sua mão ao livro na posição correta e fingindo que nada aconteceu ao fingir lê-lo muito concentrando.

— O pai de vocês é uma figura. — a ruiva segredou ajeitando as meninas em seu colo. —

   Nan e Di riram aceitando a confidência de sua mamãe, rindo mais ainda quando papai as olhou falsamente incrédulo com a ousadia das duas, as quais acabaram por parar em seu colo, recebendo cosquinhas em suas barrigas.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora