164- Um ano depois

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   Gilbert deitou-se de uma vez só no sofá, sentindo seu corpo agradecer, mesclando-se com o tecido branco, como se tivessem sido feito um para o outro.

   Respirou fundo a fragrância de baunilha que o aromatizador dava à sua casa, abrindo seu olhos e apenas encarando o teto, pensando qual subtom de branco ele era. Branco gelo? Branco neve? Achava que ninguém nesse mundo saberia dizer, mas empenhou-se em achar essa resposta, como um cientista procurando saber como o universo começou e como acabaria.

   Era difícil fugir de seus próprios conturbados pensamentos.

   Indo contra o pedido de seus músculos, ergueu-se e observou a sua volta. Não havia nenhum brinquedo espalhado pelo tapete felpudo da sala, todos eles perfeitamente guardados nas caixas organizadores, que ficavam ao alcance das crianças, no móvel da TV. A casa possuía um agradável cheiro, após ele limpá-la por quase a tarde toda. A mesa do jantar já estava posta, e a comida pronta, só precisando ser esquentada, quando fosse a hora de comer.

   Após pouco mais de um ano, Gilbert ainda não havia se acostumado com o silêncio de Wannsee, sem nenhuma poluição sonora, a não ser seus filhos, em um complicado conflito de idade. Dois adolescentes de quinze, quase adentrando no Ensino Médio; um menino de cinco, quase seis anos, fazendo uma complicada estreia na escola primária; e duas pequenas de três, quase quatro anos, aprendendo o que é ir à creche.

   Era raro não ter nada para fazer naquela casa, ou não ter nada nem ninguém para ouvir. E, sinceramente, provavelmente era a primeira vez que Gilbert se viu naquela situação, tendo um tempo para si, escutando apenas Mercury ressoando perto da porta de entrada.

   Não confiava em si mesmo sozinho com seus pensamentos.

   A primeira coisa que fez foi ver o horário em seu relógio. Quatro e pouca da tarde. Ainda demoraria pelo menos duas horas, três, até Diana buscar Rilla, Déli e Jem na escola, Nan, Di e Delphi na creche, e Walter no Palácio, onde recebia suas aulas e acompanhava tio Moody como uma espécie de aprendiz, vendo como era o dia à dia de um Imperador regente, esperando sua vez chegar.

   A segunda coisa que fez foi conferir se realmente não havia mais nada para fazer. Mas, de qualquer forma, mesmo com tudo estando em perfeita ordem, alinhou os porta retratos, pôs e repôs a mesa, colocou um pouco da comida na palma de sua mão e provou, apenas para conferir se estava temperada direito...

   E a terceira coisa que fez foi olhar novamente o relógio. Não havia se passado nem cinco minutos.

   Pensou em ligar para Cole e Harry, mas desistiu da ideia, quando lembrou-se que provavelmente já era madrugada na agitada Nova Orleans. Ficaram alguns meses morando consigo, ajudando com as crianças, com a casa, com... tudo. Mas havia chegado a hora de Gilbert dar seus próprios passos e eles os deles.

   Cole havia ido em busca de sua inspiração, algo que há mais de um ano não via. Eram raras as vezes que o homem estava pondo em prática suas habilidades artísticas, e, geralmente, quando tentava, o papel continuava em branco. E Harry, além de precisar de novos ares, algo novo para fotografar, estava indo em busca de sua irmã. Era mais fácil achá-la já estando daquele lado do globo.

   Então, o que havia sobrado para Gilbert foi fazer certo carinho em Mercury, compreendendo a quietude do cachorro, que ficava lamuriando, até a porta se abrir e as crianças entrarem para brincarem consigo. Mas, de qualquer forma, dessa vez foi apenas um afago na cabeça do Golden Retrivier, porque logo Blythe estava abrindo a porta e saindo, para se direcionar a casa ao lado.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora