144- Telefone fixo

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚  
   Gilbert murmurou fechando mais fortemente os seus olhos, rolando na cama para tentar se esconder dos raios virgens Sol que ainda nascia, mas já o fazia desfavor de o acordar.

   Até que ele esqueceu do pequeno detalhe que não havia nada o impedindo de se ver no chão, tipo, dois segundos depois. Talvez fosse o universo o obrigando a acordar; ele pensou em um lento raciocínio de quem ainda estava preso no mundo delicioso dos sonhos, mas que se tornava um pesadelo quando se voltava para a realidade.

   Após mais alguns minutos deitado no chão, Gilbert resmungou erguendo minimamente o seu olhar para alcançar o relógio na cabeceira de madeira; cinco e meia da manhã. Com as janelas abertas permitindo que uma brisa matutina viesse misturada com o cheiro docemente salgado da maresia, ele honestamente se questionou:

   Por que raios eu deixei as cortinas abertas?

   Dessa vez abaixou seu olhar, se vendo agarrado em Finho, o Golfinho, e acabou por suspirar, ainda piscando lentamente com o cheiro de baunilha tão agarrado a pelúcia quanto ele agarrado ao bichinho. Realmente, o fundo do poço estava diferente. Já se imaginou de muitas formas, agora, abraçado em um Golfinho de pelúcia era demais até para ele.

   Quem estava tentando enganar? Conseguiu dormir quatro horas completas abraçado com Finho, provavelmente a maior quantidade dos últimos meses inteiros. Esperava que Jem, Nan, Di, Rilla e Walter não se importassem, porque agora faria o Golfinho de refém, pelo bem de sua noite de sono.

   É, e ele não estava conseguindo enganar ninguém com isso, de novo. Assim que seus pequenos pedissem a pelúcia para dormir envolvidos pelo cheiro de baunilha, ele daria sem nem pestanejar.

   Até que tudo pareceu se juntar de uma vez só em sua cabeça.

   Janelas abertas, cortinas abertas, Rilla, Walter, pequenos...

   A lembrança de que era vinte e três de abril o fez se levantar com seus pés se embolando um no outro até quase cair, mas conseguiu se equilibrar a tempo, deixando Finho e suas cobertas emboladas em cima da cama e saindo correndo pelo corredor nada largo, descendo as escadas nada largas e suspirando em alívio quando encontrou a nada larga cozinha vazia.

   O que ele esperava? Era cinco e meia da manhã! Rilla e Walter jamais acordariam cinco e meio da manhã.

   Gilbert abriu a porta da casa, deixando que a brisa refrescasse o local onde passaria as próximas horas do seu dia. Por um instante, após coar um pouco de café, se deixou contemplar a natureza a sua volta, recostado na batente da passagem e dando um gole no líquido quente, admirando o contraste do canto dos pássaros acordando, com o zumbir das folhas tremulando, e do mar batendo nos rochedos da Escócia.

   — Bom dia, Noite Estrelada. — sussurrou oferecendo um brinde ao Sol antes de se virar para começar sua tarefa do dia. —

   Algum tempo depois, ele já repreendida Nan, Di e Jem por estarem tentando roubar comida da mesa, principalmente das pequenas meninas de dois anos e oito meses que ainda tentavam pegar os alimentos na base da bagunça, tendo que limpar suas mãos sujas do chantilly que agraciava os waffles e, de quebra, ainda limpar os resquícios do creme que se espalhou por todos os cantos, quando elas pegaram.

   — Tem que sobrar alguma coisa para os seus irmãos. — Gilbert lembrou em um sussurro para os três, tentando os levar para o caminho empático de dividir comida. —

   — Tudo bem, papai. — Jem falou dando de ombros, desviando o olhar e cruzando os braços ao dissimuladamente completar com o seu queixo erguido: — Sabemos que Rilla e Walter são os seus pre...

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora