157- Cianeto

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Isso é a vida real?

Isso é apenas fantasia?
Preso em um deslizamento
Não há como escapar da realidade

Abra seus olhos
Olhe para os céus e veja
Eu sou só um pobre garoto
Eu não preciso de compaixão
Porque eu venho fácil, vou fácil
Um pouco alto, pouco baixo
Qualquer caminho que o vento sopre
Não importa de verdade para mim
Para mim

— Bohemian Rhapsody - Queen

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   Gilbert ajeitou suas mãos no volante, sentindo observar a cena de fora de seu corpo, sentindo que estava agindo no automático, esperando que a imagem da estrada iluminada pela lua transpasasse o vidro e engolisse o todo daquele motorhome.

   Dirigia em uma vagareza que chegava a ser perigosa, mas não conseguia ao certo se importar com isso, assim como não conseguia se importar ao certo com o fato de possivelmente estar desregulando o sono de suas crianças. Pareciam estar em dois universos completamente diferentes, duas regiões afastadas pela realidade e pela ilusão doce, mas quase cruel, de uma felicidade eterna que crianças costumam cultivar em suas imaginações.

   Gilbert estava agindo no automático, ele sabia. As mínimas feições de seu rosto estavam decaidas, como se já houvesse carregado todo o peso do mundo em si e não conseguissem mais se erguer para expressar qualquer mínima emoção. Era quase a imagem detalhade de um moribundo, sumindo em sua própria pele, definhando em sua própria loucura particular.

   E seus olhos ardiam, parecendo carregar fogo em suas veias, mas gélida inexpressividade em si, enquanto ele apenas dirigia por aquela estrada sem destino certo, sem nenhum plano pra chamar de seu, sem seu norte e o seu sul para o guiar em uma direção concreta, não conseguindo achar uma nova rota para si próprio, não sabendo como se guiaria, como guiaria eles.

   No meio da madrugada, aquelas crianças viram suas malas serem feitas sem nenhuma organização pré planejada, só de fato acordando para realidade quando estavam dentro de um motorhome; a surpresa que seu paispalho estava organizando para o meio do ano, para os levar em uma nova aventura nesse vasto mundo.

   Já estava na hora; todos eles concordaram. O carro era legal, mas era pequeno demais para organizar sete pessoas nele. Perdiam muito tempo em hoteis, tempo esse que poderiam aproveitar na estrada. Com uma literal casa ambulante tudo ficava mais fácil, mais espaçoso. E estavam gastando o seu tempo de dormir explorando o novo empolgante local.

   Possuíam até mesmo uma boa bancada de cozinha! Uma mesa que se transformava em uma cama grande o suficiente para Nan, Di e Jem, um sofá que se transformava em uma cama maior para Rilla e Walter, e nos fundos ainda tinha uma espécie de mínimo quarto com uma cama de casal para o paispalho e a mamãe! E, ah! Tinham até um banheiro ali dentro!

   (A falta de banheiro geralmente era a parte mais complicada quando eles viajavam).

   — Olha Nan, você vai aqui! — Rilla, pondo sua irmã meio sonolenta no colo, a fez propriamente acordar quando praticamente gritou tal em seu ouvido, chacoalhando seu dedo em direção à um assento com uma cadeirinha, onde estava escrito "Girassolzinha". —

   — E você vai aqui, Di. — Walter explicou, pondo sua irmã serelepe sentada na cadeirinha ao lado da que Rilla havia indicado, só que, dessa vez, com o nome "Borboletinha" marcado. —

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora