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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Na manhã seguinte, Anne foi tomar café rezando para que não fosse sábado, porque significava uma coisa: Rilla e Walter em casa.

Pelo menos daquela vez, ela preferia que fosse um dia de semana para que eles fossem para a escola, ficassem um pouco longe do palácio onde eram consumidos por uma ferida que ainda era muito presente.

Gilbert não desceu para tomar café, e Anne encontrou o seu único e exclusivo apoio em Harry, porque foi ele que retirou Cole da mesa e o levou para fazer um passeio quando o homem nada feliz retomou o assunto.

Anne ainda via certas nuances que demonstravam a mágoa que os seus filhos colocaram para fora em forma de lágrimas no dia anterior, e tentou ser o mais paciente o possível com ambos, que apenas ignoravam a simples existência de Blythe, conversando sobre os seus planos para o dia com sua mãe, mesmo que em um estado de espírito meio complicado de se lidar.

Walter gastou certo tempo pensando na conversa maternal de ontem, e se sentiu muito indignado ao perceber que Gilbert não pensou neles e fez a sua mãe e a sua irmã terem que passar por tal situação, além dele próprio, é claro.

Nos últimos meses, Gilbert Blythe havia se tornado praticamente o seu ídolo. Ele queria tocar tão bem quanto Gilbert quando crescesse. Ele queria conseguir superar a sua timidez para conseguir ser tão espontâneo quanto Gilbert.

Com Gilbert, ele se sentia seguro, apoiado, compreendido e querido quase tanto se sentia com sua mãe, e concordou que não havia ninguém melhor do que ele para completar aquele vazio onipresente, mas que de fato nunca havia incomodado persistentemente, não até agora. Querendo ele ou não, sabendo disso ou não, agora que Walter sabia como era ter aquela determinada figura, não queria a perder mais.

Antes ele sentia falta de algo que ele efetivamente nunca teve, agora ele temia ter que sentir a falta de algo que ele teve, porque doeria muito.

E isso o fez acordar com um péssimo humor. Estava emburrado e havia certa propensão a não fazer suas tarefas, querendo só ficar sem fazer nada o dia todo. Querendo ou não querendo, não passava a menor credulidade com a sua mini rebeldia, parecendo sempre fofo e adorável demais para se levar a sério.

Já Rilla se sentiu verdadeiramente traída. Gilbert sabia o quão difícil era para ela confiar nas pessoas, e ela confiou nele, confiou completamente, porque não acreditava que era possível se confiar pela metade. Rilla acreditou em Gilbert. Rilla pôs nele a responsabilidade de completar a sua família, de a dar a família que ela e o seu irmão sempre quiseram.

Não era segredo para ele o quanto Rilla e Walter tinham medo de serem abandonados de novo, e, depois de todas as animosidades dos últimos meses, eles ficavam em constante alerta, porque nunca sabiam quando Anne e Gilbert iriam se resolver ou simplesmente se cansarem de tudo aquilo. Ver Gilbert beijando outra mulher, só pareceu ser a retirada de carta que faltava para o castelo cair.

Mas, eles haviam aprendido uma lição no meio de tudo isso: não esperariam nada de ninguém, ao mesmo tempo que esperariam tudo de todos. Não colocariam a responsabilidade de os dar uma família em Gilbert ou em qualquer outro, porque eles já tinham uma família.

Em todos os anos de suas vidas, não haviam cobrado a presença de mais uma pessoa naquela relação, mas, de uma hora para outra, se viram sendo injustos com a sua própria mãe. Ela sempre foi os dois, e, se necessário, não seria diferente agora. Eles eram uma família. Não faltava ninguém. Anne exercia o papel de mãe, pai, avós e avôs, e, caso seja a escolha dela, Rilla e Walter não se incomodariam com isso continuando assim.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora