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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Honestamente, Anne já havia se sentido no lugar de Gilbert algumas vezes nos últimos meses, mas não tanto como agora.

Se viu comendo sozinha na hora do almoço, com aquela mesa enorme... apenas ocupada por ela. Foi acostumada com muitas pessoas a sua volta, nunca estava sozinha, mas pela primeira vez em quase onze anos, ela se encontrou sem ninguém por perto, além, é claro, do silêncio. Que som perturbador o silêncio era!

Pensou em ligar para Ruby, Diana ou até mesmo Mary, mas concluiu que deveriam estar ocupadas, então a mulher apenas se dirigiu até o seu quarto, onde outro livro a aguardava. Até as páginas estavam se tornando cansativas.

Era agonizante o silêncio do corredor, com apenas os passos baixos de funcionárias surtindo murmúrios. Ela passou direto pelo corredor da sala de Gilbert, a fazer parar e dar alguns passos atrás. Encontrou a porta do homem aberta, fazendo a luz sair de lá.

Era aquilo um convite? Uma espécie de "ei, estou com as portas abertas para você"?

Mas, escutando uma pequena risada conhecida vindo da outra ponta do corredor, Anne concluiu que aquele convite não era para ela, seguindo o seu caminho antes de trombar com uma lady loira, que, sinceramente, a causava indiferença.

Chegou determinado ponto que Shirley fechou o seu livro, se levantou da cama e ficou andando de um lado para o outro, deixando os pensamentos fluírem, o que ela não permitiu enquanto tinha as páginas abertas em suas mãos. Em vez de ler os capítulos, ela recapitulou as opiniões conflitantes de mais cedo.

Anne não negava, se estivessem na França, já teria recolocado Rilla e Walter na escola a muito mais tempo. A questão não era a ida deles para escola, mas sim onde essa escola estava e em que momento essa reinserção estava sendo realizada.

Claro que ela estava preocupada, era uma mãe, mas era uma preocupação normal, podemos dizer. Entendia que muitas vezes as crianças podem tornar uma situação muito maior do que ela é, sabendo que Rilla e Walter criaram uma imagem, talvez compreensivelmente, monstruosa da escola, e Anne estava obstinada em ir quebrando esse pensamento de que o local educacional era a personificação de todas as coisas ruins do mundo, mas aos poucos.

Ela compreendia como na cabeça de uma criança de dez anos, principalmente dessas crianças de dez anos, ser recusado por literalmente todo mundo era o pior dos cenários possíveis, trazendo sentimentos que não deveriam fazer parte do cotidiano delas nessa idade.

Então, ela entendia o medo, talvez o pavor, que os dois estavam sentindo de mais uma vez serem rejeitados, mas Anne acreditava que, apesar de tudo, tinha sim os seus altos e os seus baixos, mas era essencial para o crescimento individual de suas crianças, assim como das altezas imperiais, e poderia sim ser um local de ao menos diversão.

O colégio era o momento em que Rilla e Walter tinham a experiência de serem crianças iguais as outras, e, para Anne, isso era de suma importância, pensando neles como seus filhos, pensando neles como o futuro da monarquia.

Ela apenas reivindicava que era perigoso em um momento de tantas turbulências políticas e domésticas, colocar os dois em uma escola onde nem a língua eles dominavam por completo.

Todas as classes tinham pessoas que basicamente os odiavam. Classe alta, média e baixa. Todas. E os filhos desses, estariam sempre em contato com Rilla e Walter, os vendo apenas como os seus títulos, os personificando como a política e os problemas que ela está trazendo, os moldando como a figura da realeza que os seus pais tanto estavam criticando e os levando a criticar também.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora