124- Um bom ruim

113 23 85
                                    

━━━━━༺༻━━━━━
❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Um zumbido era a única coisa que conseguia ouvir.

Ela sabia que algo muito longínquo ressoava, mas o constante incômodo som oco sobressaia para a sua insatisfação, como se formigas estivessem andando pelo seu ouvido aparentemente supersônico, já que capitava o barulho de seus passos inúmeros.

Seus olhos pareciam pedras e, a cada tentativa de os abrir, sentia que estava correndo uma maratona de tão exausta que ficava, contorcendo suas feições a cada tentativa falha, cada vez mais e mais cansada em seu desafio.

As vozes foram parecendo se aproximar, lutando por espaço junto com o zumbido, mas pareciam estar ganhando, porque cada vez mais Anne sentia vontade de abrir seus olhos e saber quem estava falando, até que reconheceu que estavam falando consigo, só não sabia quem.

Aos poucos, sua consciência ia vindo à tona, e, talvez, poderia ter ficado preocupada pelo fato de não ter noção de onde estava ou com quem estava, mas, o que a fez bruscamente abrir seus assustados olhos, foi se lembrar quem era: a Imperatriz.

E, depois de sua família, a Imperatriz era a pessoa mais importante que ela deveria proteger.

Seus olhos embaçados foram obrigados a se focalizarem conforme ela procurava rapidamente reconhecer sua volta, aos poucos, sabendo que estava em um lugar apertado, vendo pelo menos três pessoas olhando para ela de cima, tentando conversar calmamente consigo, a qual reconheceu que estava deitada, deitada em uma maca, com as pernas elevadas em... travesseiros? Não soube dizer.

Era mais um mini corredor, na realidade, mas tinha um largo banco acoplado, com encosto e travesseiro na cor azul e, mais importante, com Martha rapidamente levantando-se dele, indo até ela e segurando sua mão, com olhos desesperadamente preocupados, como uma mãe cuidando de sua filha.

Concluiu que estava em uma ambulância, pelo som da sirene e o mover do espaço, e soube que, sem Martha, teria se desesperado no mesmo instante, quando, na verdade, por causa daquela preocupação dela e o segurar de sua mão, se sentiu um pouco mais protegida.

Agora, mesmo ainda zonza, já conseguia reconhecer as roupas típicas dos paramédicos, mas a única coisa que seus lábios incomodamente ressecados conseguiram balbuciar, foi:

— Gil...

   Deu para praticamente assistir os músculos de Martha relaxando perante o falar dela, fazendo a pequena senhora concordar com um breve reconfortante sorriso, parecendo quase orgulhosa, como se Anne fosse apenas uma criança e tivesse acertado que um mais um é dois.

   — Ele já está vindo, minha filha. — garantiu igualmente em um sussurrar, que fez o coração de Shirley acalmar-se, não sabendo ao certo se por ter conseguido ouvir claramente a voz, ou pelo o que essa voz a informou. —

   Anne tentou se levantar, mas os paramédicos apressaram-se em impedir quem chamavam de "majestade", a pondo cuidadosamente deitada novamente e erguendo apenas um pouco a sua cabeça, pedindo para ela abrir sua boca e consequentemente pondo uma pequena dose de açúcar debaixo de sua língua.

Mas, antes mesmo que o açúcar conseguisse ser minimamente dissolvido, Anne sentiu todo o seu sistema digestivo contrair-se, dando espaço o suficiente para seus pulmões perderem o compasso e levarem a sua respiração à gradual aceleração, e, quando Martha pôde ver, estava largando a mão da Imperatriz e rapidamente desviando do vômito dela.

   Ou, ao menos, da golfada dela, a qual emitiu um doloroso som de quem pretendida expelir muito mais do que tinha, mas, de fato, não tinha praticamente nada no seu estômago para fazer isso.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora