142- McLanche Feliz

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚  
  Gilbert não sabia muito bem como o pote transparente não escapuliu de sua mão, enquanto fazia o caminho de saída por aqueles corredores cinzas, só não podendo ser mais diferentes das paredes da maternidade, porque não eram pretas.

   Sentiu-se aéreo enquanto era dirigido até a saída pelo guarda apático. Nada à sua volta parecia ser real, talvez um fruto de sua imaginação, talvez um fruto de seu subconsciente, uma mistura de pesadelo com sonho que fazia todo o seu senso de realidade se distorcer.

   Seus olhos, após longos minutos, conseguiram se focalizar em algo, invés de se voltarem para sua introspecção. Na realidade, se focalizaram no homem de terno, cabelos escuros muito parecidos com os seus próprios, se levantando no instante em que o viu passando mais uma vez pela detector de metais, dessa vez para sair e ir em sua direção, em uma vagareza nada calma.

   — Você vai tirar ela daqui. — assim que se aproximou de Moody, Gilbert afirmou sem se dar o trabalho nem de o olhar ao por enfaticamente o pote contra seu peito e sussurrar: — Nem que tenha que por essa prisão abaixo e afundar essa ilha, você vai tirar ela daqui.

   Moody segurou o pote, virando-se em seu próprio eixo, quando viu seu primo sair do local, sem esperar por ele ou pela sua própria consciência ao  caminhar involuntariamente de volta para o carro. Sprugeon suspirou meio manejando a cabeça, apressando seus passos para o alcançar; soube que quando Gilbert falava "ela", estava querendo dizer "eles".

   — Ela está bem? — não conseguindo manter o silêncio daquele carro, após checar os seguranças os seguindo, ele questionou ajeitando as mãos no volante e voltando a se focar na estrada. —

   — Ela está grávida. — respondeu como se essa fosse resposta o suficiente. — Em uma prisão.

   Moody meio concordou; deveria ter esperado por essa resposta.

   — Quer que eu cale a boca?

   Gilbert ponderou sem retirar os olhos dos pingos ralos de chuva que deixavam o vidro do carro turvo, tentando ver qual pingo venceria e chegaria primeiro no final da janela, enquanto tentava enxergar o que exatamente ele queria, porque, Céus, ele queria tantas coisas.

   Ele queria entender, simplesmente entender, como. Em que momento houve a simples concepção dessa criança que passou despercebida por si. Se Gilbert... se Gilbert não achasse impossível ter outro filho gerado pelo ventre de sua esposa, se Gilbert tivesse alguma noção de que isso havia acontecido, ele teria prestado atenção em todos e quaisquer sinais. Sabia que sim.

   E ele queria entender ô porquê de nunca o darem apenas uma chance, só uma, de experiênciar uma gravidez no mais perto de normal possível, com sua esposa ao seu lado e não em uma prisão, gerando sua criança sem nenhum apoio ao seu lado, sem dar a chance do pai cumprir com o seu papel de igualmente responsável.

   — Você vai tirar ela de lá? — perguntou, dessa vez, mais baixo, menos enfático, menos certo, quando quase uma hora já tinha se passado, quando já estavam nos centros de Londres e Moody já havia se calado, como se Gilbert tivesse o dado a resposta com o seu silêncio. —

   — Vou conversar com Jerry, ver as possibilidades, tentar contestar a gravidez e ver se consigo a por para esperar o processo em liberdade. — explicou tentando equilibrar seu discurso de advogado e primo do envolvido, sabendo que era por isso que era preferível familiares não se envolverem no caso de outros. — Tudo indica que sim, mas eu não posso te garantir, Gil. Nesse processo não existe "cem por centos", no máximo "nove e noves".

   — E você me dá um noventa e nove? — questionou hesitando pela resposta, quando o carro parou no sinal recém fechado. —

   Moody tomou fôlego, minimamente abaixando seu olhar antes de o virar em direção de seu primo expectativo, mesmo quando parecia saber a resposta em seus olhos fraquejados.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora