108- O cheiro podre da hipocrisia

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   Walter apressou seu passo como se aquilo não pudesse ser adiado, chegando ao seu quarto e abrindo com cuidado a porta para não acordar ninguém desnecessariamente, mas, a justa pessoa que estava indo despertar, estava sentada digitando freneticamente em seu celular, no que o menino supôs ser uma vinda iluminada de inspiração repentina de sua melhor amiga, a qual rapidamente o desligou e escondeu quando notou a presença dele.

— A gente precisa conversar. — sussurrou sentando-se na ponta da cama, com cuidado para não acordar sua espalhada e levemente roncadeira irmã. —

— Precisa ser agora? — perguntou parecendo penosa pela implicação da resposta, vendo ela na insistência do olhar dele que a fez revirar os olhos e manejar a cabeça em meia concordância. — Aqui?

Dessa vez ele negou, levantando-se e fazendo ela realizar cansada o mesmo, sendo praticamente arrastada até a biblioteca onde o menino a pôs sentada e rapidamente puxou uma cadeira para se por à frente dela.

   Déli recebeu literalmente horas de uma assustadora palestra que Walter fez para ela, e a menina, que sempre pontoava alguma coisa ou complementava quando recebia uma explicação, dessa vez manteve-se calada, ouvindo as mais contraditórias instruções sobre como lidar com flashes em seus olhos ou como agir com repórteres enfiando microfones em seu rosto, com infernais perguntas por todo lado, como se você fosse a atração principal de um zoológico.

   Se Walter queria assustar ela, bom, conseguiu com impecável perfeição, porque a menina ficou tremendamente assustada, enquanto ele estava tão assustado quanto, à ponto de não conseguir parar quieto, falando para lá e pra cá por horas a fio, mesmo quando o fôlego acabava, porque a única coisa que importava era: Déli não ser sufocada por paparazzis, ou ao menos saber que iria ser.

No dia seguinte, ela tentou lembrar de tudo no caminho para escola. Não deveria dar atenção para algum deles, senão, teria que dar para todos. Não poderia deixar de sorrir, porque, senão, chamariam ela de antipática. Não poderia sorrir, porque, senão, falariam que ela estava tentando chamar atenção. Não poderia ter um caminhar e uma postura perfeita, porque, senão, chamariam ela de esnobe. Não poderia não ter um caminhar e uma postura perfeita, porque, senão, chamariam ela de desleixada.

Quase falou para Walter que pediria para seus pais para não ir para a escola, mas teve um sexto sentido que ele diria algo como "você precisa ir, porque, senão, vão falar que você está fugindo", e seus pais estavam tão ocupados tentando lidar com os caçulas, que graças a Deus não haviam tido tempo para ver o noticiário, porque Déli sabia que ia receber uma bronca.

— Vocês realmente passam por isso, o tempo todo? — a menina questionou baixo como se tivesse com medo daquelas pessoas escutarem o temor em sua voz. —

Walter não estava errado quando desesperou-se para tentar ensinar para ela o básico do que aprendeu durante toda sua vida. Ambos os lados da rua estavam lotados, com as câmeras famintas por ela, com os reportes indo a loucura e invadindo a pista junto com os paparazzis, levando os seguranças que os escoltavam, terem que abandonar o carro para tentar conter aqueles parasitas, e Déli não soube da onde, mas surgiram dezenas de guardas para ajudar.

— Foi você que chamou os seguranças, não foi? — Rilla questionou apoiando o rosto na mão, observando desinteressada as câmeras pelo vidro escurecido do insulfilme. —

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora