127- Malditas colheres

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*Preparados? 👀
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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   — Você suspeita disso há quanto tempo?

   Falando mais com si próprio do que com ela, Gilbert perguntou-se com aquele tom de voz que não era nem irritado, muito menos ousado ou petulante, mas que, em sua seriedade, soava como o oco som frio do trovão durante uma tempestade, e levava Anne à saber que as águas iradas estavam prontas para precipitar.

   — Três dias? — andando com vagarosos passos pelo quarto, fez as contas e concluiu, tendo que reafirmar isso para si decepcionado em quase um sussurro: — Três dias.

   Gilbert, de longe, observou mais uma vez os ziplocks que largou na cabeceira, preferindo desviar na mesma velocidade e negar, negar para si próprio, porque Anne não precisava de sua negação explícita para saber que reprovava o que fez.

   — Você estava com febre, passando mal, Anne. — lembrou ao parar e francamente a olhar. —

   — Por causa da infecção que a gente nem sabia que existia. — rebateu se desencostando da cama e sentando-se com as pernas para fora dela. —

   — Porra, Anne, você desmaiou, por causa desta merda!

   Mas, assim que notou a exaltação que sua voz tomou, Gilbert parou e calou-se, segurando o seu lábio inferior e respirando fundo, como se fizesse toda aquelas palavras, que ele sabia serem desnecessárias, descerem para um lugar bem longe de sua boca.

   Mas Anne não.

   — Desmaiei mesmo. — tomando a revolta dele para si, afirmou sem se arrepender de o fazer. — E não me arrependo. Porque, se eu não fizesse, você não faria!

Bom, Gilbert tentou.

   — Eu não faria?! — questionou rindo em negação, voltando a andar pelo quarto. — Seria mais fácil decidir isso, se você ao menos tivesse me contado!

   — Você também não me contou sobre Winifred. — indignada pelo fato da culpa estar caindo só sobre si, acusou levantando-se. —

Anne sabia que aquilo havia sido demais (e desnecessário), para qualquer um dos dois; a gota que faltava para o copo transbordar. Alguma parte consciente da ruiva entrou em conflito consigo mesma, porque sabia que sempre acabava utilizando artimanhas desnecessárias em discussões que não muito tardariam em se dissiparem.

   E, mesmo, por um bom tempo, tendo conseguido controlar essa sua constante vontade de ganhar quando se tratava de uma "briga", dessa vez, não conseguiu conter.

   — É claro que eu te contei!

   — Me contou, quando eu puxei o assunto. — apontando para si própria, demonstrou aproximando-se do homem. —

   — Mas eu contaria de qualquer forma, para a sua informação.

   — Então, por que não contou antes?!

   — Porque a minha esposa fez questão de sair de casa praticamente queimando em febre, resfriada para um caralho, e acabou parando no hospital depois de desmaiar, mas agora está mudando de assunto e me acusando de algo sem nenhum fundamento...? — quase sarcástico, indagou como se fosse óbvio ao gesticular com suas mãos. —

   — Pois saiba que eu tentei te contar um dia depois que a gente chegou aqui.

— Mas não contou.

— Não contei, porque descobrirmos que eu estou com a merda de uma infeção e você ficou em cima de mim, igual sempre faz, quando qualquer mínima coisa acontece comigo, porque você é simplesmente assim, Gilbert! Nunca sabe manter a merda da calma, muito menos sabe quando parar!

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora