123- Piripaques em salas

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Um espirro.

Dois espirros.

Incontáveis espirros.

   Anne estava tão alheia de si mesma enquanto assoava no lenço marcado pelas inicias "G.B", que nem ao menos notou os olhares dos funcionários em sua direção, como se em suas mentes estivessem deixando claro que teriam que ativar milhões de faxineiros para evitar uma onda de resfriado na Instituição, mas, por fora, apenas sorriam comedidamente e reverenciavam-se perante a passagem aérea da Imperatriz.

   A ruiva respirou pela boca como se o ar fosse mais pesado do que o seu próprio corpo aguentava, recostado-se na barra do elevador, de fato, não se importando de jogar todo seu peso ali e fechar seus olhos, mentalizando para que ninguém entrasse no meio do caminho para o décimo andar do bloco A.

Anne suspirou cansada, querendo ter permanecido com seus olhos fechados para não ter que enfrentar a luz que fazia sua cabeça pulsar mais um pouco, mas levou seu mirar até sua bolsa, procurando o papel que sua afilhada havia a entregado anteriormente e o relendo mais uma vez, assim que o achou amassado no meio da bagunça.

Se o estado da bolsa de alguém muito fala sobre seu estado de espírito, Anne suspeitou que de fato estava deplorável ao guardar de volta o papel e enfiar as mãos enluvadas dentro dos bolsos calorosos do casaco, assim que a porta do elevador se abriu e o corredor apareceu em sua frente.

Tomou fôlego e corajosamente foi procurando pelo apartamento mil trezentos e um, a cada número diferente de porta, pensando no que poderia dar errado, pensando que talvez houvesse mais chances de dar errado do que certo mesmo. Não sabia nem se a mulher estaria em casa. Seria preferível que sim, mas, quando finalmente encontrou a plaquinha prateada indicando "1301", ficou em dúvida se estava torcendo para ela estar ou não.

Escolheu no momento em que deu três sonoras batidas; queria que estivesse. Precisava que estivesse em casa.

   Segundos longos demais se passaram, relativamente soando como horas para qualquer um meramente ansioso, e Anne já estava pronta para bufar, dar de costas e voltar para casa antes que seu marido acionasse metade do policiamento de Berlim em busca dela.

Não que fosse difícil, já que o nariz avermelhado a traiu novamente, a fazendo levar rapidamente o dorso da mão até ele, como se pudesse ter contido o alto espirro que havia acabado de sair.

Anne paralisou presa em sua própria noção de que provavelmente havia sido descoberta, conseguindo apenas mover seu olhar para confirmar que as pessoas, que não eram muito presentes por ali, observaram com curiosos olhos a nada majestosa Imperatriz, a mesma que já havia decidido que foi uma péssima ideia ter vindo.

Já planejava que mensagem cheia de eufemismo mandaria para Gilbert. Algo, definitivamente, com bastante emojis, já que sempre faziam ele rir da forma exagerada e nada atualizada como ela utilizava as carinhas, o fazendo sentir uma adorável atração pela ruiva e consequentemente preferir a apertar em um abraço, do que a apertar em um caixão.

É, era um bom plano, mesmo Anne tendo a noção que Gilbert Blythe perderia qualquer senso de humor, se esse envolvesse ela e "caixão" muito perto na mesma frase.

De qualquer maneira, os emojis ainda não haviam sido descartados. Bem queria um abraço de seu marido agora, um daqueles que praticamente a faziam se fundir com ele, emergir-se no conforto que os braços de Blythe eram, e, Céus, como eram confor...

— Majestade...

Uma voz atonia a fez levantar seu olhar, antes, muito perdido em seus próprios devaneios, a fazendo, com algumas meras piscadas, focalizar-se em fios loiros não muito claros e não muito escuros, que apressadamente a reverenciaram, como se há muito já houvesse esquecido como realizar a cortesia.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora