162- Já acabou

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   Soava estranho; Walter sabia. Mas, talvez pela primeira vez em sua vida, estar em casa não era sinônimo de se sentir em casa.

   Após poucos dias, estava em casa. Mas foi recebido por um local tão silencioso, que presenciou esse silêncio passando para a multidão que se juntou à volta do Palácio, depositando flores em suas grades e orações em seus moradores.

   E nunca, em sua vida, havia sido recebido por um tio Cole calado, retraído com tio Harry, ou uma tia Diana falhando em sua missão de não os sufocar com os seus cuidados, um tio Jerry cuidadoso em cada sentença que proferia, uma tia Ruby que chorava apenas de os olhar, mesmo quando tentava conter para não os magoar, e um tio Moody tendo que ser racional e responsável por todos esses.

   Seus irmãos eram muito novos (e estavam muito distraídos brincando com um Mercury balançando seu rabo expectativo no hall de entrada) para perceberem alguma coisa. E Rilla, na primeira oportunidade, fugiu para o seu quarto, onde conseguia se esconder da pressão dos sentimentos alheios e focar-se apenas no seu.

   E, enquanto paispalho tentava se dividir entre cuidar de seus irmãos mais novos e cuidar de assuntos urgentes do Império, Walter recusou suas súbitas vontades de se sentar em um dos diversos pianos que apareciam pelo caminho e ficar escondido em uma realidade que criaria para si, através da música.

   Entre todas as situações que passou nesse curto período de tempo desde sua chegada, a que se igualou mais com o sentimento de estar em casa foi quando sentiu a fragrância doce das flores regadas do jardim, apenas posicionando suas mãos em seus bolsos e se permitindo parar em contemplação.

   Preencheu seus olhos com a visão de Déli agachada perante um dos vários canteiros de girassois, aparentemente os podando com um pequeno utensílio. Trajava um vestido preto simples que se mesclava com seu cabelo, agora, curto, na altura de seu queixo, em ondas tão abertas que quase não eram perceptíveis sob o chapéu de palha a protegendo do fraco Sol.

   Ao lado dela, uma funcionária segurava a cesta onde a menina depositava o que havia cortado, sempre recebendo um pequeno sorriso como agradecimento. Déli sabia ser completamente capaz de realizar tal tarefa sozinha, mas os funcionários pareciam desesperados para servirem alguém, quem quer que fosse, qualquer que seja a tarefa, e, então, a menina logo havia se visto cercada por pessoas oferecendo e realizando favores à ela.

   Não tardou muito para eles diretamente pedirem que a Lady os desse alguma ocupação, então, naquele momento, era possível ver funcionários se dividindo entre os canteiros, cuidando especialmente dos girassois, como Déli havia tentando instruir sem sentir-se muito madona. Não sabia como as pessoas conseguiam mandar uma nas outras com tanta facilidade.

   E foram esses mesmos funcionários que primeiro notaram Walter, cada um deles realizando uma reverência pasmada antes de regressaram rapidamente para o Palácio, esperançosos de que havia alguma ocupação para eles. E foi quando a funcionária que segurava a cesta para Déli se reverenciou, que a menina rapidamente dirigiu o olhar em sua direção, enfim, notando sua presença ali.

   Em um movimento tão rápido, que fez até mesmo o seu chapéu cair, Déli ergueu-se e, então, em questão de segundos, Walter a sentiu envolvendo tão fortemente seu pescoço, que teve que se equilibrar para não cair.

   Com apenas os passos dos funcionários na grama ao fundo, Walter só propriamente retribuiu o abraço, quando não havia mais nenhum deles em suas vistas, um pequeno momento de choque, como se o contato da pele dela com a sua o tivesse puxado de volta para a realidade.

   — Rilla está bem?

   Walter tentou identificar a intonação da voz dela, abafada contra o seu pescoço. Algo mesclado, transitando entre preocupação e alívio.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora