Road Trip III - Shirbert e Anne with an E

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Era a segunda vez no dia que o pé de Gilbert batucava agoniado, impaciente, e ele novamente checava o relógio, no silêncio sufocante de sua sala.

Não gostava do local, nunca gostou. Era escuro, com as madeiras escuras, com extremamente desnecessários ornamentos, pilastras e detalhes em ouro por todos estes. Qualquer batida ressoava pelo cômodo inteiro, e ele se sentia pequeno rodando pensativo na sua cadeira.

Sua mesa ficava no centro da sala, como se o monarca sempre tivesse que ficar no centro, e ele nunca havia visto algum lugar com esse simbolismo, mas também não gostava dele. Não gostava de nada ali realmente.

Brincava com o anel de sua coroação naquele leve girar. Teve uma época em que Gilbert concordou que teria sido uma tragédia se tivessem conseguido casar eles da forma cortês da realeza, mas agora o homem ponderava consigo próprio que talvez seguir as regras teria evitado muitas tragédias posteriores, as quais eles viviam agora.

Não se apaixonariam se isto tivesse acontecido, isso é claro. Pelas crenças da Anne e do Gilbert do passado e talvez do presente, era óbvio que não se apaixonariam. Mas ao menos poderiam conviver. Agora nem isso eles conseguem.

Talvez seria melhor se eles não se apaixonassem de fato, e apenas vivessem em harmonia com sua amizade. Porém não era só paixão. Eles se amavam. E você aceita que as vezes terá que conviver com a dor ao amar, mas mesmo assim, deixar de amar consegue ser muito pior. Ao menos você tinha o amor para contrapor a dor, mas só resta um quando você deixa de amar.

No girar daquela cadeira, no tilintar do anel passeando pelos seus dedos... Gilbert procurou em si, investigando minuciosamente, cuidadosamente revisitando memórias, retirando o pó de alguns cantos, jogando fora algumas coisas, e realmente arrumando a sua mente, se aquele vazio, realmente era a certeza de que ali só restava a dor.

Revirou alguns locais de sua cabeça para procurar o que contrapunha essa dor, mas não a encontrou. Será que aquele palpitar mais forte de seu coração havia finalmente o deixado? Porque ele se sentiu esvaziar, quase como se sua alma tivesse saído do seu corpo quando se deu conta disso. Estava de luto, e ficou tristemente sério. Tristemente sério, porque em dez anos aquele palpitar não havia o deixado, mas agora que ele poderia o experimentar todos os dias... ele se foi.

Ou era isso que Blythe achava.

O homem se preparava para o que ele sabia queria iria gerar um enorme briga com a ruiva, mas seu coração palpitou com o abrir da porta, e ele parou a cadeira ansioso para acabar com aquela impaciência ao levar o olhar para o local.

Gilbert fingiu não ver o palpitar de seu coração, porque no final, ele não havia entendido que o que contrapunha a dor, só estava muito bem escondido em um local onde ele não conhecia, e muito menos conseguia entender. Ele mesmo.

O palpitar cessou rapidamente quando cabelos ruivos não foram anunciados, e sim os negros. Diana se encaminhou tomando fôlego até a cadeira à frente da mesa, aonde se sentou com o olhar confuso de Gilbert sob ela enquanto ele voltava a ajeitar o anel em seu dedo.

A mulher tinha o olhar abaixado, ponderativo, mas o levantou com um pequeno sorriso.

- Aconteceu alguma coisa? - Blythe questionou, de fato estranhando aquilo. -

Diana sutilmente riu voltando o olhar para baixo ao negar, e novamente levantou os olhos escuros para ele que ainda não tinha a menor pista de qual era a graça.

- Sabe Gilbert, eu não sou uma pessoa muito orgulhosa.

- Alguém nessa casa tinha que não ser. - murmurou a analisando confuso. -