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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Caro leitor, vou tentar lhe explicar de uma maneira simples a situação, pois não lhe cobro uma faculdade de medicina. É muito comum que durante a gestação, as mulheres tenham algo chamado Arritmia Cardíaca.

Não se assustem, lhe garanto novamente: é muito comum. O sangue bombeado pelo coração da mulher aumenta na gravidez, fazendo ele bater mais rápido, mas o nosso corpo é bom para nós e fortalece o coração, para ele aguentar o aumento "inesperado" na gestação.

A arritmia causa basicamente maior fadiga por menores coisas e batimentos acelerados, o que se dobra quando a gestação é gemelar. Anne teve arritmia na gravidez de Rilla e Walter, o que não causou nada, entretanto, ela manteve essa arritmia após o nascimento deles.

Não era nada demais, era o que chamavam de "benigna", não trazia nenhum risco a ela, só um certo desconforto praticamente não percebido. Mas ela ficou grávida de novo, e a arritmia se potencializou mais ainda, porque seu coração já era fraco, e eram gêmeos... de novo.

Seus batimentos por minuto eram assustadoramente altos, a ponto de serem considerados taquicardia severo. Anne não podia abusar de emoções muito fortes ou muito estresse, porque qualquer coisa poderia a levar a ter, em uma língua bem chula, um piripaque.

Por isso, Gilbert a afastava do trabalho. Por isso, Gilbert se colocava em alerta só de a ver ofegando. Por isso, estavam pedindo para ela abortar um dos bebês.

Não era tão simples, era? Eram gêmeos, e por causa da dificuldade em volta do parto natural de Rilla e Walter, recomendavam uma cesariana. Entretanto, quando se tem arritmia cardíaca, se recomenda o parto natural, porque se perde menos sangue nele. No determinado caso, havia mais contras do que prós, em ambas as situações.

No parto natural, Anne provavelmente não aguentaria fazer força e parir os dois, o que seria um gigantesco desastre a ter literalmente infartando no meio do parto. Na cesariana, ela perderia muito sangue, além do fato de que segundas cesarianas sempre são mais complicadas, e o seu pós parto pior ainda, isso se ela sobreviesse para ter o pós parto.

O doutor deixou bem claro: era mais provável que os três morressem, do que os três sobreviessem. Havia muitas possibilidades. Anne morrer e os bebês sobreviverem, os bebês morrerem e Anne sobreviver, um bebê e Anne sobreviverem, um bebê sobreviver, os três morrerem... mas, o menos provável era os três sobreviverem, e entre os três, era mais provável que Anne morresse.

A opção sugerida foi: vocês precisam abortar um dos bebês. O outro ficaria bem, Anne ficaria bem, e a gravidez poderia seguir tranquilamente.

No dia em que descobriram, Gilbert foi sim para Verona, mas primeiro ele foi secretamente para Paris. Ninguém soube dessa ida, nem mesmo Jerry, Diana e Déli. Gilbert foi para Paris falar com doutor Howard, porque ele sabia o que iria pedir para Anne, ele só não sabia o quão destruída ela iria sair.

E o doutor deixou bem claro também: seria avassalador, e ele não sabia se algum dia ela iria conseguir superar o trauma. Só de saber o que estava acontecendo, doutor Howard soube exatamente o que Anne estava sentindo. O sentimento de impotência de não conseguir gerar o seu filho, de não saber se iria conseguir trazer ele ao mundo por uma culpa que ela atribuiu a si.

Era melhor abortar um dos dois agora do que depois, porque ver o bebê pronto, perfeito, praticamente igual o outro em relação a formação, com a ligeira diferença de que ele estava sem vida, seria completamente traumatizante.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora