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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Na outra sexta-feira, não existia tranquilidade de nenhuma parte daquele palácio, e quando eu digo "nenhuma", é nenhuma mesmo.

Faltavam cinco dias. Só cinco dias. Foram longos messes de cansativos e intensos preparativos, e agora todos viam tudo tomando forma. Era animador, mas completamente estressante.

Todos tentavam conferir se tudo estava certo, se todos os convidados iriam poder vir, se as flores estavam bem cultivadas, se a decoração, se os seguranças, os hospitais, as roupas, os... literalmente tudo.

Mas, Rilla e Walter tinham outros motivos para estarem com o ânimo elevado, e definitivamente não era pelo casamento de sua mãe com... aquele cara, para ele enfim ter um final feliz com sua esposa e seus três filhinhos perfeitos. Essa parte da história irritava as crianças, não as animava.

Os últimos dias pareceram mais insuportáveis do que os que antecederam estes. Walter e Rilla sentiam que eram telespectadores de uma história que deveria ser deles, assistindo o triunfo de um conto de fadas que começou belo, se melindrou no meio e por fim caiu, invertendo os três atos, e, pior, parecia que só eles conseguiam ver que isso não estava certo.

Com sentimentos indomáveis, não conseguiam conceber a idéia de que um aleivoso conseguiu, por fim, tudo o que antes, utilizando integridade em seus atos, desejou.

Já não entendiam mais o que o destino esperava das pessoas para as recompensar. Se cultivassem a maçã, morreriam de fome, mas ficariam em paz sabendo que fizeram um bom e honesto trabalho, satisfeitos com a vista do avermelhado alimento. Se arrancassem a maçã, ficariam saciados e ainda assim teriam a visão da fruta.

Gilbert arrancou a maçã, Gilbert comeu a maçã, Gilbert ficou saciado e Gilbert ainda manteve a fruta em seus olhos. Já Rilla e Walter morreram de fome a cultivando.

E eles se pegavam questionando a sua própria mãe. Será que ela não enxergava que eles estavam em um ciclo vicioso onde a única que se dá mal é ela? Será que ela gostava daquilo? Porque os dois não gostavam. Ao mesmo tempo que os dois se viram tentando imaginar o tempo antes de Gilbert e não conseguiam.

As crianças se sentiam completamente magoadas. Ele traiu sua mãe, ele traiu os dois e agora conseguia um filho que o chamava de pai, que o idolatrava, que o amava e que substituiu Rilla em Walter em duas semanas. Duas semanas!

Duas semanas que foram o suficiente para todas as promessas que Gilbert fez a eles, serem rapidamente transferidas para uma criaturinha que nem sabia o significado daquelas palavras, enquanto Rilla e Walter escutaram, decoraram e nunca esqueceram o significado delas. Como ele pôde os prometer o mundo, se também foi ele que o fez cair em volta deles?

Mas as crianças só não conseguiam perceber que o mundo também havia caído em volta dele.

Gilbert não conseguia ver daqui a cinco meses. Ele tinha dois filhos que não conseguiam trocar uma palavra tranquila com ele; um filho que o tratava com todo o amor do mundo, mas que, independente de qualquer coisa, dava um gigante trabalho pelo óbvio fato de ser um bebê; enormes complicações políticas para cuidar; e a sua mulher em uma gravidez gemelar de risco que estava pegando pesado com ela.

E quando o seu longo dia chegava ao fim, só encontrava apoio nela. Na única pessoa que devidamente não deveria o dar apoio, e ele sabia disso, e ele se sentia mal por isso. Mas ele também se sentia desesperado. Cinco meses, quase quatro. Ele só tinha isso garantido.

Ele não sabia com quantos filhos passaria o seu aniversário. Ele não sabia com quantos filhos faria biscoitos na véspera de natal. Ele não sabia quantos filhos teria que acalmar por causa dos fogos do ano novo. Ele não sabia se acordaria com o maior presente do mundo na manhã de seu aniversário. Ele não sabia se desistiria de ficar acordado até meia-noite do natal e apenas iria dormir com ela que estaria tão cansada quanto ele após cuidar das crianças. Ele não sabia se a
beijaria no ano novo.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora