125- Resposta em letras grafadas

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
No cair de tarde do dia seguinte, Anne ainda apresentava fortes sinais de seu resfriado, com todos os sintomas do dia anterior retornando.

   Gilbert ainda possuía as mesmas roupas desconfortáveis que o fizeram ter uma noite duplamente complicada, já que boa parte dela não conseguiu dormir, como se cada movimento que sua esposa fizesse fosse ampliado milhões de vezes em seu ouvido, mesmo quando ela estava sendo, ou tentando ser, mais silenciosa do que uma formiga.

Mas, dessa vez, o homem começava a apresentar um nariz sutilmente escorrendo.

Ele havia pego a Coisa da Anne.

E, talvez, mais pelo bem dela do que o seu, sugeriu que não ficassem tão grudados assim, porque poderia retardar a melhora de seu resfriado, ao tempo que ela concluiu que poderia piorar a situação dele, que ainda estava tão leve que, se tomasse os medicamentos certos, sumiria em menos de dois dias, possivelmente.

   Então, a distância foi o que instituiriam em sua relação.

   E, naquela tarde, estavam justamente debatendo sobre essa lei temporária, com Gilbert recostado na cama do hospital e Anne abraçando sua cintura, utilizando seu corpo como um confortável travesseiro enquanto ele acariciava suas mechas rubras recém secas do banho. 

   — Como será que as crianças estão? — Anne questionou com um sutil bico desanimado sendo formado pelos seus lábios. — Você definitivamente deveria estar em casa com elas, não aqui.

   — Querida, em menos de quarenta e oito horas, a gente ligou mais para elas do que a gente ligou, para qualquer outra pessoa, na nossa vida inteira. — lembrou com uma pequena contração de feições, como se perceber isso o trouxesse até mesmo uma careta, não sabendo se de espanto ou desgosto. —

— Em nossa defesa, só ligamos para Rilla e Walter quando estavam no recreio e na hora do almoço, a diretora da creche só recebeu uma ligação nossa querendo falar com Jem na hora do recreio dele também, e Harry e Jerry falaram pra gente ligar a hora que quiséssemos, ok?

E isso era para ser uma defesa, sem nenhuma ironia; Gilbert notou, fazendo carinho no cabelo de sua esposa, um pouco mais apiedado do que antes.

Calmamente escutou ela tagarelar sobre como Nan e Di estavam umas gracinhas chorando por causa dos penteados mal-feitos de Jerry, ou sobre como Rilla ficava adorável com uma careta emburrada de quem estava perdendo o jogo de futebol do recreio para falar com seus paispalhos, sobre como Walter era a criatura mais paciente do mundo ao responder o questionário de "bem-estar" de sua mãe, além, é claro, sobre Jem e sua voz de malcriação, claramente querendo se livrar logo de seus chatos pais para dar trabalho para os chatos inspetores de sua creche.

   Gilbert preferiu não questionar. De tempos em tempos, apenas murmurava em concordância, ou acenava em afirmação, até que Anne se calou por tempo o suficiente para ele achar que ela havia caído no sono, ou, para o seu desespero, desmaiado de tanto falar.

   Mas, quando foi apressadamente conferir o estado de sua esposa, cuidadosamente voltou a se recostar na cama, dessa vez, com o cenho discretamente franzido: ela estava com os olhos abertos e aparentemente respirava.

   Estava só... calada, no tipo de Anne que Gilbert definia como "preocupantemente introspectiva".

   Por tempo demais.

Nunca é seguro deixar Anne pensar por tempo demais, para ele e, basicamente, para toda a humanidade, mas, principalmente, não era seguro para ela.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora