95- Sua menina

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   Não demorou muito tempo para estarem em casa.

   Percebendo a propensão à quietude de seu marido, Anne foi quem propôs que ela cuidasse de Rilla com a companhia de Jem e ele ficasse com Nan e Di, que provavelmente dormiriam após suas aventuras distribuindo presentes. Entretanto, Gilbert negou, sugerindo que invertessem. Anne preferiu concordar, mas, em consideração, ficando com Jem também, achando melhor do que deixar o menino ali no meio.

   Sob a companhia do Imperador, o médico fez a concessão de atender na véspera do natal, examinando o tornozelo da princesa e garantindo que não era nada grave, que ela havia apenas o torcido e teria que o deixar em repouso por alguns dias, pondo gelo periodicamente.

   Tendo dispensado os funcionários para as festividades e deixado apenas os seguranças, o próprio Gilbert foi buscar o gelo, mas, sua cabeça chegava a doer com os acontecimentos da última hora, não conseguindo organizar seus pensamentos corretamente a ponto de poder conversar com sua filha sem exceder o necessário. 

   Respirou fundo, andando por aqueles vazios corredores que o faziam se sentir um Imperador sem um Império, uma das duas pessoas mais poderosas de uma nação inteira, sem poder algum, tendo que submeter-se ao medo pela imprevisibilidade da humanidade.

   Observou os quadros que eram postos em locais de destaque como se fossem imagem de santos. Ao centro, estava retratado ele e Anne abraçados, os monarcas eternizados nos precisos traços do pincel. Em um de seus lados, uma pintura dele, do outro, uma pintura dela. Gilbert lembrava-se desse dia como se tivesse acontecido ontem e nunca imaginou que o pintor fosse conseguir chegar perto da perfeição que a Imperatriz constituía naquela cena, mas conseguiu.

   Exagerado ou não, ameaçou colocar a pintura de sua esposa em todos os cômodos daquele palácio e até hoje ainda tenta a convencer a fazer isso.

   Seguiu seu caminho e, como um filho pródigo voltando ao lar, seus pés involuntariamente o levaram até o banco do piano, onde sentou-se não necessariamente para tocar, talvez, apenas para sentir a segurança que o instrumento sempre o gerou. Seu olhar precipitou sobre a correntinha em seu pulso, passando seu dedo pela pulseira e segurando cada um dos pingentes.

   Agora, eram seis ao todo e isso normalmente o fazia sorrir, como uma lembrança da sorte que tinha, e de quem carregava consigo, como um lembrete o avisando para os orgulhar, para merecer carregá-los.

   Dessa vez, Blythe apenas tomou goles cansados de fôlego, suavemente tocando as teclas pretas e brancas, impulsionando os seus dedos à tocarem alguma música natalina, qualquer uma, ele sabia várias e deixou que sua mão escolhesse a que bem entendesse, como se possuísse vontades diferentes das dele. Era mais ou menos isso, mesmo. Tocava algo animado, vendo as grandiosas decorações natalinas, mas não sentindo-se na véspera da festividade, mesmo que quase podendo escutar as risadas e ver os sorrisos nas casas de todo Império.

   Rapidamente parou de tocar e olhou sobre seu ombro quando escutou o ranger da porta cuidadosamente se abrindo, aliviado ao ver apenas sua esposa adentrando seu refúgio, sorrindo-lhe compreensiva e garantindo que era apenas ela, a qual sentou-se ao seu lado e atenciosamente o puxou, deixando que descansasse a cabeça em seu ombro.

   Anne enlaçou suas mãos, acariciando o dorso da mão de seu marido e observando o firme elo que formavam juntas, com aquele contato, escutando suas preocupações e tomando-as como suas também.

   — Eu não posso falar que sei o que você está sentindo. — admitiu em uma calmaria tão plácida quanto a neve que caía. — Mas você não pode condenar alguém pelos crimes de seus familiares.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora