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↬𝐆𝐈𝐋𝐁𝐄𝐑𝐓 | ♚
Eu já não tinha nenhuma noção de tempo ao entrar nesse palácio. Não sabia se era terça, quarta, domingo, o fim ou começo dos tempos. Não importava. Para falar a verdade, eu já não tinha noção de nada, nada mais importava. Eu perdi tudo. Para que tentaria entender tudo então?

Tudo.

Pedindo silêncio para os guardas que sobraram no que eu conclui ser madrugada, entrei delicadamente no quarto de Walter. Encontrei os dois dormindo. Meu tudo. Eu ainda tinha eles. O tudo ainda não estava perdido. Apenas o todo estava.

Caminhei devagar até eles, não fazendo barulho nem com o levantar dos cantos dos meus lábios. Um sorriso. Deus, eu sentia falta de dar esse sorriso. Era tão genuíno que eu só percebia que o dei quando ele se esvaziava de meu rosto.

Dei um beijo na testa de Walter encolhido, fazendo o mesmo com Rilla espalhada. Delicadamente retirei a mão da ruiva da cara de seu irmão. Consegui sorrir mais ainda ao fazer carinho pelos seus cabelos bagunçados.

Ruivos. Tão ruivos que pareciam uma calorosa fonte luminosa no escuro. Não me surpreenderia se insetos fossem atraídos até essas mechas. Aqueciam o meu coração em momentos gélidos de desespero. Eram espantosamente iguais o dela.

Enquanto Walter... Walter reinventou a cor castanha para mim. Igual. Complemente igual ao meu cabelo. As vezes conseguia me confundir vendo uma mecha ondulada caindo em sua testa igual caía na minha. Antes achava castanho sem graça, apenas mais um detalhe que eu pretendia ignorar em mim. Agora era especialmente único.

Mas eu ainda tinha as mãos fazendo carinho nas mechas ruivas. Conseguia enganar o meu cérebro dessa forma. Era como se eu estivesse passeando meus dedos pelos outros cabelos esvoaçantes iguais a esse. Walter que não me escute, mas nenhum cabelo nunca vai superar esse ruivo.

Com cuidado, retirei do meu bolso dois colares. Ambos constituíam de uma fina e delicada corrente de prata, em seu meio tendo um pingente. No processo de retirar eles, sem querer derrubei do meu bolso a pulseira no mesmo material prateado. Olhei rapidamente para as crianças para conferir que elas não tinham acordado, pegando, sem movimento bruscos, a pulseira do chão ao confirmar que o sono ainda as acalentava.

Descansei os cordões na mesinha ao lado da cama, apenas para colocar a pulseira de volta no meu pulso direito. Lá estavam eles de novo. Rilla, Walter e Anne. Todos os três marcados naqueles pequenos círculos que refletiram na penumbra que o luar esfumado por nuvens causou.

Eu necessitava escolher os nomes logo. Eu precisava ter os nomes dos meus outros filhos ali. Dos meus bebês. Dos dois. Não só de um, dos dois.

Preferi tentar diminuir esses pensamentos. Eles não me faziam bem, e eu estava lutando para não ir atrás de algumas garrafas de bebida neste exato momento. Me focava em Rilla e Walter. Eles não mereciam ter um pai bêbado. Me focava nos meus dois pequenos. Independente de qualquer coisa, os dois também não mereciam ter um pai bêbado. Me focava nela. Apesar de tudo, ela também não merecia ter um... cônjuge bêbado. Pelo menos não nesta situação.

Pus com cuidado os colares no pescoço dos dois, e tive o resultado satisfatório deles não terem acordado. Apenas dei mais um beijo em suas testas, desejando um silencioso boa noite antes de sair.

Eu parecia o mais derrotado dos seres, como se toda a ira de todos os deuses estivesse se virado contra mim, me atingindo sem a mínima piedade. Caminhei cansado até o quarto. Eu inclusive também parecia um bêbado atônito caminhando arrastado, mas eu tive a decência de recuperar todas as minhas faculdades mentais após beber que nem um condenado uns dois dias atrás.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora