137- Concepção de felicidade

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚  
   Gilbert tomou o cuidado de tirar do viva-voz, assim que notou que Diana não lidou bem com a notícia da possível torção do pé de sua filha; e Blythe realmente não precisava de Nan e Di repetindo palavras feias por aí.

   — Nós já estamos chegando. — Blythe garantiu voltando a dirigir, assim que o sinal se mostrou favorável. — Não precisa, Di. Eu já chamei um médico e ele já está indo para aí, também.

   Com sua perna sobre o colo de seus melhores amigos, ocupando a totalidade dos bancos da segunda fileira, Déli trocou um discreto olhar com Rilla e Walter, quase os pedindo para não... não tentarem por mais lenha na fogueira. Já havia coisa o suficiente acontecendo.

   — Rilla e Walter estão bem. — o homem retornou a assegurar, ajeitando os fones de ouvido que havia posto, para não ter que apoiar o celular em seu ombro enquanto dirigia. — Espero, eu, que arrependidos, mas bem.

   Os gêmeos desviaram os seus olhares, quando foram pegos pelo mirar de seu paispalho no retrovisor, fazendo o homem apenas minimamente negar para si próprio, enquanto discretamente diminuia o volume de seu celular.

    — Como eu nunca percebi que eles são seus filhos? — Diana ficou se questionando baixinho, como se esquecesse de que Gilbert estava ali, no que ele achou ser para se distrair do fato de sua filha estar com uma torção no tornozelo. —

   Blythe poderia responder isso com muita clareza, porque já se pegou pensando exatamente nisso. A resposta era clarividente para ele, quando não era nem para sua Anne.

    A vida é peculiar. Anne errou uma vez, há quase catorze anos atrás, e se embolou em um emaranhados de mais erros, decorrentes de sua matriz.

   Gilbert se pega ponderando que, naquela época, em sua visão de adolescente, já a via como uma mulher adulta. Quer dizer, dezessete anos, para um menino apaixonado e com poucos conhecimentos sobre a vida, era tipo uns vinte e cinco! Mas, as vezes, lembrava-se de Rilla, de Déli... quando piscar, já vão ter dezessete também, e, agora, Gilbert sabia que as chamaria de crianças quando atingissem essa idade, porque é isso que elas serão; crianças.

   Acho que ninguém nunca conseguiu compreender isso perfeitamente, porque até ele tardou um pouco para chegar até tal constatação: Anne era apenas uma criança. Uma criança no meio do nada, sem destino certo, sabendo que, naquele instante, teria que dar destino para mais duas crianças em seu ventre. Uma criança assustada que foi recebendo pancadas do mar tortuoso até se sedimentar igual uma rocha.

   Era fácil simplesmente não ver que Rilla e Walter eram filhos de Gilbert. Não porque Roy era minimamente parecido com ele, mas porque Anne... ninguém nunca teria a coragem de duvidar que a Anne deles poderia fazer algo do tipo. Eles conheciam aquela criança, a viram crescer uma rosa mesmo perante aqueles espinhos, e era impensável que ela pudesse ter feito algo do tipo.

   Tanto que, se Gilbert bem se lembrava, foi Mary a primeira a questioná-lo sobre a possibilidade de Rilla e Walter serem seus filhos; ela não conhecia verdadeiramente a Anne.

   — Também não sei. — ele respondeu ajeitando suas mãos mais firmementes no volante, dando uma olhada no banco vago ao seu lado. — Mas não fique com raiva dela, Di. Vai por mim, você se arrepende muito, depois.

   Déli colocou cuidadosamente suas pernas para baixo, movendo-se através de pulinhos no assento, apoiando seu queixo no banco de seu padrinho, olhando cuidadosamente para ele, como quem perguntava se sua situação era muito ruim.

   Intercalando o olhar entre o trânsito e sua afilhada, Gilbert demorou, mas entendeu que Déli achava que sua mãe talvez pudesse estar com raiva, por sua culpa.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora