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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
Anne e Gilbert a muito já haviam se acostumado com as luzes das softbox, o olhar julgador da câmera, a ansiedade das pessoas atrás de cada lente, a expectativa pelo conto de fadas. Dentro da lógica do pão e circo, eles eram o pão, mas facilmente também eram os membros do circo, talvez, o circo.

As cadeiras posicionadas uma ao lado da outra no pano branco, possibilitavam o contato das contrastantes mãos. A mão fina e delicada de Anne em constante toque com a encorpada de Gilbert. Aquela era uma quebra de protocolo. Demonstrações de carinho em público não eram permitidas, porque eles sempre estavam em trabalho para o Estado, mas daquela vez, era o amor deles que estava trabalhando para o Estado.

Damos um pedaço de nós mesmos através do toque. Entre todas as coisas em nós, poucas são tão únicas quanto as digitais. Compartilhamos as nossas digitais com o contato. Deixamos a nossa marca com um simples toque, e aquilo era uma das únicas coisas que Anne e Gilbert compartilhavam.

Juntando com os sorrisos, os olhares, as palavras bonitas... o toque dava o toque final em um casal apaixonado, no conto de fadas invejado, querido, bem tido, bem visto, adorado por todos, menos pelos quais estão o vivendo.

O mundo inteiro ansiava para presenciar o verdadeiro "felizes para sempre" dos livros, aplicado na bela Imperatriz e no belo Rei, mas Anne e Gilbert sabiam que aquilo não era o felizes para sempre deles, e sim o pós felizes para sempre que eles haviam encontrado a alguns meses atrás, mas que caiu ao mesmo tempo que a lona do circo era erguida.

Eles estavam certos. Não conheceriam o alto sem o baixo, mas também não conheceriam o baixo sem o alto, e a pouco tempo eles estavam muito alto, proporcionalmente, fazendo a queda ser avassaladoramente alta também.

- Majestades, o mundo inteiro sabe que os casamentos reais raramente são por causa do amor, mas todos chegamos a rápida conclusão de que vocês, Imperatriz Anne e Rei Gilbert, realmente se amam. Como é para vocês perceber que esse amor é reconhecido? Que esse amor, talvez, seja literalmente o que traz a atual harmonia do mundo?

"Não era fácil". Anne e Gilbert poderiam rapidamente responder isso. Não era fácil quando Anne não sabia se havia mais amor em Gilbert, e Gilbert também não sabia se havia mais amor em si mesmo. Apenas tinha a certeza que nunca havia tido amor nela, e que aquelas perguntas sobre amor, eram as mais irônicas no contexto atual dos dois, mas eles sorriram um para o outro, na harmonia que passavam para as câmeras e que faltava fora delas.

Percebam a diferença: para Blythe, aqueles sorrisos eram as coisas mais falsas que ele já fez em sua vida. Para Shirley, eram o único momento em que ela poderia trocar o carinho que ela desejava compartilhar com ele durante o dia inteiro. Perceberam?

Ótimo, porque a mulher atrás da câmera fazendo as perguntas, não percebeu a verdade por trás desses sorrisos carregados de mentiras.

- É surreal. - Anne responde com o seu doce sorriso que tanto encantava mares de pessoas. - Vivemos em uma... uma posição que permite o mundo inteiro nos ver. Nenhum casal pode vivenciar isso, mas nós podemos. É estranho não ter ninguém para... conversar sobre, mas é gratificante saber que podemos ser um certo tipo de inspiração.

Anne Shirley Cuthbert era a preferida do mundo inteiro. A sua gentileza era admirada, seu bom coração era posto no pedestal do exemplo, sua doçura considerada majestosa, seus trejeitos delicadamente perfeitos, sua bondade estimada, mas se tinha algo que gerava o ápice do amor das pessoas junto com os trejeitos e as palavras, era o olhar.

O olhar afável que juntava todas as suas qualidades em uma simples perfeição. A população mundial derrubaria céus e montanhas para poder ter esse olhar, mas ele já tinha dono. Gilbert Blythe era o sortudo da vez para eles. As vezes ele não queria ser o sortudo da vez.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora