119- As coisas (não) estão bem

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❝𝐍𝐀𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐑𝐀 | ♛♚
   Na terça-feira, Gilbert já estava novamente naquele hospital, cumprimentando seus funcionários e seus seguranças com pequenos acenos de cabeça, ao tempo que sentia suas pálpebras pesarem, pedindo para se fechar.

   No dia anterior, as crianças tiveram a oportunidade de ficar com ele e com Anne o dia inteiro, apenas necessitando se despedir perto das nove da noite, quando seu paispalho as levou para casa, mas, assim que conseguiu por todos eles para dormir, perto das onze, retornou ao hospital para ficar com sua ruvinha, levantando-se pelas quatro e meia da manhã para ir, dessa vez, participar do acordar de seus filhos.

   Precisou ser honesto consigo mesmo, não pediria para Ruby e Moody fazerem isso, mas, se ambos não estivessem aqui, servindo de regentes, fazendo o trabalho dele e de Anne nesse meio tempo, possivelmente Blythe já teria declarado perda total, porque, hoje, ainda buscou Jem na creche, buscou Rilla e Walter na escola, as levou junto com Nan e Di para ver a mamãe, e repetiu todo esse processo que o faria, amanhã, acordar às quatro e pouca novamente.

   Poderia simplesmente deixar com que ficassem com seus tios e viessem visitar Anne quando esses viessem? Poder, ele poderia, mas, em uma tomada de decisão conjunta com sua esposa, ambos concluíram que não queriam fazer tal. Nenhum filho que passou crucialmente perto de ter perdido a sua mãe, merece ser afastado ou largado de escanteio, perdendo vez para as "coisas de adulto".

   Além do mais, nem o próprio Gilbert estava tendo a capacidade de largar sua Anne. Apenas o fazia quando estava cuidando de seus filhos, mas sempre ficava alguém para ela não ficar sozinha. Seja Diana, Jerry, Déli, Harry, Moody, Ruby... apenas compreendia que ela precisava de alguém consigo naquele quarto.

   Mas, nesse horário, Anne ficava sozinha de qualquer forma, o fazendo a encontrar deitada na cama, encolhida com os olhos fechados naquele breu noturno. Esperava encontrar ela ainda acordada, mas só fechou cuidadosamente a porta e foi até o lado da cama, depositando na cabeceira a sacola que trouxe e apenas singelamente sorrindo com as mechas ruivas consumindo como fogo as colchas brancas.

   — Boa noite, Noite Estrelada. — sussurrou, delicadamente deixando um beijo em sua testa, a cobrindo e apenas ajeitando o braço enfaixado para não ficar em atrito com a coberta. —

Retirou seu terno e o deixou na mesinha redonda onde acostumou-se a ter suas refeições, esticando seus braços e sutilmente contraindo suas feições em uma careta quando não só sentiu como escutou seus ombros estalarem, o levando à apenas suspirar e tomar cuidado para não fazer barulho ao deitar-se no seu novo amigo sofá.

"Amigo". Super confortável, macio, fofinho, um paraíso que chamava de particular.

O responsável pelo estalar de seus ombros e a dor de suas costas.

   E, após ficar se remexendo de um lado para o outro pra achar posição, fechou seus olhos e esperou o sono vir. Sentia todas as células do seu corpo o falando para dormir, apenas... apagar, capotar, como quisesse chamar, mas, assim que fechou seus olhos, a insônia o assombrou.

   Quanto tempo se passou? Não soube. Mas chegou à certo ponto que ele apenas bufou e sentou-se de supetão, coçando seu rosto e o apoiando cansadamente em sua mão, apenas focando seus olhar em sua esposa, tão parada, tão encolhida, tão...

   — Algum motivo, em específico, para você estar acordada? — segurando um sorriso nos cantos de seus lábios, questionou diferenciando-se dos sussurros que antes eram usados. —

— Eu não estou acordada. — a ruiva murmurou não se dando o trabalho de mexer um músculo sequer. —

   — É claro que não. — riu como se fosse óbvio e devesse saber de tal. — Esqueço que você é uma sonâmbula seletiva.

Road Trip III - Shirbert e Anne with an EOnde histórias criam vida. Descubra agora