102.

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Lorena 🍇

Visto meu vestido preto, segurando ao máximo as lágrimas. Prendo meu cabelo em um coque e pego um óculos preto. Escuto uma buzina de carro e só pego meu celular, saindo de casa e vendo o carro do Trovão parado lá na frente.

Ele que se ofereceu para ir me levar para o enterro no dia seguinte, até falei que não precisava, mas ele fez questão, então eu não podia fazer nada. Abro o carro e sento, sentindo o olhar dele em mim.

Trovão: Tá melhor? — assenti. Não era mentira, eu já estava melhor que ontem, mas continuo do mesmo jeito. Ele também não falou mais nada, só deu partida seguindo o caminho. Não tinha pique pra conversar e ele pareceu entender, então fomos o caminho todo calados.

Assim que chegamos, ele estacionou o carro em um local distante.

Trovão: Vou aproveitar pra resolver um b.o pela ronda e em menos de uma hora eu vou tá te esperando aqui no mermo lugar, já é? — olho para ele.

Lore: Tá, mas se não quiser... — ele nega sem me deixar terminar de falar.

Trovão: Vou vim, pô. Já te mandei o papo! — assenti sem falar mais nada e sai do carro. Fui caminhando até o cemitério e assim que pisei o pé lá, senti a grande vontade de chorar e não fiz nada para parar, apenas deixei o choro vir.

Vi alguns familiares e amigos e meu olhar já bateu em Mirele, que veio até mim e me abraçou, fazendo as duas chorarem. Não sabia que um abraço curava tantas coisas... não curto ele, mas naquele momento eu estava precisando de uns.

[...]

Trovão ⛈️

Observo ela entrar no carro com os olhos inchados e pequenos de tanto chorar.

Pô, tava com uma pena fudida dela e ainda tava pensando no meu filho. Apesar de tudo, ela tinha que ser forte por ele, por causa de que o que ela sente, meu filho também sente. Claro que agora não é o momento, ela tá mal e eu entendo.

Lore: Obrigada por vir me buscar e por ter me trago. — olha para mim e eu faço o mesmo.

Trovão: Tem pra que agradecer não, tô fazendo de coração. — ela sorriu fraco e encostou a cabeça na janela. Fiquei calado seguindo o caminho para o Chapadão.

Tinha um menor de moto que eu botei na contenção. Sempre com segurança.

Às vezes eu via ela limpar umas lágrimas que desciam, mas não chorava de verdade. Uma cota depois nós chegou e eu parei em frente a casa dela. Percebi que assim que nós pisou no Chapadão ela fechou o olho até chegar em casa.

Lore: Obrigada... — olho pra ela.

Trovão: De boa. — destravo o carro.

Ela se vira para sair e assim que saiu, abriu a porta de novo, se abaixando e eu olhei para ela.

Lore: Você pode ficar essa noite comigo? — falou sem jeito — É que Mirele só vem amanhã e eu não queria ficar sozinha aqui... — respira fundo.

Trovão: Posso, pô. — desligo o carro, tirando a chave. Peguei o radinho mandando o menor meter o pé pro jacaré, e sai do carro, vendo ela olhar para a rua. Lorena caminhou até a casa e abriu o portão. Entrei na casa dela e ela foi caminhando até o banheiro, provavelmente para tomar banho.

Já fui logo tirando a camisa e enrolei a pistola nela, deixando em um cantinho qualquer. Pego uma maçã e já coloco na boca.

Deito no sofá e fico mexendo no celular, esperando Lorena sair. Uns vinte minutos depois ela saiu com o cabelo molhado e de pijama de frio. O olho mais inchado e a aparência de tristeza. Porra... ela deve tá fudida por dentro e tá tentando ser forte, mas já sei que quando desabar vai ser pior do que ontem e hoje.

Lorena foi até a cozinha e começou a mexer em uns bagulho. Pouco tempo eu senti um cheiro de comida.

Lore: Eu esquentei uma lasanha, você quer? — levanto do sofá e vou até ela.

Trovão: Pode ser. — ela assentiu, colocando meu pedaço em um prato.

Lore: Tá bom assim? — assenti e ela me deu o prato com um garfo e faca — Tem Guaravita, quer?

Trovão: Ainda. — ela pegou da geladeira e me deu. Ela saiu da cozinha e eu ergui a sombrancelha.

Trovão: E tu, loira? Não vai comer? — ela me olhou.

Lore: Não tô com fome... — levanto da cadeira.

Trovão: Que papo de não tá com fome, vai comer sim, Lorena. Tá maluca? — procuro um prato e coloco a lasanha, vendo ela me olhar. Pego um garfo e faca e boto o prato na mesa.

Trovão: Vem, bora. Vai comer sim! — ela ergue a cabeça — Brota logo. — ela bufou e veio, sentando na mesa.

Trovão: Quero ver tu comendo tudo e com vontade. — botei um pedaço na boca e ela fez o mermo — Isso aí mermo. — fiquei lá comendo e vendo ela comer sem vontade nenhuma, mas comeu pelo menos a metade.

Lore: Enchi. — afasta o prato, colocando a mão por cima da barriga.

Trovão: Deu pro meu filho dar uma enchida. — pego meu prato e o dela, colocando na pia. Aproveito pra pegar água pra mandada.

Trovão: Bebe. — entrego pra ela que bebeu.

Lore: Vou escovar os dentes e vou dormir, tá? — me entrega o copo — A porta do quarto tá aberta, você só precisa trancar o portão e apagar as luzes.

Trovão: Já é, vai descansar. — ela levanta e vai caminhando até o quarto. Confesso que tava sentindo falta do deboche e da marra dela.

Pô, reclamo tanto, mas faz uma falta do caralho, mané...

Outra Dimensão [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora