Outra Dimensão [M]

143.

Lore 🍇

Trovão: Aí, loira. — sinto sua mão tocar na minha coxa e viro minha cabeça para olhar para ele, que assim que eu o olho, volta a olhar para a frente e virar o volante para a direita — Tu tá se sentindo como? — volto a olhar para a janela — O bagulho foi do nada...

Lore: Eu não sei... — mordo meus lábios — No dia do meu aniversário eu descubro que tenho um irmão. — dou risada sarcástica — E ainda ser irmã de quem? — nego — Meu Deus, esse tempo todo e eu nunca soube de nada.

Trovão: Eu vou bater um papo com ele e ele vai me explicar mais esses bagulho. — volto a olhar para ele — Tu nunca falou nada sobre o teu pai pra mim.

Lore: Ele morreu quando eu ainda era uma criança. — respiro fundo — Era envolvido, morreu em um trocação de tiro. Só tenho lembranças por fotos.

Trovão: É foda. — vejo ele parar o carro em frente a casa dele e virar seu corpo para trás — O cachorro já tá dormindo. — me viro para olhar para ele que estava deitado dormindo — Qual é o nome dessa porra.

Lore: Porra é você, ele é o nosso filho. — ele bufa — Respeita o nosso caçula.

Trovão: Já disse que o meu filho é o que daqui uns meses vai sair pela a tua buceta. — semicerro os olhos para ele.

Lore: Olha, eu não consigo mais abrir minha boca pra discutir com você, só perca de tempo. — abro a porta e saio do carro — Tira Marley do carro. — vejo ele me olhar pela a janela — Agora! — vou andando em direção a porta e abro ela.

Eu ainda não sei o que pensar e o que falar. Foi muito do nada, uma coisa que eu nunca imaginaria que poderia acontecer. Na minha cabeça só existia eu, sempre fui eu, nunca tive irmãos, desde que meu pai morreu, minha mãe nunca quis tentar outro filho, já que o amor da vida dela era ele. Em pensar que eu passei vinte e um anos da minha vida sem saber que tinha um irmão. E ele sempre soube e nunca me disse.

Eu não tive culpa, eu era apenas uma criança, não sabia que existia outra família, na realidade, não sabia nem falar direito. Mas eu não tiro a razão dele, deve ter sido muito difícil pra ele. Mas o que eu posso fazer?

Olho para Victor quem vem andando com o nosso filho no colo e eu sorrio. Tão bonito com o filho dele, tal pai, tal filho.

Lore: Own. — vejo ele me olhar e colocar o cachorro que já estava acordado no chão.

Trovão: Oiá, porra. Começa não. — gargalho e Marley sai cheirando a casa toda. Espero que não faça xixi. Ando até o sofá e sento nele, relaxando meu corpo. Eu gostei do meu aniversário, se não fosse o final...

Sinto Breno mexer e sorrio. Eu quero tanto ter essa criança fora dessa barriga. Tão ruim se sentir cansada a todo momento, em poucas coisas que você faz, você já se sente inútil.

Além de toda esse estresse da gravidez, ainda vem essa história. Não sei o que pensar, em o que agir. Realmente está sendo tudo muito novo, muito recente pra ter algo a se pensar e agir. Até hoje eu não sabia de nada, foi muito rápido. Eu não sei o que irei fazer e em o que será daqui para a frente. Na minha cabeça, sempre fui filha única, e sempre foi a minha mãe e pronto. Nem ao meu pai eu tive oportunidade de conviver.

E hoje eu não tenho como saber se minha mãe sabia disso tudo e não me contou, ou ela simplesmente não sabia e foi enganada a todo esse tempo, morreu sem saber da verdade. Isso me angústia profundamente, não ter resposta, não poder ir perguntar para ela, porque ela não se encontra mais aqui. Em pensar que talvez eu iria morrer e também nunca iria saber dessa história, me angústia mais ainda.

Mas o que me deixa mais apreensiva, é em o que será daqui para frente com essa noticia.

Ele não tem culpa, e eu também não tenho. Não adianta querer jogar a culpa para mim, de uma pessoa que nunca soube de nada.

Trovão: Tá pensando no bagulho? — vejo ele se aproximar e sentar ao meu lado no sofá, apenas olho para o teto e concordo com a cabeça — Nós parece que vive uma novela, pô. E na real, nossa vida é uma novela, que no final o vilão, que é nós, sempre morre, e os heróis, os vermes, ficam vivos. — viro minha cabeça para ele.

Lore: Tá falando isso por quê? — ele nega com a cabeça.

Trovão: Essas parada fica na minha cabeça, pô. — põe a mão grossa em cima da minha coxa — Vida no crime é curta, hoje eu posso tá aqui, ano que vem não, até mês que vem... — reviro os olhos e coloco a mão em sua boca, impedindo ele de continuar falando.

Lore: Victor. — tiro a mão da boca dele — Já tá sendo horrível saber o que eu to sabendo, ainda vem você falar besteira. — bufo — Para com isso.

Trovão: Não é besteira não, é a realidade. — viro meu corpo no sofá para ele.

Lore: A realidade que vai demorar pra acontecer. Para. — tiro sua mão da minha coxa e levanto do sofá — Vou tomar banho, tô cansada e quero dormir. — olho para o cachorro que cheirava os móveis da casa — Aquela saco que o menino veio trazer aqui é a comida dele? — falo sem olhar para ele.

Trovão: É mermo. — apenas saio dali, indo até a sacola e procuro dois recipientes para colocar água e ração para ele.

Lore: Vem, Marley. — chamo ele, que continuava cheirando as coisas, ele ainda não entendia seu nome. Faço barulho com a ração, o que faz ele escutar e se virar, sentindo o cheiro da ração e vir correndo. Solto no chão, vendo ele devorar a comida, parecia estar com muita fome — O bichinho... quanto tempo será que você tá sem comer, hein? — ele me ignora, comendo rapidamente — Devagar.

Ele termina de comer e vai até a água, bebendo. Ele era filhote ainda, mas era grandinho, talvez uns 4 meses. Marley vem até mim e começa a lamber meus pés.

Lore: Vou arrumar um lugar pra você dormir lá no quarto. — começo a andar — Me segue — vejo ele andar atrás de mim, entro no quarto e vou até o quadra roupa, procurando um lençol velho, assim que encontro, dobro ele no meio e coloco no chão — Vem, amor. — chamo ele, que vem correndo e sobe em cima — Deita aí. — ele senta e coloca a língua para fora, fazendo um barulho como se estivesse cansado, mas não aparecia estar cansado não — Agora fica aí, que eu vou tomar banho, tá? — ele abaixa a cabeça para o lado direito e me olha.

Ando até o banheiro e entro. Tomo banho e  coloco a toalha ao redor do corpo, indo abrir a porta. Assim que abro, vejo ele em cima da minha cama e ela toda desforrada.

Lore: Marley!