"obrigado"

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- Sim senhor Mota? - virei-me e ouvi estender
a mão livre para mim e movimentar o dedo
indicador para que eu me aproximasse. Eu fiquei
parada como uma idiota tentando assimilar o que
o seu ato queria dizer. Mota abriu o olho e me olhou
impaciente.

- O que foi? Não se preocupe, eu não mordo, - ele
me olhou malicioso e deu unm meio sorriso lindo.
Eu quase tive um AVC. - Diga-me.. Sabe fazer
massagem? - ele falou voltando a expressão facial
austera. Eu fiquei sem reação. Qual o propósito dele
saber algo como se eu fazia massagem?
.
- Bem eu..- murmurei incapaz de pensar em algo
coerente para falar.
.
-Venha aqui e me faça uma massagem no ombro. Eu
pediria isso a minha secretária, mas ela sumiu. - ele
disse e continuou naquela posição despreocupada.

Eu me aproximei cautelosamente, mas em meu
peito meu coração martelava rápido. Postei-me
atrás de sua cadeira e coloquei minhas mãos em seu
ombro.

-Hmmm.. Senhor Mota eu não tenho
experiência com massagem.
.
-Então finja que tem. - ele falou, os olhos fechados.

Eu comecei a massagem básica nos ombros, aquela
que todo ser humano sabe fazer. Mesmo não
sentindo sua pele, mesmo sentindo apenas a maciez
do fino tecido usado em seu paletó, ainda sim eu
me senti inebriada. Seu cheiro era bom, muito bom,
uma colônia de boa qualidade certamente.

João estava tenso, pareceu relaxar em minhas mãos
e fechou os olhos. Eu poderia ficar ali por dias
massageando-o nos ombros e não me importaria.

Eu queria muito mais do que massageá-lo, queria
me inclinar e abraçá-lo, mas eu não faria isso por
que eu não era burra, eu sabia que eu não era o tipo
dele, do maravilhoso João Pedro Mota. Eu era só
mais uma na multidão.
Perdida em meus devaneios eu nem notei que
alguém havia entrado na sala. Alguém pirregateou
alto.

Virei-me abruptamente, era Kate Anderson
secretária de João. Ela me olhou com fúria, como se
estivesse cometendo um pecado capital apenas por
estar prestando aquele favor a ele. Eu me encolhi
ante seu olhar e afastei-me.

Mota permaneceu
calmo, ou aborrecido demais com algo para ligar
para a situação estranha que se instaurou naquele
momento.

- Estou indo para o meu setor agora senhor
Mota. - falei caminhando apressadamente.
.
-Obrigado. - eu o ouvi dizer. Quase virei-me para
olhá-lo novamente, mas a porta foi imediatamente
fechada atrás de mim por Kate.

Foi pouco, mas me senti a mais afortunada das
mulheres por ter entre meus dedos as vestes que o
cobriam, por ter seus olhos em minha direção, por
ter ouvido de seus lábios um "obrigado".

Cheguei ao meu lugar de trabaho, alegre e trêmula.
Bela logo captou meu estado de espírito.

-Nossa Júlia, que bicho mordeu você?
.
- Bela não sabe o que me aconteceu!
.
- Não sei se você não contar. O que houve?
Sentei em minha cadeira puxando para a direção de
Bela.
.
-Fiz massagem em Mota!
.
- Sério? Oh meu Deus! Como? - Bela me olhava
maravilhada.
.
- Bem eu fui levar um cd para ele e ele estava
atacado por algum motivo. Quando eu ia sair de sua
sala, ele me pediu a massageme eu fiz. - tentei falar
casualmente, mas por dentro eu tremia de emoção.
.
- E aí? Como foi senti-lo?
.
- Eu só senti o seu paletó, Bela. Foi bom mesmo
assim. - eu fechei os olhos e lembrei-me de sua voz,
seu olhar, tudo.
.
- Se estava bom por que não demorou mais em sua
sala?-Bela perguntou.
.
- Por que a secretária dele apareceu e ela me
encarou de um jeito! Não sei por quê. Fiquei tão
intimidada que fui embora.
.
- O que? Júlia, você nāo sabe por que a Kate
Anderson, aquela vadia de quinta, ficou irritada com
voce?
.
-Não Bela, Você sabe? - olhei confusa para ela.
.
- Claro! Quem não sabe? Ela tem um caso com o Mota

Ela tem um caso com o Mota

Ela tem um caso com o Mota

Soou como um eco desagradável em meus ouvidos.

Algo tão na cara, mas ainda sim doeu. Ouvir uma
especulação dessas doeu. Como se as chances de
ter algo com Mota, antes diminutas pelas nossas
diferenças, tivesserm se exaurido.

Afinal Kate, fosse
o que fosse, era linda. Loira morango (uma mistura
de loiro com vermelho, criando um tom de ruivo),
alta, magra, com um corpo escultural,... Tantas
qualidades! E eu era uma jovem de vinte e um anos
comum, sem nada de espetacular.

E aquilo foi o suficiente para, após o trabalho,
chegar a meu pequeno apartamento e chorar
copiosamente. Eu era deprimente mesmo, mas o que
eu poderia fazer além de me lastimar? Eu amava o
inalcançável e isso era tão doloroso! Se eu pudesse
mandar em meu coração, eu nunca amaria alguém.

Mota era meu primeiro amor. Eu nunca havia amado
ninguém antes dele. Eu o amei desde o primeiro dia
em que o vi quando vim trabalhar nesta empresa.

O que seria de mim? O que seria de Júlia Mara Franco? Eu não sabia, eu não queria saber.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora