Olhei para o prato servido, a panqueca que quebrou quando tentei virar e o ovo que deixei tempo demais sem mexer.
- Que coisa horrível! Talvez eu deva sair e comprar algo... - murmurei olhando para o meu relógio de pulso.
Não daria tempo e de qualquer forma eu não queria sair de casa. Júlia poderia ir embora e deixá la ir sem falar com ela não era uma boa idéia.
Peguei os pratos preparados por mim e montei a mesa. Olhando para a comida e a apresentação da mesa, eu realmente senti a vergonha me tomar. Eu não sabia o básico!
"Espero que cozinhar bem não seja um requisito para os maridos perfeitos. Eu estaria perdido se fosse esse o caso!”.
Após arrumar a mesa da sala de jantar, tive a idéia de arrumar a comida em uma bandeja e levá la a Júlia. Bem... Como eu não sabia como um bom marido procedia, eu estava me inspirando nos poucos seriados e filmes estúpidos que vi. Devo ter visto que era romântico levar café da manha para a companheira.
Arrumei a bandeja e me virei. Ela estava de pé, arrumada, olhando-me surpresa. A felicidade que senti ao vê-la não tinha precedente. E então me lembrei que, por mais que tivesse me escolhido, ela era uma incognita. Então a cautela me tomou e tentei, sem sucesso, conter meu sorriso. Eu não queria assustá la com a explosão de sentimentos que me tomava. Procuraria ser contido com a felicidade, eu pelo menos morreria tentando.
"Vamos lá João Pedro, está na hora de começar com o pé direito!”
- Oi amor. Eu estava indo levar café da manhã para você. - falei gentilmente. Deixei a bandeja em cima da mesa e prontamente retirei o avental que usei enquanto cozinhava. - Já que você está de pé então você poderia me acompanhar e tomar o café junto a mim na mesa. - deixei o avental em uma cadeira e afastei uma cadeira para ela sentar.
A mesma me encarava, atordoada com meus atos. Ok, eu havia sido um cretino no passado e minha mudança estava surpreendendo ela. Eu deveria entender sua atitude, mas ainda sim ficava chateado com tudo isso. Depois de ela me escolher eu tinha que ter algum benefício, não é? - Sente-se. - pedi risonho.
Júlia sentou-se e seus olhos mostravam sua cautela. Servi a comida e fiquei constrangido com a cara que ela fez ao ver a gororoba.
- Por que estava usando avental? Onde está Magdalena e Eli? - perguntou.
Enquanto tomava meu lugar eu expliquei a ela.
- Magdalena ligou. Eli acordou indisposta e ela me pediu permissão para chegar mais tarde. Eu resolvi dar o dia de folga para elas duas visto que Eli não está bem e Magdalena claramente quer ficar perto da filha cuidando dela. Acha que fiz mal?
- Você fez bem. - murmurou e seus olhos em momento algum se desviaram do prato. Ela estava claramente me evitando, pelo menos evitando olhar para mim.
- Eu fiz a comida dessa vez, não deve estar muito bom visto que é a primeira vez que cozinho. Se você quiser podemos parar em algum lugar e comer algo. - disse e o constrangimento estava claro por minha parte.
- Não parece estar tão ruim. A aparência dos ovos está boa. Júlia apontou para as panquecas esmigalhadas que eu havia colocado em seu prato. - Segurei uma risada. Ela havia confundido as panquecas com os ovos.
- Hmmm... Não querendo desapontá la, mas isso não é ovo. É uma panqueca.
- Se isto é um ovo, o que é isso do lado? Pensei que fosse uma panqueca. - Apontou para o que, na verdade, eram os ovos.
- Esse aí é o ovo. Não consegui fazer uma panqueca consistente e acabei deixando a consistência para o ovo. - disse sem graça.
Será que ela me condenaria diante de minha falta de perícia quando se tratava de preparar comida? E apesar da situaçao cômica, Júlia nao sorria. Continuava distante, a mesma distância de sempre. E isso estava me cansando.
...
- Eu posso fazer isso. - pedi, mas ela continuou a lavar a louça.
- Você fez o café, eu lavo a louça. É justo.
Não havíamos falado decentemente desde que nos vimos nessa manhã. Eu tinha que quebrar o gelo e ja sabia como fazê-lo. Pensei em algo divertido, intimo...
- Eu estava pensando... Já que ninguém estará aqui para cozinhar, e certamente você não quer conferir minhas habilidades na cozinha novamente, nós poderíamos almoçar juntos. - sugeri.
Esperei ridiculamente ansioso para a sua resposta. Júlia me olhou por alguns instantes, novamente olhou para a louça impedindo-me de ler alguma emoção em seus olhos castanhos.
- Eu vou almoçar com Duda, nós sempre almoçamos juntas, então...
- Acho que Duda não vai ligar se mais uma pessoa estiver com vocês. - rebati tão rápido que só depois apreendi o que havia dito.
Vi Júlia pensativa e, após sua primeira negativa, estava prevendo uma nova desculpa.
- Mota eu não acho uma boa ideia. O refeitório é para funcionários e a presença de um superior lá vai deixar a todos desconfortáveis. Vamos seguir com o nosso dia-a-dia intacto? - disse enxugando suas maos após terminar de lavar a louça.
Preparava se para sair. Para mim era mais do que simplesmente ir ao trabalho, ela certamente estava me evitando.
- Ainda está cedo. Por que a urgência em sair para o trabalho? - perguntei deixando claro meu aborrecimento.
Aborrecimento por ela sempre se esquivar de mim mesmo agora quando deveria me tratar de uma forma diferenciada. Ela não iria mudar, não se eu continuasse calado.
- Eu ainda preciso passar no RH e justificar minha falta por ontem. - disse em detrimento a minha pergunta. Pegou sua bolsa e, sem me esperar, seguil para fora.
- Você não precisa justificar. Você é minha esposa então... - murmurei, mas logo fui cortado por ela.
- Mas vou justificar mesmo assim. Já disse que não quero privilégios só por que eu sou sua... - sua voz pareceu travar justamente quando ia falar a palavra “esposa”.
Ora essa! E ela além de me tratar como um mero conhecido me chamaria pelo nome, sobrenome ou título da empresa?
- O que? É difícil pronunciar a palavra esposa? - falei extremamente irritado.
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"The contract" Adaptação Moju
FanfictionUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...