"O que está acontecendo com você?"

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"O que está acontecendo com você?"

Eu queria ter ignorado a voz e continuado a falar se fosse Bela, mas não ignorei. Eu parei o que estava fazendo e lentamente girei minha cadeira até encontrar com um par de olhos cor Mel que me fitavam ameaçadores. Izabela  estava parada, os olho: vidrados na expressao mortifera de Mota.

Eu diria que naquele momento ela estava com medo dele. João Pedro realmente era intimidador, costumava ser a dois meses atrás quando eu era apenas uma mongolóide que achava ter alguma importância para ele, mas agora eu era outra. Aquela expressao de fúria contida, de frieza ou o que quer que fosse não me assustava mais. Num tom estranhamente despreocupado, até mesmo para mim, eu disse:

- Boa tarde, senhor Mota.

Meu tom formal e frieza devem ter sido um combustível para sua ira. Seu rosto ficou vermelho, suas narinas inflaram.

- Venha comigo. - disse numa voz baixa, mas intensa.

Eu levantei com toda a calma do mundo e segui par. a sua sala. Ele andou atrás de mim, seus passos eram ruidosos no piso de pocelanato preto. Assim que passamos pela porta sentei em uma poltrona em frente a sua mesa. Eu pensei em mentir, dizer que passei mal e tentar conseguir um atestado falso mas a Júlia que sempre fui era verdadeira, eu não iria deixar à antiga se eclipsar totalmente.

Esperei que Mota se manifestasse, mas ele não falou nada por um bom tempo. Tudo o que eu ouvia era sua respiraçao rápida.

- Vai me demitir pelo meu pequeno atraso? - perguntei com descaso.

- Acha que chegar à empresa às cinco horas é um pequeno atraso? - ele perguntou com um tom de sarcasmo.

Eu ainda tive que passar em casa para me arrumar, demorou mais tempo do que o previsto.

- Provavelmente esteve de farra por aí, não é? Dormiu sabe-se lá Deus onde e a ressaca a impediu de despertar rapidamente. - ele dizia e sentia que tentava se controlar.

- Não é nada disso. É que um BABACA dormiu na minha cama, completamente alcoolizado. Eu não tive outra opção que nao fosse ir dormir em um hotel. O problema é que não consegui dormir direito e isso acabou com meu horário biológico. - disse num tom casual

- Senhor Mota, eu posso trazer o babaca
para testemunhar ao meu favor. Falei num tom brincalhao João Pedro ficou calado. Eu esperei que ele reagisse as minhas palavras rudes. - Eu prometo repor este tempo perdido. Agora eu preciso ir trabalhar. - levantei da poltrona em que estava sentada. Eu olhei fixamente para a porta querendo sair e tentar me distrair. Quando passei por Mota ele segurou meu braço, de um jeito brando. Eu encarei a porta. - Oque é agora? - perguntei fria.

- Eu preciso ir. disse e em momento algum olhei para ele.

Ele não me soltou. Eu esperei. Quando a impaciência me tomou decidi encará lo. A expressão que ele fazia era estranha, aparentava estar confuso

- O que está acontecendo com você? - ele perguntou e notei um tom preocupado em sua voz. Não parecia ser mais o João Pedro Mora frio com que eu estava acostumada a lidar. Aquilo me desequilibrou.

- Largue o meu braço. disse e prontamente ele me
obedeceu. Sai em disparada para minha sala. Uma coisa que eu odiava, mais do que encontrar evidência de que Mota me traía, era quando ele mudava para algo próximo ao Homem por quem eu me apaixonei. Entrei bufando na minha sala e logo captei a atençao de Izabela.

- Foi demitida? perguntou.

- Nao, ainda não.

- Nossa, o Mota está amolecendo mesmo! E qual foi a
sua desculpa para não receber uma bronca?

- Eu disse que perdi o sono porque um babaca dormiu bêbado na minha cama. Ele se calou depois dessa.

- HÁ HÁ HÁ HÁ! SÉRIO QUE VOCÊ DISSE ISSO?
TOMAAAAA! HÁ HÁ HÁ!

- Menos Bela. - disse num tom falso de reprimenda.

- Tudo bem. - disse tentando se conter. - Novo assunto: festa na sua antiga casa hoje à noite. Convidei alguns poucos amigos. Vamos depois daqui, pode ser?

- Por mim tudo bem. - e estava bem. Faria qualquer  coisa para ficar ausente. Mas não vou demorar. - Nao quero que o meu atraso se transforme em hábito.

- Por quê? O "Patrão" deixou passar, pode deixar passar novamente. - ela Resmungou.

- Nem pensar Izabela. Eu não quero dever nada a ele. - E realmente eu nao queria dever nada, não queria que o fato de eu fosse sua esposa me desse privilégio, algo que nunca ocorreu.

Lembrei me do meu choro da noite anterior, o sofrimento de dois meses que ameaçou reaparecer e me esmagar. Sem perceber eu estava curvada sobre minha mesa, a cabeça em cima do teclado do computador.

- Júlia, O que foi? - perguntou.

- Nada. Não é nada.

Fim de expediente. Duda nos encontrou e seguimos para a parada do ônibus, mas nos gurpreendemos quando vimos o carro de Bela, um Mercury branco.

- O que o seu carro está fazendo aqui? - perguntei.

- Decidi para de bancar a mao de vaca e manter o tanque cheio para usá lo. Já que estou emancipada posso ter meu carro de volta também. Vamos. - Bela entrou no carro sendo seguida por Duda que entrou no banco detrás.

Quando dei um passo para entrar no veículo vi um carro preto estacionado atrás do carro de Izabela, um carro que nao estava lá até entao. Eu olhei para o lado do motorista sabendo exatamente quem estava lá e me observava. E então eu entrei no carro, no lado do carona, para a festa que ela estava promovendo em meu antigo apartamento.

- Vai ser uma festa pequena, só com amigos Íntimos. - Bela falou enquanto dirigia. Lancei um olhar para Duda que estava sentada atrás demime nós sorrimos.

- Até parece. dissemos em uníssono.

Foi como eu imaginei, a casa estava lotada! Havia apenas bebidas, nada de alimento. Constatei que a maioria das pessoas ali eram funcionários da empresa de publicidade concorrente a de Joao Pedro. As meninas me apresentou a todos, eu fui simpática e cheguei a participar de algumas rodas de conversa, mas com toda a sinceridade nao estava me sentindo bem. Nao era culpa das pessoas, eram divertidas. O problema era meu estado de espírito sempre abalado por Joao Pedro, mesmo que ele nao estivesse diante de mim. A barulheira da música começou a me incomodar. Tratei de sair dali querendo apenas me isolar e pensar como eu sempre fazia. Pensar em Mota, infelizmente.

Fui para o terraço do prédio, um lugar muito familiar por mim. Eu costumava ir para lá quando nao estava conseguindo dormir, antes de Jp entrar em minha vida e acabar com ela. Mas nao consegui encontrar paz ao chegar ao terraço, sempre vazio, silencioso, e com uma linda visao da noite.

Ainda sim fiquei por lá agradecendo o fato de que a barulheira da festa promovida por Izabela não quebrasse o silêncio do local. Eu me aproximei do parapeito e fiquei ali tentando nao pensar em nada apenas em como era gostoso sentir aquela brisa gelada passando pelo meu rosto e...

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora