"Eu só queria viver"

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- Promete que não vai ficar com raiva da Bela? - Leonardo disse de repente. Eu o olhei.

- Por que diz isso? - perguntei aturdida.

- Nós estávamos num bar com o restante do pessoal e ela comentou sobre você. pronto, isso bastou. - Eu iria estrangular Hellen!

- O que ela falou? dei uma de João sem braço.- Estava rígida como uma tábua.

Eu sabia o que ele diria.

- Ela me contou boa parte da sua vida com o tal Mota Agora eu entendo você.

- Não, você não entende. Ninguém entende. - falei numa voz embargada.

- Eu sei, eu não entendo, apenas sei o que se passa. Quando eu soube da verdade, antes de viajar, antes mesmo de você aparecer em casa, eu fiquei com muita raiva. Pensei até em bater nele, sabia? - disse num tom divertido, mas havia seriedade na sua voz. Eu o olhei, confusa.

- Por que pensou em bater nele?

- Por que você é uma pessoa tão boa! Soube disso antes mesmo de trocar uma palavra com você. O que ele faz não tem nome. Por que ele faz isso com você?

Eu não deveria responder, mas talvez a dor no meu peito diminuísse um pouco se eu falasse o que se passava. Léo estava ali e parecia disposto a ouvir.

- Eu não sei porquê João Pedro fez isso comigo, mas agora não me importa saber. Acabou. Ele é um nada pra mim. - menti.- Se Mota não era um nada, por que pensar nele fazia meu peito doer?

- Você está tentando seguir em frente, não é? - Léo perguntou.

- Sim. Mas não sei se vou conseguir superar tudo.

- Eu poderia ajudar. - O Garoto murmurou.

- Como você poderia ajudar? - perguntei. - Você não pode fazer nada por mim, ninguém pode! Nem mesmo eu posso... - tentei reprimir o choro, mas estava sendo dificil.

Eu estava me fazendo de forte essa semana, mas me sentia quebradiça. E agora eu iria desmoronar tudo o que guardei para mim. Leonardo seria testemunha da minha desgraça, infelizmente.

- Eu posso fazer, se você deixar. Tentar colocar um sorriso no seu rosto com mais frequência. Eu queria fazer isso há algum tempo, mas não tinha certeza se você amava seu marido ou não, mas agora...

- Do que você está falando? - perguntei olhando-o assustada. Leonardo virou se e fitou me por alguns instantes.

- Sabe o que eu acho? Acho que a melhor forma de curar um coração ferido é tendo um novo amor.

- Acredita mesmo nisso? Eu não acredito. Eu não acredito em mais nada. - Funguei enxugando as lágrimas que tomavam meu rosto.

Arfei ao sentir a mão dele no meu rosto fazendo-me olhar para ele.

- O que foi que ele fez com você? Como alguém pode acabar com uma pessoa desse jeito? murmurou mais para ele mesmo do que para mim.

Se já era difícil viver com a dor por todas as coisas terríveis que passei, era pior alguém falando isso.

- Eu preciso ir. - disse levantando-me. Não quis olhar para ele. Eu só queria sumir! Uma mão segurou a minha.

- Desculpe-me Júlia, eu não quis magoar você! Eu... Eu sei que eu não tenho ideia da sua dor, mas isso não significa que eu seja indiferente a tudo isso. Desde que eu a conheci eu senti algo inexplicável e fiquei aturdido quando soube que você era casada. Eu peço perdão porque cheguei a ficar feliz ao notar a distância entre seu marido e você. Eu me senti miserável por isso, eu... - Léo estava atarantado. Procurei acalmá lo. Ele devia ser mesmo uma boa pessoa para achar que havia me magoado e pedido perdão por isso.

- Você não fez nada. É que quando alguém fala, eu lembro e... Eu...

- Eu estou apaixonado por você Júlia! - disse subitamente. Eu parei de falar no mesmo instante. - E eu sei que você está muito ferida por tudo o que houve, mas eu gostaria que você me desse uma chance para ajudá la a se curar.

Eu o olhei, temerosa, e parecia que as palavras
dele nao entravam na minha cabeça. Ele? Interessado em mim? Uma parte de mim ficou feliz, eu pensei que havia perdido tudo quando decidi me vingar de João Pedro, perdido o meu eu interior, mas se alguém ainda tinha a capacidade de me amar então eu não era uma pessoa muito horrenda.

- Eu preciso ir. - murmurei projetando meu corpo para frente. Eu não sabia o que fazer diante daquela confissão.

- Eu nao sou o Mota , Júlia, então não precisa me temer.

Eu não esperava pelas palavras dele. Ele percebeu que eu estava atordoada pela situação e temerosa por que eu havia acreditado em um homem uma vez e fui traída.

Leonardo se aproximou, pensei que ele iria me beijar se aproveitar daquele meu momento de fraqueza, mas tudo o que ele fez foi acariciar meu rosto e sorrir.

- Eu vou levá la para a sua casa. - Silêncio. Eu me manifestei.

- Eu não tenho casa.

Olhamos para o outro. Sorrimos. Leo me ofereceu sua mao e eu a peguei. Naquele simples contato eu senti algo inexplicável. Uma grande confiança, uma grande felicidade. E eu não me importei com a vida tenebrosa que me esperava ao final da. noite. Eu só queria viver, ser Júlia Mara Franco mais uma vez e fingir que contos de fadas ainda podiam ser reais. E o meu conto de fadas finalmente havia começado.

Cinco semanas se passaram...

Um mês e uma semana completos. Dia de comemorar. Acordei animada e refleti nas minhas vestes meu espírito feliz. Usei um vestido decotado, até os joelhos, com a parte de cima de um blazer sobrepondo a peça (look escolhido por Ana Júlia que vivia me dando altas dicas de moda). Os cabelos presos num rabo de cavalo frouxo e salto alto branco. Eu estava pronta para o trabalho.

Fui diretamente para a sala de estar apenas para
cumprimentar Magdalena e Eli como em todos os outros dias.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora