"Eu me sentia um lixo!"

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Pov's Mota

Dormir era bom, as preocupações desapareciam temporariamente. Os aborrecimentos também. Batidas me despertaram.

- Merda! - murmurei. Eu estava tão cansado!

Quem poderia estar me incomodando? Abri a porta lentamente e me surpreendi ao vê-la de pé. A irritação por ter despertado me tomou.

- Sabe que horas são? Eu preciso dormir - disse irritado.

- Ela entrou e passou a andar para lá e para cá, nervosa - Ainda vestia o hobby branco que cobria a pele. Procurei não olhá la muito naqueles trajes diminutos. Sentei na cama. Ela iria começar a falar. Talvez pedisse para pedir o divórcio.

Claro que Júlia ia me surpreender.

Veio até mim, caiu de joelhos e deitou sua cabeça em meu colo. Fiquei atônico diante da cena. Ouvi seu choro baixo que se intensificava.

- Por favor, me fala o que foi que eu fiz! Eu peço perdão mesmo sem saber! Fale-me! Eu peço perdão, eu peço perdão, mas para com isso! - exigiu descontrolada.

Não consegui fazer nada. Enquanto digeria a cena lamentável diante de mim, o remorso me atingiu com forma incapacitante. Eu poderia contar a verdade, ou poderia dar o que ela queria. Não seria ruim para mim ceder, desde que me precavesse com um preservativo estaria tudo bem. Não, eu não poderia correr o risco. Implicaria em uma mágoa muito mais profunda no futuro. Ao menos, quando tudo acabasse, eu poderia dizer que fui nobre o suficiente a ponto de não tocá la.

- Para com isso Júlia - murmurei. Ela me encarou com uma expressão aturdida. Procurei mascarar a pena que sentia. - Não fez nada de errado. Fui eu que fiz. - disse. Ela levantou, fiz o mesmo.

Peguei sua mão e a guiei para fora do meu quarto. Minhas palavras iriam doer e na manhã seguinte eu nao me surpreenderia se ela me pedisse divórcio e me mandasse à merda.

- O que você fez? - perguntou.

Olhei o chão pensando se deveria dizer, conclui que era o melhor.

- Eu me casei com você. Foi o meu erro - falei e fechei a porta diante de uma Júlia em choque. Pronto, estava feito.

Sentei na cama sentindo algo estranho, aquele sentimento de um erro indesculpável. Eu não deveria ter agido assim, eu não deveria tê-la escolhido. Seria muito mais fácil se ela fosse uma vadia interesseira. Júlia não era. E verdadeiramente não merecia ser magoada.

"Vai ficar tudo bem. Ela provavelmente vai me deixar." eu pensei, mas este pensamento em nada me confortou.

E os dias foram passando... Ela não fez nada.

Pelo amor de Deus por que ela não me deixava? Eu estava sendo tão frio, rude, eu merecia no mínimo uma bofetada! Mas não. Ela era sempre amorosa, tentava sempre estabelecer uma conversa, tentava não incomodar. Como alguém poderia ser assim?

Mesmo o remorso me atingindo, eu não deixei
de cumprir meu papel. Continuei a ser terrível com ela. Ela não reagia diante de meus ataques de insensibilidade, mas eu sabia que ao anoitecer chorava.

Quando Júlia dormia, eu entrava em seu quarto e oferecia o único conforto que poderia oferecer a ela: eu a cobria melhor e enxugava suas lágrimas com a ponta de meus dedos. A dor dela se tornava a minha e esse era o principal motivo para eu passar mais tempo fora de casa.

Kate me servia os prazeres que eu não tinha com Júlia, mas era a única coisa que pedia a ela. As conversas com Kate estavam escassas, isso por que ela adorava dizer coisas maldosas sobre Minha "esposa" quando estávamos juntos. Eu não gostava.

- Nossa já viu a tal de Júlia pela empresa? Parece um zumbi. Nunca me diverti tanto! - ela disse na cama. Eu fumava um cigarro. Eu a olhei com raiva.

- Cala a boca Kate! disse - Ela me olhou incrédula.

- O que foi? Tá criando afeiçao por aquela coisa? - ela perguntou ofendida. Bufei.

Levantei me vestindo as roupas que havia tirado. Eu não ia dormir com ela, era preferível uma prostituta.

- Hei João, aonde vai? - ela perguntou.

- Procurar outro lugar para ficar. foi tudo o que eu disse antes de sair de seu apartamento, seguindo para o primeiro prostíbulo de luxo que encontrei.

Algo estava se operando em mim e eu temia isso. Quando via Júlia sofrer, quando a via fingindo estar feliz diante de mim só para não me aborrecer...Eu me sentia um lixo!

Como pude escolhê-la? Eu deveria ter percebido o quanto era boa, deveria ter percebido que ela era a pessoa errada para magoar. Teria sido mais aceitável da minha parte falsificar o testamento.

Ana Júlia viajou para a África com Pedro após meu casamento. Ela viajou em parte por minha culpa, ela não queria ver o que sabia que veria quando o dia seguinte chegasse para Júlia e eu. Ela ligou algumas vezes para mim, perguntava sobre meu casamento, queixava se que Júlia nao atendia suas ligações.

- Ela está bem Ana - eu dizia numa voz monótona.

- Vai à merda João Pedro! Não acredito em você! - ela gritava do outro lado da linha.

Ana Júlia não poderia fazer mais nada por Júlia e ela sabia disso, por isso ela estava mais e mais furiosa a cada ligação. Se ela contasse a verdade Júlia iria odia Ia por Não ter dito antes, e iria me odiar por té-la usado. Pediria o divórcio a ainda sim eu iria lucrar.

O pensamento não me encheu de felicidade como outrora. Vê-la sofrer já não era divertido, era uma tortura. Certamente eu tinha carimbado meu passaporte para o inferno por fazê-la sofrer. Eu não iria reclamar se eu fosse tomar chá com o capeta, estava merecendo coisa pior.

Dois meses se passaram...

- Você está sendo o assunto da empresa, sabia? - Kate comentou. Eu não tirei os olhos do computador

- Por quê?

- Porque você se casou com uma anta que não percebeu que você a está chifrando.

Ignorei. Quanta besteira! Eu não estava nem aí se era o assunto de fofoca dos funcionários, se já estave ficando óbvio que Kate e eu tínhamos um caso. Eu não procurei mesmo esconder que eu a pegava.

- Kate qual a próxima coisa da minha agenda? - perguntei. Ela olhou a agenda em suas mãos.

- Almoço com uns sócios no restaurante francês de sempre. As reservas já foram feitas. Aliás, já passou do horário do almoço, mas você está com tempo de sobra.

Ótimo - Levantei da minha poltrona, e naquele momento... A porta se abre.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora