"Foi ele que magoou você? Seu marido?"

53 1 0
                                    

Não pensei duas vezes: saí em disparada do opulento salao. Alguns convidados me notaram, mas nao liguei. Eu só queria sumir dali! Peguei minha bolsa que estava na mesa em que eu estava sentada antes de sumir em meio à multidão.

Não sei se João Pedro me seguiu; eu não me importei. Retirei os saltos apenas para
correr com maior eficácia. Nao demorou a eu estar diante da propriedade onde o evento ocorria. Algumas pessoas que passavam em frente à propriedade me olhavam. Eu devia estar com uma aparência horrível!

Acenei para um táxi que logo parou. Eu entrei e tentei me recompor, mas parece que ao sair da rua é que eu realmente desabei. Deitei pesadamente no banco de trás.

- Moça, tudo bem? - o taxista perguntou alarmado.

- Siga, por favor. Tire-me daqui. - pedi num fio de VOZ.

Eu precisava de um lugar para me esconder do mundo. Não poderia ir para casa, mas ainda tinha meu antigo apartamento agora ocupado por Bela. Peguei meu celular e liguei para Hellen, ninguém atendeu.

- Moça, aonde quer ir? - o taxista perguntou.

- Estou providenciando o endereço agora. - disse enquanto ligava para Duda.

Para minha infelicidade ela havia saído com Gabriel, sem previsao da hora em que iria voltar.

Eu estava desolada! Eu precisava estar com alguém, conversar com alguém, desabafar com alguém. O triste era que tirando Hellen e Evelyn eu não tinha mais ninguém.

“Talvez Ana Júlia... Mas ela poderia dizer para Mota onde estou.”.

Foi naquele momento enquanto mexia no celular que vi o número do Leonardo .

Parecia loucura, mas só consegui pensar nele
como melhor companhia. Nao imaginei que ele atenderia, ele devia estar dentro de um avião. Para £ minha surpresa atendeu.

- Alô? Júlia?

- Léo. Eu... Você está fora da cidade?

- Não, tive um problema com o vôo. Irei amanhã, alguma cosia errada?

- Eu... Eu sei que não tenho o direito de pedir isso, mas eu não tenho pra onde ir agora e eu não quero ficar só e.. - falei frenetica.

- Acalme-se! Onde você está? - ele perguntou num tom preocupado.

- Em um táxi. - disse. Minha voz revelava claramente meu estado de espírito.

- Passe o telefone para o taxista. - pediu. Eu o fiz sem hesitar. O motorista aceitou o celular desconfiado. Ouvi seus murmúrios e não demorou a passar o meu celular para mim. Voltei a colocá lo no ouvido, ainda estava na linha. - Jú, eu passei para ele o meu endereço. Você vem para a minha casa.

- Tudo bem. - disse antes de desligar o celular.

Talvez se estivesse com alguém que não estava diretamente ligado a merda que era a minha vida fosse benéfica de algum jeito. Leo conseguiu arrancar sorrisos meus durante o filme.

Eu fiquei deitada, quietinha, no banco do passageiro enquanto o taxista seguia
para a casa dele. Eu não queria ter uma crise ali. Eu me sentia suja não somente pelas atitudes
de João Pedro, mas pelas coisas que senti enquanto ele me tocava.

Como meu corpo pôde me trair daquele jeito? Como eu poderia ainda querer que ele me tocasse? O gosto de seus lábios estava nos meus lábios.

- Moça, nós chegamos. - taxista anunciou. Apressadamente peguei um dinheiro, o único que tinha, e dei ao motorista.

Sai trôpega, desorientada, enquanto assimilava as imagens ao meu redor. Eu estava em uma parte desconhecida da cidade, em frente um prédio não muito requintado como o de Jp, mas também não muito modesto como o meu.

- Júlia? - uma voz soou a alguns metros.

Olhei para Leonardo em frente ao seu prédio. Rapidamente veio ao meu encontro. Meu estado devia ser deplorável, pois a cada passo que ele dava vendo-me melhor seu rosto ficava com uma expressao mais e mais preocupada.

- Ei, O que houve com você? Andou chorando? - perguntou tocando meu rosto com a ponta dos dedos.

Eu abri a boca para falar, explicar tudo. Não disse nada. Eu não sabia o que dizer ou como dizer. E então eu fiquei parada, olhando para o chão. Por que eu tinha vindo até ele? Para que? Ele não poderia me ajudar, ninguém poderia.

- Venha, você vai congelar aqui sem nenhum casaco e descalça. disse passando um braço por cima do meu ombro.

Léo me conduziu para o interior de seu apartamento que ficava no décimo primeiro andar. Eu segui silenciosa. Eu já começava a me arrepender por estar ali, mas não poderia simplesmente virar as costas e ir embora agora que eu estava aqui!

- Eu não vou perguntar o que aconteceu porque tenho a impressão de que você não vai falar, ou se falar será por que se sente obrigada. Então você parece cansada. Tenho um quarto de hóspedes. Pode ficar lá.

- Obrigada Leonardo. - murmurei enquanto saíamos do elevador.

Olhei para os meus próprios pés descalços enquanto me conduzia ao seu apartamento.

- Lar doce lar! - falou num tom brincalhão empurrando-me levemente para entrar em sua casa.

- Quer comer alguma coisa? - perguntou.

Notei naquele momento que estava faminta, mas eu não iria incomodar mais do que já estava incomodando.

- Não. Eu estou apenas cansada. - murmurei num fio de voz.

- Então vou levá la ao seu quarto. - falou.

Pegou minha mão e saiu puxando-me em direção a um corredor. Olhei de relance seu apartamento e notei que era, sem dúvida alguma, organizado e limpo.

- Este quarto costuma ser usado pelas minhas irmãs quando vêem me visitar. Elas sempre esquecem coisas delas...- ele foi até uma cômoda. - Tem roupa para dormir, produtos de higiene pessoal, toalha... Acho bom você tomar um banho, vai ajudar a dormir.

- Obrigada. Sei que não tenho o direito de incomodá lo, mas...

- Não está me incomodando, muito pelo contrário. Fico feliz que tenha vindo até mim em um momento de dificuldade como agora. - silêncio. -  Aquela porta é do banheiro deste quarto. Qualquer coisa eu estarei no meu quarto.

- Tudo bem e desculpe-me pelo incômodo. - disse sem graça. Leo sorriu e tocou meu rosto.

- Não se preocupe. Agora descanse. - Leonardo virou se para ir embora.

Eu me joguei pesadamente na cama deixando minha bolsa e meus sapatos caírem de minhas mãos.

- Júlia? Leonardo chamou. Fechei meus olhos.- Sim?

- Só me responda uma coisa: Foi ele que magoou você? Seu marido? - perguntou. Escondi meu rosto no travesseiro querendo morrer. - Entendi. - Então durma bem.

Ouvi o barulho da porta se fechar. Após alguns minutos deitada consegui me levantar. Retirei as jóias, roupas, toda a produção e fui para debaixo do chuveiro.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora