"Amor?"

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Visto que ela parecia verde, nervosa, eu resolvi
quebrar o gelo.

- Parece tensa. Não gostou de vir tomar café
comigo?-fingi preocupação. Como se eu ligasse se ela não gostava daquele lugar!

- Não, claro que não! Eu estou preocupada em
chegar atrasada na verdade. - porra, de novo o
trabalho!
Qualquer funcionária estaria dando graças aos
céus por se atrasar para estar comigo. Ela era muito
estranha. Segurei sua mão a fim de acalmá-la.

- Não fique. Não será prejudicada. Sabe disso. É
minha namorada agora. - eu disse e senti algo
estranho quando disse a palavra namorada.

Seriam náuseas? Não, era algo diferente. Talvez fosse aquela sensação de prazer pelo sentimento de posse
Fosse ela quem fosse, ela era minha agora, como
minha diversão particular.

- Eu não quero ter privilégios só por que sou sua
namorada. - disse.

Isso me surpreendeu? Não queria privilégios? De
que planeta surgiu essa mulher? Qualquer uma
montaria em cima de mim!

- Não se preocupe. Você não terá privilégios. Mas
também não deixarei que a prejudiquem por algo tão banal - Ela ia dizer algo, protestar talvez, mas nossos pedidos chegaram em boa hora.

Comecei a comer e notei que Júlia me olhava
disfarçadamente, cada mínimo movimento que
eu fazia. Era meio constrangedor. Nem Kate me
via comer com frequência. Senti-me novamente
vulnerável com Júlia olhando coisas que eu não
gostava que as pessoas vissem. Após o término
do café decidi verbalizar as incógnitas que se
formavam em minha cabeça.

- O que foi? Parece distraída. Ainda não acredita
que é minha namorada?

- É meio difícil de acreditar. Foi tudo rápido demais. - a mesma disse e senti nervosismo.

De fato eu estava apressando as coisas e ela,
ao invés de aproveitar, parecia mais e mais
desconfiada. Eu tinha que daro crédito a garota, ela era perceptiva demais.

- Desculpe-me por tudo isso. Sei que deve estar
um pouco assustada. Ainda sim eu fiquei feliz por isso não ter interferido em sua aceitação da minha proposta de namoro.

- Eu nunca riria recusar tal pedido, não vindo de
você por que eu..
Meu celular toca. Vejo no visor, era Ana Júlia.

- Oi Ana. - atendi enquanto Júlia parecia
avoada.

- Hei João Pedro devia estar na empresa. Temos uma
reunião hoje. Onde você está? - eu nem precisava
estar diante de Ana Júlia para sentir sua
desconfiança.

- Estou tomando café. Já estou indo para a empresa.

- Ah, ok. E então já achou a sua esposa João? Estou querendo conhecer as candidatas. - ela comentou entre risos. Eu bem sabia que, se ela
descobrisse que era Júlia, Ana Júlia não iria se opor a eu tomar Júlia como esposa, pelo menos não na frente dela, mas procuraria uma forma de dizer a ela o que se passava. Eu ia ter que ser muito astuto e não revelar até o último instante, mas seria difícil.

Júlia provavelmente ia contar para as amigas da
empresa, qualquer uma tiraria vantagem disso. E então Ana Júlia saberia e fim da historia.

- Ana, até mais. - desliguei o celular.
Júlia ainda parecia avoada.

- Desculpe por isso. Minha irmā está na empresa e teremos uma reunião. Vamos ter que ir agora. Uma pena, queria um pouco mais de tempo com você.- menti casualmente.

- Tudo bem. Eu também tenho trabalho. - disse
levantando-se e pegando sua carteira dentro da
bolsa.

O que ela estava fazendo? Fiz menção para a
aproximação do garçom e ele prontamente o fez já com a conta em mãos.

- Pare com isso. Você até me ofende desse jeito.
Eu a convidei, não deve pagar por nada. - falei
já sacando meu cartão de crédito. Se ela visse os
nossos gastos teria que sacrificar dois salários seus.

- Eu não pagarei, se você me prometer que me
deixará compensar isso. - ela propôs.
Perguntei-me como ela iria querer compensar.

Bem se fosse sexo eu teria que ser bem persuasivo para desencorajá-la. Eu já havia decidido que nunca iria
tocá-la, eu não iria querer destroçá-la por completo.

- Pode deixar. - peguei sua mão e fomos para o
carro após o pagamento da conta.
Fiquei distraído pensando em como iria ocultar toda a história a tempo de Ana Júlia não fazer nenhuma besteira. O jeito seria pedir a Júlia e inventar uma boa desculpa para aplacar sua desconfiança. Foi no carro, enquanto íamos para a empresa, que decidi tocar no assunto.

- Júlia, tenho um favor a pedir.

- Pode pedir então.

- Não quero que comente com ninguém sobre nós.
-falei sem mais delongas. Eu a olhei e vi que Júlia olhava fixamente para frente com uma expressão
estranha. Tratei de complementar o que havia
dito.- Você parece estar aborrecida com o que eu
disse. Não me interprete mau, amor, é que teremos problemas se descobrirem, muita especulação. Eu
não quero interferêências externas. Entende? - fiquei pasmo. Eua chamei de "amor"? Juro que escapou inconscientemente, mas ela pareceu se iluminar com isso.

- Tudo bem. Acho melhor assim. - murmurou.
Eu sabia que ela era diferente e fiquei satisfeito que isso só facilitaria meu lado.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora