"Seria a minha tentativa de conquistá lá"

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Maratona = (15/15)

Eu não tinha mais isso, eu não tinha nada. Por que fui perceber agora que a burrada estava feita?

Entrei em meu quarto e me sentei na cama. Liguei o abajur. Enquanto olhava para aquele ornamento imagens de Júlia com o cara no cinema vieram, o seu sorriso, a forma como deixava o filme para lá, mais interessada em conversar com ele.

O abajur se foi, eu o arremessei. E então, num
surto, comecei a jogar todos os objetos no chão, quebrando-os. Eu estava louco, louco por que sempre tive tudo o que quis e agora o que eu mais queria escapava dos meus dedos. Meu bem precioso minha Júlia, sendo levada por um desconhecido.

- NÃO VAI LEVÁ LA! ELA É MINHA! MINHA! NINGUÉM PODE TIRAR ISSO DE MIM! NINGUÉM! - gritei enquanto quebrava a tudo, desvairado, na tentativa de conter a fúria que sentia por estar perdendo.

Sentado de qualquer forma no chão, um corte na mão, eu não sabia o que esperar. Mesmo cercado de dinheiro, fama, prestigio, status, o que fosse, eu me sentia só. Eu sempre estive só e sempre driblei o sentimento de solidão.

Agora eu não conseguia erguer uma barreira e
me proteger, eu estava vulnerável. Tão vulnerável quanto a garotinha que perdeu a mãe ou o filho que perdeu um pai. Ouvi um barulho no apartamento após tanto tempo de silêncio. Enfim ela chegou. Eu a vi entrar em meu quarto olhando horrorizada para « que eu tinha feito. Ela pensaria que eu estava louco.

- O que diabos você fez? - murmurou enquanto ainda olhava a tudo.

Envergonhado pelo o que a raiva fez comigo, fechei os olhos e abaixei a cabeça. Eu não queria que ela me visse naquele estado deplorável! Ouvi passos, deveria ser ela saindo do quarto, deixando-me sozinho.

"Por favor, não vá!" pedi, um pedido mudo. Eu não queria que ela me visse naquele estado, mas não queria que fosse embora. Como conciliar isso?

Senti que alguém pegava a minha mão ferida. Assustei me. Como Júlia...?

- Não me diga que agora o seu hobby é curtir drogas? - ela podia estar sendo ríspida, mas eu só ouvia preocupação no seu tom de voz. - Sinceramente você só faz besteira! - levantou. - Vamos cuidar desse ferimento.

Por quê? Mas o que...? Iria cuidar de meu ferimento?

Ela caminhou e eu a segui sem hesitar. Entrou em meu banheiro e foi logo procurando em meus armários algo para cuidar do ferimento de minha mão.

- Senta no vaso. - ordenou sem olhar para mim. Fiz o que pediu. Pegou uma cadeira e sentou na minha frente, a caixa de primeiros socorros a postos.

Começou a tratar de meu ferimento. Mesmo eu não merecendo nada disso...

- Não precisa fazer isso por mim, mesmo. - disse baixinho.

- Não é nada. Isso eu faria por qualquer um, até por alguém que eu odeio. - falou com amargura. Estaquei. E eu que pensei que talvez sua atitude fosse uma amostra de que ela ainda se importava. Após dizer estas palavras, Júlia fez rapidamente a assepsia de meu ferimento e partiu.

Eu olhei o curativo feito por ela e lembrei me do seu toque e da voz preocupada.

Sorri. Eu poderia estar louco, mas seu ato me mostrou que ela se importava comigo. Ela ainda tinha um vínculo comigo, eu só precisava estreitar esse vínculo. De algum jeito...

Levantei me. Fui para a minha cama e fiquei naquele lugar, deitado durante horas. Era madrugada quando eu me levantei. Entrei sorrateiramente no quarto dela, ela dormia profundamente. A passos silenciosos eu me aproximei.

Procurei respirar baixinho, tudo para não acordá la. Júlia tinha a face serena, ainda mais linda do que quando estava com aquela carranca eterna.

Senti um desejo irracional de tomá la, beijá la,
senti la. Eu a queria de tantas formas como não quis nenhuma outra mulher.

Sentei em sua cama bem lentamente e com muito cuidado deitei ao seu lado. Ela estava deitada de lado, a respiração profunda. Eu procurei ficar bem pertinho dela, deitado de lado de frente para ela. Peguei a sua mão (tão macia e quente!) e coloquei em meu rosto, minha mão segurando a sua naquele lugar. Eu não queria ficar apenas imaginando como seria ter Ela sendo minha, eu iria lutar. Eu sempre tive o que quis, não seria dessa vez que perderia.

- Amanhã é um novo dia. - murmurei aproximando sua mão pequena até os meus lábios, beijando-a. Saí antes que fosse pego lá.

...

Domingo. Ninguém precisava trabalhar e eu tinha um evento para ir ao anoitecer.

Com tristeza eu me lembrei da época em que Júlia me pedia para me acompanhar nestes eventos. Eu negava seu pedido ríspido. Quanto arrependimento eu sentia! Eu iria dar o que ela costumava querer e tinha um plano B caso me negasse.

Eli me servia. Não estava com fome, estava cansado o suficiente para continuar dormindo, mas não a deixaria sumir.

- A propósito Eli, meu quarto precisa ser arrumado. Talvez precise de mais pessoas para manter a ordem.

- Não se preocupe senhor. Minha mãe e eu cuidaremos de tudo. - ela disse. E então eu a vi.

- Bom dia senhora... Quero dizer... Júlia. - Eli disse.

- Bom dia Eli. - disse. Pegou uma maçã de cima da mesa já se projetando para a saída. Nem olhou para mim ou me cumprimentou. A raiva começou a aflorar.

- Aonde vai? - perguntei.

- Não te interessa! - falou com aspereza. "Controle-se João Pedro!" suspirei.

- Quero falar com você antes de você sumir por ai. - falei. Franco me olhou com indiferença.

- Não consigo imaginar um assunto que tenhamos para ser discutido.

- Eu quero que você me acompanhe em um evento hoje. - falei e então encarei minha xícara de café. Eu até imaginaria sua reação explosiva.

- COMO É QUE É? - gritou. Senti que não seria fácil.

- Terá um evento qualquer, receberei um prêmio. Quero que vá comigo.

- Não vou nem morta! Olha só por que ajudei você com a sua estupidez ontem não significa que viramos amiguinhos. Se nao quer ir sozinho leve uma puta com você! - disse. Pronto, nao me aguentei. Levantei me da mesa.

- Eu não quero levar uma puta, quero levar a MINHA mulher! - eu sabia que não deveria fazer exigências, mas eu as fiz.

- Então não é comigo que você deve falar. - disse ese encaminhou novamente para a saída.

Era hora do plano B.

- Quanto?

- O que? - perguntou e me encarou.

- Quanto quer para me acompanhar? Além do vestido, jóias, produção, o que for eu pago para que vá comigo. - disse decidido.

Primeiro Júlia me olhava incrédula. Esperei pelo "não" dela, mas a garota me surpreendeu.

- Duzentos e cinquenta mil. Claro que não estou considerando os demais gastos. E você se incumbirá do restante, eu não quero perder meu tempo procurando um local para me cuidar.

Era o que eu queria. Procurei pelo meu talão de cheques. Duzentos mil não eram nada. Assinei o cheque. Passei para ela.

- Eu conheço um lugar ótimo que cuidará muito bem de você. Vamos para lá agora, mas antes iremos a um ateliê para comprar o que você precisará. - imaginei a cena, Júlia produzida. A ansiedade me tomou.

- Que seja. - falou indiferente.

Ela não sabia, mas minhas investidas seriam piores nesta noite. Não seria apenas um evento em que ela era paga para me acompanhar, seria a minha tentativa de conquistá la.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora