"Vi em seus olhos preocupação"

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Pov's Júlia

Eu me lembro... Lembro o que senti quando João Pedro colocou pela primeira vez a aliança em meu dedo anelar. A emoção, aquela sensação de "felizes para sempre" me atingindo e me fazendo perder o ar. Foi algo maravilhoso. E Ele me fez, em pouco tempo, sentir a maior felicidade do mundo quando me desposou e o pior sentimento do mundo quando me rejeitou.

Olhei a aliança em meu dedo, aliança esta colocada por ele ontem, antes dele dormir.

- Jú - murmurou sonolento. Continuei parada, olhos fechados.

- O que foi? - perguntei sentindo o cansaço me esmagar. Ouvi um barulho, mas não me importei. Senti João Pedro pegar minha mão esquerda e quando abri meus olhos eu vi o que fazia: Mota colocava novamente a aliança no meu dedo anular.

- Só estava faltando isso - murmurou.

Ele não notou minha reação. Beijou-me e deitou se quase sobre mim aconchegando-se em meus braços. Eu fiquei ali, parada, em choque pelo seu ato. Lembranças do passado me atormentaram e me vi incapaz de ficar ali. Fui para o meu quarto
a fim de não olhar para o rosto dele e deixar as lembranças ruins ainda mais vivas.

...

Já havia amanhecido. Logo meu despertador tocaria indicando que eu deveria me levantar e começar a me arrumar para ir ao trabalho. Eu não havia dormido um minuto sequer. Por que não consegui dormir mesmo após sair do quarto de João Pedro e vir para o meu quarto? Acredito que o principal motivo foi a Júlia racional martelando a minha cabeça a todo instante, dizendo que esse João Pedro era uma farsa.

Eu não queria acreditar nisso, queria acreditar nele e tentar ser feliz enterrando o passado, mas a cada atitude gentil dele a desconfiança vinha, a Júlia racional também, assim como as mágoas passadas.

Continuei a olhar o aro dourado carinhosamente colocado na noite anterior. Após refletir muito (todas as horas em que eu deveria dormir), eu soube que, por mais que eu tentasse me esforçar, eu não conseguiria deixar a desconfiança de lado e consequentemente eu não poderia corresponder a todos os anseios dele.

- Bom dia Júlia. - Eli disse enquanto eu chegava à sala de estar. Sorri para ela.

- Bom dia. Como você está? João me disse que estava doente. - sentei em uma cadeira da mesa de jantar. Prontamente Eli veio até mim a fim de me servir, mas fiz um gesto com a mão indicando que poderia me virar.

- Eu estou bem. Era só um resfriado. - disse e logo sua mãe, Magdalena, apareceu. Sorriu largamente quando me viu.

- Olá Júlia. Está linda! - Magdalena disse. Corei de prazer.

Eu não achava que estava muito produzida, até por que maquiagem alguma pôde esconder as olheiras de uma noite insonia. Além disso, eu vesti roupas simples, simples se comparadas com as roupas que tenho em meu closet. Calça jeans preta, camisa de botões branca, salto Stiletto preto e, por cima da camisa e botões, um blazer.

Desde que decidi dar o troco em João Pedro eu estava me vestindo melhor. Agora escolher roupas bonitas e boas tornou se parte
do meu ser. Mas de fato eu estava um pouco mais vaidosa hoje... Provavelmente culpa do momento “feliz” que eu estava vivendo.

- Obrigada Magdalena. Bondade sua.

- Mas tem alguma coisa diferente com você, só não sei dizer o que é... - Magdalena disse olhando para o meu rosto.

Mulher era fogo, intuitiva até mesmo inconscientemente. E então quando eu achei que ela captaria a mudança que ocorreu em mim desde que a vi pela última vez...

- Bom dia meninas. - a voz masculina e potente soou pelo amplo espaço.

Magdalena se endireitou e olhou para Mota, que devia estar atrás de mim. As duas, quase sincronicamente, ficaram eretas e sorriram dizendo:

- Bom dia senhor Mota.

Eu continuei com meus olhos fixos na xícara de café em minhas mãos. Senti uma mão em meu rosto erguendo-o. Olhei para ele, senti sua pele
em contato com a minha, seu cheiro delicioso de perfume caro e pós barba, seus olhos brilhantes que continuaram abertos mesmo quando me beijou levemente nos lábios. Um meio sorriso projetou se em sua boca enquanto se afastava.

- Bom dia meu amor. - falou com uma voz excessivamente doce.

Havia tanto amor naquele simples ato que me senti estremecer. Eu não ousei olhar para Magdalena e Eli, voltei meus olhos para minha xícara.

- Como você está Eli? - perguntou sentando ao meu lado. Magdalena aproximou-se e começou a servir ele.

- Eu estou bem senhor. Obrigada pelo dia de folga para minha mãe e eu. Graças a isso eu pude me recuperar. - Eli disse. Magdalena terminou de servir ele e agora lhe dava o jornal do dia.

- Mas você está bem? Se quiser mais dias eu posso conceder a você e a sua mãe. - disse preocupado.

- Não se preocupe, eu estou bem senhor.

- Bem agora voltaremos à cozinha. - Magdalena disse puxando Eli pelo braço em direção a cozinha. Notei que Magdalena piscou para mim.

Que ótimo, agora elas sabiam que João Pedro e eu tínhamos nos entendido! Claro que mais cedo ou mais tarde todos ficariam sabendo, mas eu não me sentia preparada. Aliás, eu não me sentia preparada para nada. Ele não pegou o jornal para ler, bebericou o café com os olhos em mim.

- Não encontrei você no quarto. Fui ao seu quarto e notei que a sua cama estava desarrumada. Você dormiu lá? - apesar da forma despreocupada com que perguntou pude sentir algo mais profundo, como se estivesse queimando em curiosidade pela minha resposta.

- Eu só consigo dormir em meu quarto. - disse olhando para a cozinha. Onde estão Magdalena e Eli quando se precisa delas?

- Você não está com uma expressão boa no rosto. Parece que quase não dormiu. - ele disse. Suspirei. Mentir não iria me levar a lugar nenhum até porquê o cansaço que antes não parecia me incomodar já estava fazendo efeito no meu corpo.

- Não dormi nada. - confessei. Senti a mão do mesmo pousar em cima da minha e vi em seus olhos preocupação.

- Então seria melhor você ficar e descansar amor. - disse.

Eu não conseguia manter uma neutralidade quando o via falar palavras tão carinhosas comigo.

- Eu estou bem, além disso, tenho trabalho acumulado. Agora que a Hellen não está lá tenho mais trabalho. - levantei.

Por algum motivo eu estava meio nervosa na presença dele, talvez fosse por que ele tivera aquele desabafo comigo deixando claro o quanto queria que eu agisse como esposa perfeita. O problema era que eu não sabia como proceder.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora