- Você percebeu, não é? Júlia ainda não age naturalmente, parece não estar à vontade.
- Ela vai mudar João. Só não está adaptada com essa nova fase da vida dela. Aliás mocinho você não me disse o que houve.
- Ana Júlia, eu contei a você o que aconteceu na fazenda. - disse. A mesma me olhou irada.
- Não falou com detalhes. Quero saber de tudo! Até as roupas que usavam, ou não usavam. - olhou me maliciosa.
- Não sou uma menininha que participa de festas do Pijama e conta a você tudo o que acontece na minha vida. - falei asperamente. Ana fingiu um olhar tristonho.
- Eu queria que você fosse gay. - declarou numa voz chorosa. Eu a olhei feio.
E naquele momento percebi que era disso que eu precisava. Eu precisava desabafar com alguém sobre os problemas que ainda enfrentava com Júlia, Minha irmã era a única que podia me ouvir e até aconselhar.
- Júlia... parei. - Minha voz chamou a atenção de Anaju.
- Júlia...? perguntou incentivando-me a falar. Escute aqui se você falar algo como "eu me cansei dela", eu juro por Deus que...!
- Não é nada disso Ana Júlia! - esbravejei. Respirei fundo. Recomecei. - Claro que não.
- Então qual é o problema? - agora eu podia sentir aquela voz maternal que minha irmã desenvolveu após alguns meses depois da morte de nossa mãe. Ela estava verdadeiramente preocupada.
- Ela... Não age naturalmente. Mesmo que ela tenha decidido ficar comigo, ela... Ela se mantém afastada de mim, embora negue. São pequenas coisas que poderiam passar imperceptiveis no dia a-dia de um casal, mas que eu noto. Ela não dorme no meu quarto, saí quando estou dormindo; quando durmo em seu quarto ela se afasta de mim assim que surge a chance; não procura saber mais sobre mim e é quase monossilábica; e ela...
- Nossa, a lista é grande. - Ana comentou pasma. Eu a olhei amargurado.
- Você não faz ideia.
- Em outras palavras Júlia está insegura, está envolta em uma proteçao criada por ela e isso aborrece você?
- Uau, estou surpreso com sua capacidade de sintetizar o que levei um tempo para dizer. - falei com sarcasmo. E então voltei à seriedade. - Não sei o que fazer. confessei.
- Pois eu sei o que deve fazer para que tudo volte à normalidade com minha cunhada - ela dizia com uma expressão presunçosa.
- E o que seria? Se você disser algo como "se humilhar todos os dias" eu lhe digo que faço isso quase sempre.
- Não João. - disse com uma expressão séria atípica dela. Emudeci. - Você tem que contar a ela João Pedro.
Eu sabia o que minha irmã queria dizer com aquelas palavras, mas arrisquei perguntar só para que ela voltasse a falar.
- Contar o que? - perguntei asperamente virando-me de costas para olhar o jardim a minha frente.
- Contar a ela sobre o contrato. Você já deveria ter contado há muito tempo. Não sei por que adia.
-Ana Júlia, eu não posso. - murmurei.
- Claro que pode! Ora essa! João Pedro, pare de bancar o idiota e simplesmente conte logo sobre isso! Não pode fundamentar esse relacionamento com mentiras! - A mesma esbravejava.
Num surto eu falei alto demais.
- Não posso. Não posso me arriscar a perdê-la! - falei num tom desesperado.
Ana calou-se quase que instantaneamente.
Ela compreendia agora o quanto eu amava Júlia e o quanto eu temia perder o pouco que tenho. Ela sabia.
- Eu entendo seu medo, mas...
- Não Ana Júlia, você não entende. Você não sabe o que é amar alguém desesperadamente e viver agoniado achando que quando ela está pensativa é porque pensa em deixá-lo, quando está fria é porque descobriu algo ou quando ela some é porque escolheu outra pessoa. Eu vivo desse jeito, mas eu sei que é melhor do que nada. Eu não quero perder o pouco que conquistei.
Esse foi sem dúvida meu discurso mais apaixonado. Nunca fui de mostrar meus sentimentos, especialmente a minha irmã, então ambos estavam surpresos com minha explosão. Suspirei cansado. Senti no meu ombro a mão da mesma.
- Você tem razão, eu não entendo por que eu não estou na sua pele. João faça o que quiser, mas eu continuo afirmando que você deveria contar a ela. Nenhum relacionamento consegue se sustentar com uma mentira.
- Eu vou contar. Eu só preciso de um tempo. Nós ainda não estamos bem. No momento certo eu contarei. - disse e a olhei. Ana Júlia me olhou de cara fechada.
- Tenho a impressão de que não haverá o momento certo. - eu a olhei fixamente.
- Provavelmente você está certa.
...
Na sacada do nosso apartamento eu estava recostado no parapeito sorvendo vinho tinto. Júlia estava deitada em uma espreguiçadeira com um livro em mãos. Conversávamos quando era possível.
- Eu deveria ter dito a você sobre a presidência antes da Ana Júlia . disse analisando como minha Mulher reagiria.
- Não se preocupe. Eu já esperava por isso. - falava com indiferença, como se não ligasse se o nosso tempo diminuísse.
- Eu estava pensando em uma coisa para passarmos mais tempo juntos. Se você fosse minha secretária ficaríamos o tempo todo juntos, mesmo que eu tivesse que viajar. O que você acha? - sugeri querendo muito que ela aceitasse. Tudo seria mais fácil para nós dois se ela fosse minha secretária.
- Eu sou contadora, e me formei nisso. Eu não saberia ser uma secretária. - falou num tom decidido. Eu já imaginava que diria algo assim.
-Posso contratar alguém que lhe prestará consultoria. Seria muito melhor para você. Um emprego não tão cheio de incumbências e que pagará melhor. - tentei persuadií la. E pude ver que, apesar do silêncio momentâneo, Júlia não iria ceder. Eu até entendia seu lado, mudar para uma função diferente poderia ser desconfortável.
- Ainda sim...
- Prometa pelo menos pensar, está bem? Eu quero demais poder ficar mais com você. - pedi com satisfação eu a vi assentir; com os olhos no livro. Senti um alívio.
- Antes de eu assumir a presidência nós viajaremos, ou com Minha irmã e Pedro ou sozinhos. Quero nossa lua de mel. Você pode escolher o local; para mim não importa onde, mas com quem estarei. - anunciei satisfeito com a decisao tomada durante o almoço na casa de Ana Júlia. Queria consertar um pouco a burrada feita por mim no passado. Eu iria ser o marido perfeito, ou pelo menos tentar.
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"The contract" Adaptação Moju
Hayran KurguUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...