- Bem eu estava na guarita observando-o. Algo de errado? - perguntou. Então devia ser funcionário do meu condomínio.
- Que pergunta idiota. Acha que alguém que está bem ficaria prostrado aqui, sofrendo com o frio, cansaço, fome, sede, como eu estou agora? Poupe-me disso. - disse ríspido. Eu me arrependi. O rapaz não tinha culpa do que estava me acontecendo. Eu estou esperando uma pessoa. falei num tom mais agradável.
- Por que não espera esta pessoa em seu apartamento? Poderá ficar doente se continuar aqui - a voz do rapaz mostrava preocupação.
- Não. Eu vou ficar aqui. - disse sem olhá lo. - Eu preciso ficar aqui. - completei.
O silêncio pairou. Pensei que ele havia ido embora, mas senti nos ombros o peso de algo. Olhei e notei que ele havia tirado o casaco que usava e colocado em meus ombros.
- Para não ficar doente. Eu vou voltar para a guarita. Devolva me quando quiser. - disse sorrindo.
- Qual é o seu nome? - perguntei.
- Erick senhor. - falou.
- Obrigado Erick. - agradeci.
Ele caminhou para longe, até a guarita. Vesti melhor o casaco ofertado e continuei a esperar. Esperar por Júlia e, se preciso for, implorar de joelhos para que ficasse comigo. Por que eu fui nobre com ela no momento em que eu a deixei passar, mas não cometeria esse erro quando ela voltasse.
Eu esperei alheio a tudo, aos transeuntes que observavam a mim, ao frio, ao cansaço, a fome, ao desespero, eu esperava por Júlia .
"Ela não virá, você tem que aceitar isso!" o meu lado racional dizia, enquanto analisada a tudo.
Eu me recusava a acreditar que tudo o que fiz e tudo o que vivi com Elaa em pouco tempo em nada adiantou. Nunca fui de rezar desde que minha mãe morreu. Eu pensava que se Deus era acostumado a cometer injustiças, como tirar alguém tão bondosa como ela da Terra, então era desperdício recorrer a ele. Fechando os olhos eu fiz uma prece, desconcertado em falar com ele, após tanto tempo, apenas para pedir algo.
"Sei que não sou merecedor da tua misericórdia, mas se eu perdê la..." a angústia me atingiu e não consegui pensar em mais nada. Eu não queria pensar no fim.
E enquanto o arrependimento me tomava, eu imaginei como seria se eu não tivesse magoado tanto ela. Se ao invés de tratá la mal, eu tivesse fingido ser seu marido, eu estaria vivendo um casamento feliz. Logo eu perceberia a pessoa maravilhosa e única que eu tinha, o amor apareceria como apareceu. E então eu teria uma esposa feliz, linda, que me trataria bem. Isso nunca iria acontecer.
- Any... - choraminguei baixinho. Enquanto encostava minha cabeça nos joelhos.
A mulher que eu amava estava em algum lugar com o namorado. Ele provavelmente estava beijando-a, tocando o corpo que eu amava. E eu nem poderia amaldiçoá-lo.
Um perfume
O cheiro conhecido e barulho de passos captaram minha atenção. Ergui meu rosto e congelei. Em pé, olhando para mim, estava ela. Seu rosto uma máscara de cansaço, vestígios de choro e raiva. Ela não ficou muito tempo diante de mim, subiu as escadas com pressas demais. Eu levantei e a segui frenético.
O que Júlia iria fazer? Ela não me olhava, seguia apressada para nosso apartamento... Provavelmente louca para pegar suas coisas e ir embora.
"O que eu vou fazer?" tentei formular algum plano, como na noite em que fizemos amor pela primeira vez, mas nada me ocorreu.
Entramos no elevador. Júlia encostou-se no fundo do elevador em uma posição defensiva. Eu fiquei observando-a atentamente, implorando com o olhar para ela me dar algum sinal de sua decisão. Os sinais corporais diziam tudo.
Ela não me escolheu.
Eu estava à beira de um colapso. Além de estar exausto, meus nervos estavam em pedaços. Eu estava prestes a chamá la, mas o elevador abriu e a mesma saiu rapidamente. Eu a segui, minhas mãos um pouco erguidas, prontas para segurá la. Eu queria trancá la, mantê-la só para mim.
Júlia caminhou apressada e trancou a porta do seu quarto. Eu fiquei parado diante de sua porta.
Acabou.
Encostei minhas costas na parede e escorreguei
até o chão sentando-me. O cansaço ameaçou me engolir, com falsas promessas de uma anestesia para minha dor. Não, eu não iria fraquejar agora. Júlia poderia estar perdida para mim, certamente minhas palavras não iriam mais alcançá la, porém... Eu poderia dizer mais uma vez que a amava, não poderia?Eu me perguntei se contar toda a verdade, sobre o contrato, poderia de alguma forma me salvar, salvar meu relacionamento com ela. Um ato desesperado, eu sei, mas será que poderia piorar?
Choro.
Será que eu estava escutando direito? Um choro vinha do quarto dela? Como isso era possível? Aprumei melhor meus ouvidos e confirmei: Júlia estava chorando. Era estranho. Ela não deveria estar radiante por ter seguido em frente com Leonardo? O barulho em seu quarto deveria ser de ela recolhendo seus pertences...
Levantei do chão e abri vagarosamente a porta. A mesma estava sentada no chão, encolhida, chorando copiosamente. E então, enquanto a via sofrer tanto, eu soube: Júlia havia me escolhido.
Fiquei parado olhando seu sofrimento, sem saber o que fazer. Subitamente ela ergueu as mãos e as colocou na cabeça, logo mais passou a puxar os cabelos. Autoflagelação sem dúvida. Eu me movi, ficando de joelhos de frente para ela.
- Não, não faça isso. Não se fira! - pedi tirando suas mãos de seu cabelo, deixando-as cair em cada lado do seu corpo. Coloquei minhas mãos em seu rosto e tentei erguê-lo. Eu queria olhá-la, queria confirmar minhas teorias de que havia me escolhido. Ela não me olhou, mas isso não me impediria de dizer minhas indagações.
- Eu penso que se você tivesse escolhido Leonardo, você pegaria suas coisas e me deixaria com um sorriso no rosto. Mas, olhando para você agora, analisando seu comportamento... Para você estar tão triste, chorando dessa forma tão desesperada, você me escolheu, não foi? - disse calmo enquanto acariciava seu rosto com meus dedos.
Ela continuou a fitar o chão, mas fez um gesto simples, o gesto que mudaria minha vida: ela assentiu timidamente.
Sim, ela havia me escolhido. Apesar de todas as probabilidades que levavam a um "não", Júlia Franco havia me escolhido. Minha risada saiu e quando me toquei que poderia não ser de bom tom rir, eu me contive. Ainda sim não pude ficar parado. Eu puxei para mim e a abracei apertado. Ah, era tão bom abraçá la! Como era quente e perfumada e o amor que ela emanava...
VOCÊ ESTÁ LENDO
"The contract" Adaptação Moju
FanficUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...