"Não sabia como lidar com ela"

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Maratona = (2/15)

- Ok. - Kate disse saindo da sala. Fiquei surpreso que ela estivesse se comportando após suas especulações bestas de ontem.

Olhei novamente meu relógio de pulso. Havia pedido ao supervisor do setor da contabilidade que me avisasse quando Júlia chegasse, mas até agora...

“Eu nunca fui de fazer isso, mas eu devo ligar. E se aconteceu algo com ela?" perguntei me pegando o meu celular de dentro do bolso interno do paletó.

Júlia estava instável, poderia fazer uma bobagem e eu seria o único culpado. Procurei o número dela em meu celular trêmulo. Enquanto discava eu saí de minha sala e caminhei para o setor da contabilidade, olhei para o espaço que deveria ser ocupado por ela, mas que estava vazio. O celular de Franco tocou até cair na caixa postal. Isso me enervou.

Enquanto caminhava pelos corredores continuei a ligar repetidas vezes antes, durante meu encontro com clientes, e depois. Nem sei quantas vezes liguei. Passava pelo seu setor, mas não a via. Bela, amiga de Júlia, olhava me com curiosidade. Eu me perguntei se ela sabia de algo. Antes de perguntar a ela (esse seria meu último recurso) liguei para Ana Júlia Ela atendeu rapidamente.

_ On _

-Oi mano!

- Ana, viu a Júlia? - perguntei enquanto caminhava de volta para a minha sala.

- A última vez em que vi foi ontem após as compras.

- Vocês saíram para fazer compras perguntei. Por que nao me avisou?

- Porque não vi necessidade. Você não sabe onde ela está? Anaju perguntou.

- Não. Eu ligo para ela, mas ninguém atende. Ela já deveria estar aqui na empresa. Ela não é de se atrasar e eu... -  parei tentando controlar me. Eu estava atarantado com o sumiço de Franco .

- Calma! Eu vou ver se a localizo. Ligo se encontrá la. E você trate de fazer o mesmo! - Ana Júlia disse antes de desligar.

_ Off _

Conversar com a minha irmã apenas aumentou
a minha preocupação. Decidi perguntar as suas amigas do trabalho, elas deviam saber de algo, mas se não soubessem...

Um barulho na porta me despertou. Vi o supervisor do setor da contabilidade entrar.

- Senhor, a senhora Mota acaba de chegar. - ele disse e logo se retirou.

Se eu estava preocupado culpando-me pelo destino cruel que poderia ter abatido Júlia, essa preocupação se exauriu dando lugar a uma fúria surpreendente. Marchei para fora indo ao local de trabalho de Júlia, querendo esganá la por ter desaparecido. Contei mentalmente até cem enquanto seguia para onde ela estava. Eu a vi, mas o alívio sentido foi eclipsado pela raiva.

Parecia tranquila, muito bem vestida, conversando com a colega de trabalho. Enquanto eu estava uma pilha achando que algo ruim havia acontecido a ela. Júlia tinha os olhos no monitor quando eu me aproximei da divisória.

- Júlia Franco -eu a interrompi. Com toda a calma do mundo, Franco virou se para mim, a cara entediada. Era engraçado logo eu que sempre fui relativamente calmo estava estourando de raiva. Ela falou, numa voz calma demais até para essa nova Júlia.
- Boa tarde, senhor Mota. - seu tom formal e frieza foram um combustível para minha ira.

- Venha comigo. - disse.

Ela seguia para a minha sala a frente de mim. O modo como andava, assim como as roupas que vestia... Ela estava tão diferente! Ao entrar em minha sala sentou se em uma poltrona. Eu fiquei imóvel próximo a porta pensando no que diria, tinham tantas coisas que eu queria jogar na cara dela!

-Vai me demitir pelo meu pequeno atraso? - perguntou despreocupada.

- Acha que chegar à empresa às cinco horas é um pequeno atraso? - perguntei com sarcasmo.

- Eu ainda tive que passar em casa para me arrumar, demorou mais tempo do que o previsto. - falou enquanto olhava para frente, seu corpo relaxando na poltrona, ao contrário de mim.

- Provavelmente esteve de farra por aí, não é? Dormiu sabe-se lá Deus onde e a ressaca a impediu de despertar rapidamente. - disse e tentei controlar o jorro de fúria que ameaçava me dominar.

- Não é nada disso. É que um BABACA dormiu na minha cama, completamente alcoolizado. Eu não tive outra opção que não fosse ir dormir em um hotel. O problema é que não consegui dormir direito e isso acabou com meu horário biológico. Senhor Mota, eu posso trazer o babaca para testemunhar ao meu favor. - falou num tom brincalhão. Eu me calei. Não havia me lembrado do fato de que eu dormi na sua cama e pelas suas palavras ela viu. Então eu tinha que admitir que a culpa era minha, isso se Júlia realmente passou a noite em um hotel como disse. Talvez estivesse com alguém... - Eu prometo repor este tempo perdido. Agora eu preciso ir trabalhar. - se levantou da poltrona em que estava sentada. Eu a olhei, olhei aquele ser estranho para mim. Tudo o que eu conhecia de Júlia Franco parecia ter desaparecido. Eu estava diante de uma nova pessoa e não sabia como lidar com ela. Olhando mais atentamente para o seu rosto eu pude ver em sua postura defensiva, em seus olhos sem brilho, um cansaço e vazio que nunca havia visto antes. Como se esta nova Júlia estivesse bem pior do que aquela apática após o casamento. Eu a segurei pelo braço antes que saisse. Ela nem me olhou. - O que é agora? Eu preciso ir.

Eu não sabia o que dizer, o porquê de ter segurado ela ali. Quando ficou impaciente com o meu gesto me olhou.

- O que está acontecendo com você? - perguntei preocupado como nunca fiquei antes. Eu queria saber o que estava acontecendo, eu queria amainar as coisas entre nós, tornar nossa convivência mais sadia. Eu já deveria saber que isso não aconteceria.

- Largue o meu braço. - exigiu e eu o fiz.

Ela caminhou apressadamente para fora. Eu fiquei parado, olhando a mão que a reteve ali, sem saber O que tudo aquilo, toda aquela mudança, iria representar para nossas vidas.

...

Kate bufava ao meu lado e nem mesmo as promessas de uma noite quente após o expediente me tiraram da letargia. Eu continuei com minhas atividades do dia aparentemente tranquilo, mas a verdade é que eu nao estava me concentrando em nada. Tudo era feito mecanicamente enquanto minha mente ainda estava na discussão que tive com Júlia e no que eu vi quando olhei atentamente ao seu rosto. O vazio.

O expediente logo iria encerrar. Eu não sabia o
que faria depois. Eu poderia sair com Kate, mas não seria por ela e sim para fugir do que quer que esteja me esperando em casa. Já havia decidido não dormir em casa e passar a noite inteira com Kate.

Não imaginava que mudaria minha resolução quando a visse. Eu estava em meu carro em frente à empresa esperando por Kate quando vi Júlia com as amigas caminhando em direção a um carro. A tal Bela assumiu a direção e a outra foi tomando o banco de trás. Júlia notou meu carro estacionado atrás do Mercury branco e olhou para o local onde eu estava. Ficamos nos fitando, mesmo que uma película escura impedisse que ela me visse nitidamente. Ela entrou no carro e se foi.

Minhas mãos ficaram presas no volante, vacilantes. Para onde ela estaria indo com as outras? A curiosidade ardeu de tal forma que sem perceber eu estava ligando o carro. Com a potência do meu motor foi fácil seguir o carro. Mantive certa distância enquanto o carro a minha frente seguia em velocidade razoável. A princípio não saberia dizer para onde elas estavam indo, mas logo identifiquei para onde elas estavam indo.

"O que elas farão no prédio antigo da Júlia?" eu me perguntei, mas nada me ocorreu.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora