"Eu a acompanhei de longe"

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- Isso não vai acontecer. Leonardo me odeia, não quer nem a minha amizade. Ele não vai voltar atrás, eu sei. - Júlia disse olhando para mim, deixando que eu mantivesse sua mão em meu rosto. Parecia apreciar aquela carícia tanto quanto eu apreciava.

- Mas e se ele voltasse atrás? Se ele dissesse a você que me escolher foi uma grande besteira e tentasse reconquistá-la? - perguntei querendo que ela dissesse algo sobre seus sentimentos. Eu queria que ela dissesse que não ficaria com Leonardo por que queria ficar comigo, por que me amava.

- Eu não vou voltar para ele. Primeiro por que Leonardo não vai voltar atrás e mesmo que ele voltasse, eu não voltaria. - disse. Sorri.

- Por que você não voltaria atrás? - perguntei fechando os olhos e beijando a palma da minha mão.

Essa era a hora para a mesma dizer algo como "eu gosto de você" e eu podia ver em sua feição aquele desconforto por estar acuada. Júlia abriu a boca, diria algo, mas...

- Hei, não pode estacionar aqui! - alguém disse batendo no vidro do meu carro.

Olhei para a direção de onde vinha o barulho e me deparei com um funcionário do bar. Afastei me de Júlia ligando o carro e estacionando em uma rua ao lado do bar.

Quando paramos eu estava preparado para mais um discurso cheio de emoção a fim de sensibiliza-lá . Não tive tempo para nada. Ela já estava desafivelando seu cinto de segurança.

- Eu preciso ir. Eu não vou demorar, pegarei um táxi e irei para casa. Me espere lá. - disse apressada. Logo passou pela porta.

- Eu amo você. - murmurei sabendo que não ouviria, ou fingiria não ouvir. Eu a vi caminhar apressada para o bar desaparecendo na curva da esquina.

Tomado por uma angústia sem precedentes, eu encostei minha cabeça no volante e suspirei. Eu estava tão cansado disso tudo! Eu queria um relacionamento normal.

- "Você precisa ser paciente João Pedro. Dê tempo a ela.”. Preciso ser paciente. Preciso ser paciente. Afinal de contas eu sou o culpado. - murmurei baixinho ainda com a cabeça encostada no volante.

Minha mão foi para a chave ainda na ignição. Eu deveria ir embora para não provocar a ira de uma certa pessoa.

Deveria.

A boa notícia era que Leonardo não estava por lá. A má notícia era que havia dois caras na mesa onde Júlia havia sentado com Izabela. Fiquei sentado no bar quicando no banquinho enquanto via Bela sair para dançar com um cara deixando Júlia sozinha na mesa com um homem.

Mesmo a uma distância grande eu poderia ver o cara desconhecido olhando para a minha esposa de forma imprudente. Para piorar levantou se e sentou ao lado dela.

“FILHO DA PUTA! SE ELE TENTAR ALGO...!".

Eu estava hiperventilando enquanto olhava a cena. Por isso eu não queria que Júlia encontrasse Izabela! A vaca havia armado uma armadilha para ela ficar com um homem!

Para meu alívio a mesma levantou se. Para meu desespero o carinha pegou-à pelo braço. Levantei do banco. Eu iria ensinar aquele sujeitinho! A mesma afastou se claramente incomodada com o homem. Saiu às pressas em direção a multidão. Eu a olhei e fiquei desesperado ao perdê-la de vista.

Porcaria! procurei Júlia com o olhar. Felizmente eu a encontrei num canto falando com Izabela, as duas sentadas.

Não pude ouvir a conversa, mas dava para perceber que era mais uma discussão do que outra coisa. Tentei leitura labial, mas acho que isso não era necessário. Estava claro para mim que Izabela desaprovava a escolha de Júlia e que estava repreendendo-a.

Minha esposa não parecia pensativa, algo que poderia indicar que ela estava repensando sua escolha. Parecia querer apaziguar a fúria de Bela.

Surpreendentemente Izabela, o rosto antes tomado pela fúria, sorriu. Sorrir seria um eufemismo, ela parecia eufórica com algo, talvez Júlia tenha dito algo como "vou ficar com Leonardo entao”...

Se Izabela persuadisse Júlia a me deixar eu seria capaz de esganá-la!

“Júlia Franco não parece ser do tipo que segue fielmente o que dizem a ela, não mais.”.

Fiquei de olho nelas e me surpreendi quando já estavam se despedindo. Foi mais rápido do que Júlia imaginava, mas não rápido para mim.

Ótimo, agora eu tinha que correr. Segui para a saída do bar dando uma olhada para a direção onde Franco estava. Realmente ela estava de saída.

"Se ela me pegar aqui vamos discutir." segui para o meu carro pretendendo sair sem ser detectado, mas minha preocupação com ela me fez permanecer um pouco mais.

Eu a acompanhei de longe, pretendendo ficar de olho até a mesma pegar um táxi. Ninguém estava a vista apesar de não ser tão tarde. Não havia nenhum táxi nas proximidades. Vi Júlia mexer na bolsa, como se estivesse procurando algo, mas desistiu. Ela recostou se na parede do bar olhando para os lados. Quando olhava na minha direção eu me escondia.

Os olhos dela estavam fixos em um ponto da rua, fecharam se instantes depois; o corpo cambaleou ameaçando cair. Eu sabia que Júlia brigaria comigo por ter ficado quando prometi ir embora, mas não poderia permitir que ela se machucasse.

Eu agarrei a garota impedindo que caísse no chão. Júlia passou alguns instantes em meus braços, alheia a tudo, e entao ergueu a cabeça e me olhou.

- Júlia, tudo bem? - eu a firmei no chão, mas me mantive próximo para ampará la caso não conseguisse ficar de pé.

- O que você está fazendo aqui? - perguntou numa voz falha.

Estava tão cansada que nem conseguia me repreender. Bom, então eu não precisaria de uma desculpa bem elaborada.

-O carro não quis pegar, fiquei esperando que ligasse. - menti enquanto eu a puxava para o lugar onde meu carro estava estacionado.

A mesma caminhava trôpega por isso eu mantive meu braço em volta de sua cintura.

- Como se eu fosse acreditar em você... murmurou perdendo o fio da meada do que dizia.

Abri a porta do carro ajudando Júlia a entrar. Afivelei o cinto de segurança ao seu redor e logo mais eu estava no interior do veículo dando partida e a mesma pareceu relaxar no banco, fechou os olhos.

- O carro não estava com problema? Por que o ligou com tanta facilidade? - perguntou. Eu sorri. Ela nã deixava de lado meus vacilos nem mesmo quando estava a beira da inconsciência.

- Tudo bem, eu confesso. Eu fiquei meio receoso de deixá-la aqui então resolvi ficar. Acho que fiz bem. Não há nenhum táxi nas ruas e você nem consegue ficar de pé. - disse, mas ela parecia alheia. Provavelmente não se lembraria que contei a verdade.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora