"Eu não o perdoei."

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Tentei não fazer cara de dor enquanto Mota colocava um band aid no local lesionado, mas foi impossível.

- Deveríamos ir ao médico. Você bateu a cabeça no piso e teve uma concussão. E olha só o galo que ficou na sua testa! - tocou levemente o galo coberto por um band-aid que ele havia acabado de colocar.

- João, não foi algo grave. Felizmente eu amorteci a queda com os braços. Isso não é nada. Um pouco de pomada no local e Tylenol vai resolver.

- Mas amor, não devemos menosprezar o ferimento por menor que seja. E se esse golpe se transformar em um aneurisma ou algo assim? - olhando para minha expressão incrédula e levemente divertida, ele parou com o raciocínio sombrio. - Quer os comprimidos agora? Pego para você. - mudou de assunto.

Mal perguntou e foi saindo de cima da cama. Foi para um de nossas malas, que ainda não haviam sido desfeitas, e pegou o remédio. Eu esperei na cama vendo-o trazer o remédio e logo depois um copo de água da cozinha de nosso quarto. Após ser medicada me aconcheguei na gigantesca cama king size de nosso quarto.

Só agora vislumbrei a opulência do nosso quarto, grande demais para duas pessoas e luxuoso demais para uma pessoa como eu. Mota deitou se ao meu lado cobrindo-nos com o grosso edredom.

- Sabe, acho que você me jogou uma praga por eu não ter cedido no banheiro. Por isso eu caí. - brinquei sendo puxada para os seus braços, algo já corriqueiro para nós dois na hora de dormir.

- Credo amor eu jamais faria isso! Eu sei que a palavra tem poder, não falaria algo para prejudicá-la.

- Não acho que a palavra tenha tanto poder assim. Se fosse por isso você não deveria nem estar entre os vivos. - disse entre risos. Deitei minha cabeça em seu peito e o envolvi com um braço.

- Puxa, você queria tanto assim me prejudicar no passado? - ele perguntou abraçando-me mais apertado. - Eu espero que você não seja daquelas mulheres que, sem mais nem menos, descarregam a raiva no marido com uma faca enquanto dormem.

- Não se preocupe... - murmurei fechando os olhos. - Isso já passou.

- Mas você me perdoou? Pelo que você disse agora a pouco, sobre eu não conseguir administrar o meu casamento... Você não me perdoou, não é?

Eu não sabia o que dizer. Talvez fosse melhor fingir
que havia dormido, mas duvidava que ele engolisse essa. Com um suspiro e sem abrir os olhos, eu optei pela verdade. Eu não conseguia simplesmente mentir. A única vez que menti foi quando fingi não senti nada por ele.

- Eu não o perdoei. - o corpo do mesmo ficou tenso ante minhas palavras. Continuei a falar. - Mas eu escolhi você. No final, é só isso o que importa. Agora vamos dormir. Pensei que João Pedro não diria mais nada naquele momento e a beira da inconsciência eu ouvi com clareza sua resposta ao que eu havia dito.

- Eu vou recuperar a sua confiança, ou morrerei tentando.

E eu sabia que faria isso.

Batidas soavam longe. Eu não conseguia abrir os
olhos, tamanho o cansaço que sentia. Murmurei algo incompreensível para meu marido querendo que ele se levantasse e fosse averiguar o barulho. Para a minha profunda alegria eu o senti se afastar de mim e seguir para fora do quarto. Voltei a me aconchegar na cama desejando poder dormir mais.

Vozes soavam na sala de nossa suíte presidencial, uma era de João e a outra era uma voz feminina familiar, provavelmente Ana Júlia. Os murmúrios duraram apenas alguns instantes e depois cessaram.

Então alguém sentou na cama, próximo a mim, e logo senti dedos acariciarem meu rosto, meus cabelos. Uma voz sedosa, a voz dele, soou próxima ao meu ouvido.

- Amor, nós precisamos acordar. - disse em seu tom amoroso, já familiar para mim. Eu me remexi deitando de bruços na cama e enterrando meu rosto nos travesseiros.

- Me dá mais uns minutos. - pedi num murmúrio débil, mas ele entendeu.

- Não posso. Se não for acordada por mim será acordada por sua cunhada e acredite: não vai querer isso. - levantei a contragosto e meu mau humor só aumentou quando vi o horário. Seis e meia da manhã.

Isso só pode ser brincadeira!

...

- Oi Jú e... Nossa! Que galo enorme é esse na sua testa? O que aconteceu? - Ana perguntou enquanto João e eu nos aproximávamos da mesa em que ela e Pedro estavam sentados.

- Nós tivemos uma noite e tanto! A minha empolgação fez isso com ela. - Mota brincou e eu o acotovelei na costela. Pedro reprimiu uma risada e Ana Júlia olhou com a cara fechada para Seu irmão.

- Vamos tomar café e então iremos às compras. Hoje será o dia de compras. Amanhã e depois de amanhã faremos o que turistas fazem quando viajam. Visitar pontos turísticos, curtir tudo. Você e Pedro podem fazer o que quiser enquanto Any e eu vamos às compras. Ana se sentou ao lado de Seu marido. João me puxou pela mão conduzindo-nos a mesa.

Tomamos um delicioso café e Mota me fez comer o dobro do que eu comeria por saber que passaríamos o dia todo fora. Pelo que ouvi, Anaju e eu faríamos compras o dia todo hoje, só amanhã conheceríamos pontos turísticos e aproveitaríamos o resort. Fiquei temerosa com aquilo, eu não queria passar o dia todo caminhando com sacolas nas mãos. Pensei em dizer a minha cunhada que não precisava de roupas, mas sabia muito bem o que aconteceria caso eu dissesse isso: Ela me rebocaria mesmo assim.

Dito e feito. Mandou Pedro e Mota passearem e me levou a todas as lojas de Miami. Não queria comprar nada para mim, mas ela simplesmente escolheu minhas roupas e comprou quando achou que eu não estava vendo dizendo algo como o quanto era importante renovar o guarda roupa e que isso ajudava a manter o casamento e blá blá blá. Demorou a eu perceber para onde a conversa estava indo.

- Você e meu irmão estão bem. Fico feliz com isso. - ela disse enquanto estávamos em um restaurante, ao nosso lado um monte de sacolas. Meu marido é o dela  estavam zanzando pela cidade assim como nós. mas não conosco.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora