"Eu era seu marido afinal"

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Quando cheguei a casa fui direto para o meu quarto fechando a porta atrás de mim. Suspirei. Antes de sair da fazenda mandei uma mensagem para Leonardo tranquilizando-o e pedindo para que viesse me buscar à tarde.

Ele não demoraria, eu não perderia tempo. Fui direto tomar meu banho, um banho demorado a fim de tirar os vestígios de João Pedro em mim, escolhi roupas bonitas (um vestido de alças azul colado e salto alto preto) e, após pegar meu celular e uma bolsa com alguns pertences,
saí do quarto.

Não sei por quanto tempo eu fiquei me arrumando, mas foi tempo suficiente para Mota tomar um banho e trocar de roupa. Vestia calça jeans preta, uma camisa de mangas branca. Os cabelos mais desalinhados que o normal, úmidos por terem sido lavados recentemente.

Passei por ele. Suspirei quando senti segurar meu braço. A história se repetia.

- Aonde vai? - perguntou. A voz dura, o aperto firme.

Sair com Leonardo, não sei a que horas voltarei. - disse com firmeza. Minhas palavras não foram o suficiente para que ele me soltasse. - Deixe-me ir João. Se você me ama como diz então me deixe ir. - supliquei sem encontrar seus olhos.

Pouco a pouco senti os dedos dele afrouxando e, por fim, sua mão largar meu braço. Não perdi tempo. Saí de casa, saí em direção à entrada do prédio. Por que Leonardo estava me esperando lá, por que eu merecia ser feliz. João Pedro nao poderia me proporcionar uma felicidade completa.

No entanto eu podia sentir uma dúvida crescente em mim. Lembro-me que antes de dormir com Mota essa dúvida não existia. Eu temia o que iria me acontecer agora que essa dúvida residia em mim.

“Vai dar tudo certo." entoei para mim seguindo para a escadaria do prédio enquanto Leonardo me esperava.

Pov's Mota

Eu sempre fui um conquistador nato.

Eu sempre sabia como agir e o que dizer para uma mulher a fim de conquistá la (tradução levá la para a cama), então fiquei surpreso por não saber como interagir com Júlia agora. Era no mínino incomum, após tudo o que aconteceu na noite passada, aquele clima entre nós, como se fossemos dois estranhos.

Ainda sim, em minha mente, as cenas da noite anterior rodopiavam. Sua voz, seu calor, seu cheiro, a textura da sua pele, a visão que tive de seu lindo corpo... Por Deus! Só de pensar em tudo o que aconteceu, sentia uma enorme vontade de estreitar o espaço entre nós e tomá la ali mesmo no carro. Eu não podia.

Júlia estava encolhida na porta estabelecendo o máximo possível de espaço entre nós. Não falava e não me olhava. Queria quebrar aquele clima então liguei o som do carro colocando em um CD que minha irmã me dera com músicas românticas, algo que até entao nunca tinha ouvido.

A garota ao meu lado reagiu mais rápido do que imaginava, desligou o som. Voltou à posição de gazela acuada e não disse mais nada.

- Não gostou do CD que eu coloquei? Posso trocar por outro... - propus.

- Não quero ouvir musica alguma! - disse ríspida. Parecia que Júlia estava se esforçando para ser grosseira.

- Ok. Então vamos contemplar unicamente o silêncio. - disse divertido.

Ela era divertida emburrada. Tentei me concentrar na estrada. Claro que também iria mantê-la falando.

- Você vai adorar a fazenda. É um lugar lindo e oferece muito entretenimento sadio. Minha irmã provavelmente vai mantê-la ocupada o dia inteiro. - disse animadamente.

Lembrei me de quando Franco insistia para ir a fazenda. Não quis pensar muito no passado, pois implicaria em lembrar uma fase em que eu a tratava mal

- Não estou indo para esse lugar para me divertir. Estou indo por que você impôs essa condição. Conversaremos assim que chegarmos lá e eu voltarei para a cidade. - disse autoritária.

Estaquei. Se isso acontecesse a probabilidade
de eu ser chutado seria grande. Eu não poderia encarar uma conversa assim, até porque não estava preparado. Não sabia ainda se contar toda a verdade a Júlia era o melhor, ou se pedir perdão e inventar uma desculpa qualquer era mais adequado.

- Júlia eu prometi que conversaria com você, mas não disse que horas. - eu sabia como ela reagiria as minhas palavras, não seria nada bom. Pude ouvi la bufar.

- COMO ASSIM? JOÃO PEDRO MOTA VOCÊ DISSE QUE...

- É pegar ou largar Júlia! Eu só conversarei ao anoitecer com você. - tentei parecer tranquilo emando na verdade eu estava desesperado

Eu não tinha a menor ideia do que dizer para que Júlia deixasse seu ódio por mim de lado e me escolhesse. Eu queria que, quem sabe, algumas horas fazendo algo para divertí la amainasse sua raiva.

- Por que está fazendo isso João Pedro? O que espera de mim enrolando-me desse jeito? - perguntou.

Claro que ela captou que eu a estava enrolando. Será que o fato de eu enrolar iria apressar nossa conversa? Eu não queria isso, não enquanto eu não tivesse um plano.

- Só quero que você conheça a fazenda. Não é todo dia que se tem tal oportunidade. - disse e esperei que minhas palavras e postura aparentemente tranquila fossem o suficiente para ela. Agora que Júlia me lembrava que eu estava indo na fazenda para termos a conversa definitiva, eu estava mais nervoso que o normal

- João Pedro, para o carro. - Júlia disse subitamente. Eu a encarei.

- O que disse?

- Mandei você parar! Eu preciso ir a uma farmácia! - falou atarantada.

Dei a ré pelo acostamento até retornar a farmácia que havíamos ultrapassado. Não entendi seu ato, mas procurei deixar para lá. Estacionei em uma vaga livre e tão logo o fiz a mesma saiu em disparada. Saí do carro olhando o caminho que eia fez tentando entender o porquê daquela urgência, mas falhando miseravelmente.

Pensei em seguí la, talvez essa fosse uma estratégia dela para fugir. Tal pensamento me fez sair do carro e olhar para o interior do estabelecimento através da porta de vidro. A fazia compras. Não consegui ver o que comprava, mas o fato de vê-la ainda ali me acalmou. Voltei ao carro e a esperei. Logo apareceu com uma garrafa de água nas mãos e algo mais que não pude identificar. Ao entrar em meu carro, a garota retirou um comprimido de uma caixa. Pude olhar o que era a caixa.

- Pílula do dia seguinte. - disse.

- É claro! Caso não se lembre nós dois... - ela estacou. Parecia ter problemas em dizer que fizemos sexo. - Não usamos proteçao. A última coisa que quero agora é engravidar de você. - falou azeda.

Com essa eu tive que me calar. Primeiro porquê com tudo o que aconteceu ontem eu me esqueci de me prevenir. Segundo porquê eu deveria estar feliz por Júlia ter pensado em tomar a pílula do dia seguinte evitando uma possível gravidez, mas não estava.

Por que parecia ser tão ruim ter um filho meu? Eu era seu marido afinal e nós compartilhamos algo especial na noite anterior. Não parecia ser algo natural ter um filho comigo? Ou a idéia de ter um filho com Leonardo, a quem ela conhecia há pouco tempo parecia mais adequado? Mergulhado nessas indagações, ora sendo irracional e hora sendo racional, não falei o restante do caminho.

"The contract" Adaptação MojuOnde histórias criam vida. Descubra agora