Por que eu pedi para que João Pedro ficasse? Simples: por que eu não queria me arrepender pela minha escolha. Eu precisava sentir, ainda que pouco, que João Pedro não me faria sentir arrependimento. Eu precisava dele ao meu lado dizendo que tudo estava bem agora. Eu precisava de certezas, certezas que talvez não viessem.
Mota apareceu em meu campo de visão. Deitou se ao meu lado na cama, de frente para mim. Eu o olhei por alguns segundos e então me encolhi focando minha visão em qualquer outro ponto que não fossem seus olhos castanhos. Ele não ficou tão próximo como eu esperava, na certa me dando espaço.
Mesmo com ele diante de mim, a dor não passou. Meus olhos vertiam lágrimas, turvando minha visão. João Pedro ficou quieto, olhando-me. Eu não o olhei, eu não queria olhar. Impossivel.
Quando eu o fiz, ainda que por alguns instantes, eu vi seus olhos e eu reconheci tristeza, pesar. Será que ele estava sentindo o mesmo que eu, ainda que um pouco? Será que João Pedro sentia um pouco da minha dor, dor esta infligida por ele?
Eu queria que sentisse só assim poderia me compreender um pouco. As imagens de Leonardo vinham me atormentar. Os seus olhos magoados lembraram os meus quando João Pedro começou a me rejeitar após o nosso casamento. Eu tanto o critiquei e fiz algo parecido. Então eu realmente havia me tornado algo parecido a ele, não é? Voltando a olhar ele eu finalmente entendi quem eu odiava: eu me odiava por não deixar de amá-lo.
Senti dedos em minha bochecha esquerda, aquela que não estava colada ao colchão. O passeio dos dedos de João Pedro, secando minhas lágrimas, foi prazeroso. Experimentei olhá-lo e quando o fiz não consegui desviar os olhos.
Enquanto nos olhávamos senti uma conexão se formando, mais forte do que qualquer coisa, como se através do olhar estivéssemos nos comunicando, dizendo para o outro tudo o que ficou pendente, se é que algo ainda estava pendente.
Não contente com a carícia que fazia em meu
rosto com a ponta dos dedos, Mota aproximou-se mais de mim, nossos corpos tão próximos que eu sentia o calor de seu corpo tocando o meu. Ele colocou ambas as mãos em meu rosto, segurando-o gentilmente. Aproximou seu rosto e me beijou na testa, manteve seus lábios lá por algum tempo.Eu me aconcheguei nele todo e pela primeira vez em vários dias senti um conforto em abraçá lo. Enterrei meu rosto em seu peito e seus braços me abraçaram formando uma gaiola de proteção ao meu redor. Aos poucos fui relaxando, minha respiração e pulsação mais tranquilas, até que, por fim, eu adormeci.
O barulho de pássaros cantando me despertou. Vagarosamente abri meus olhos e vi de imediato João Pedro de pé, em meu quarto, sentado em uma cadeira de frente para a cama. Sentei de imediato na cama e sorri para ele. Ele realmente estava lá comigo, ele me amava e faria com que eu não me arrependesse da escolha, pensei. Meu sorriso foi morrendo enquanto eu o via assumir novamente aquela máscara de indiferença e antipatia de outrora. O mesmo levantou-se e caminhou para a porta.
- João? - eu o chamei, minha voz trêmula. - João eu... - Sem nem virar e olhar para mim, João Pedro disse:
- Eu consegui o que eu queria. Derrotei Leonardo. Você não me serve para mais nada agora que o jogo acabou. - falou num tom rude, do João Pedro que tanto me destratou após o casamento. Saiu fechando a porta atrás de si. Fiquei parada, sentada na cama, chocada. Quando o choque passou, levantei me da cama.
- JOÃO PEDRO! NÃO FAÇA ISSO! - gritei abrindo a porta do meu quarto a fim de seguí lo, lágrimas em meus olhos.
Quando eu abri a porta...
Manhã.
Aturdida, levantei me rapidamente. Meu ato impensado de levantar e sair da cama fez com que eu me desequilibrasse e caísse. Olhei em volta. Eu estava em meu quarto, vestindo as mesmas roupas de antes.
"Um sonho. Foi um sonho..." levantei do chão e lentamente sentei em minha cama.
João Pedro não estava à vista, a porta do quarto estava fechada. Embora eu tenha concluído que as imagens que vivi minutos atrás fossem um sonho, ou melhor, um pesadelo, eu senti novamente o desespero do pesadelo.
Mota não estava no quarto, poderia ter ido ao trabalho, para qualquer lugar. E quando eu o encontrasse ele poderia me tratar como um lixo como fizera. O medo tomou conta de mim fazendo um mal estar surgir.
Por reflexo eu olhei o relógio. Quando me toquei do horário e dia, levantei apressada.
- Merda. O trabalho! - murmurei seguindo para o banheiro.
Eu não devia estar muito apresentável, procurei me arrumar com pressa, mas não estava ligando para isso. O mais importante era chegar a tempo o meu trabalho e procurar uma forma de justificar minha falta no dia anterior no RH. Saí do meu quarto em direção a sala de jantar onde o café deveria estar servido. Comeria qualquer coisa e sairia, esse era o meu plano. Ao passar para a sala, eu estaquei.
De pé, segurando uma bandeja com comida, trajando um avental, estava Mota. Ele me olhou surpreso e logo seu rosto foi tomado por uma mistura de felicidade e cautela.
- Oi amor. Eu estava indo levar café da manhã para você - falou numa voz suave, gentil, uma voz que nunca o ouvi produzir até então. Deixou a bandeja em cima da mesa e foi retirando o avental que usava. Notei que estava vestido com terno e gravata, pronto para ir ao escritório, constatei.
- Já que você está de pé então você poderia me acompanhar e tomar o café junto a mim na mesa. - disse deixando o avental em uma cadeira e se aproximando de outra cadeira, afastou-a. Eu continuei a encará-lo como uma idiota. - Sente-se. - pediu com um lindo sorriso nos lábios.
Desviei meu olhar e sentei na cadeira indicada por ele. João Pedro tomou o seu lugar e me serviu algo. Olhei o prato, era um pouco estranho, diferente do que Magdalena ou Eli preparavam.
- Por que estava usando avental? Onde está Magdalena e Eli? - perguntei olhando em volta.
- Magdalena ligou. Eli acordou indisposta e ela me pediu permissão para chegar mais tarde. Eu resolvi dar o dia de folga para elas duas visto que Eli não está bem e Magdalena claramente quer ficar perto da filha cuidando dela. Acha que fiz mal? - O mesmo me olhou especulativo. Olhei para o prato diante de mim.
- Você fez bem. - murmurei pegando o garfo e remexendo a comida.
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"The contract" Adaptação Moju
FanfictionUm plano mirabolante envolvendo uma jovem pura e um ambicioso empresário. Júlia Mara Franco é envolvida em um esquema criado por João Pedro Mota acreditando que o mesmo a ama, mas a realidade é muito diferente disso. Mota precisava casar para poder...